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A volta da "Banheira do Gugu" mostra como o passado deve ficar no passado

Estação NT


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Reprodução

Assistindo nesta quinta-feira (28) ao retorno da “Banheira do Gugu”, quadro de imenso sucesso nos anos 90, quando o apresentador liderava os domingos no SBT, era possível relembrar a cena hilária do filme “De Volta para o Futuro”, na qual o protagonista, vindo de 1985 e perdido na década de 50, faz um alucinante solo de guitarra no baile de formatura dos pais, e diante da plateia assustada, declara que “seus filhos vão adorar isso”.

Entretanto, no caso de Gugu, o choque temporal funciona ao contrário: como reeditar, em pleno 2015, um quadro marcado pelas características da sua época original, quando a televisão brasileira era a arena pela guerra de audiência e, por esse motivo, se encontrava em um verdadeiro vale-tudo?

De garoto prodígio do Ibope nos tempos de “Domingo Legal” a relíquia do passado que tenta recomeçar desde 2009 na Record, Gugu Liberato agora relança antigos quadros para fisgar o telespectador pela memória afetiva. Estratégia que, no caso da “Banheira”, funcionou em partes.

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No lugar dos closes ginecológicos nas participantes de biquíni, que iam de dançarinas de axé a capas da “Playboy”, a nova “Banheira” optou por imagens comportadas nos convidados com currículos igualmente exóticos (uma modelo apresentada como “ex do jogador Adriano”, o vencedor do “BBB 1”, Kleber Bambam, o cantor sertanejo de só uma música e etc.). Os trajes de banho minúsculos deram lugar a tops e bermudas, e o agarra-agarra feroz na disputa pelos sabonetes perdidos na água, se tornou uma refrega constrangida entre participantes de corpos esculpidos por anabolizantes, mais preocupados em fazer caras e bocas para as câmeras.

Afinal, é impossível reproduzir, na Record dominada pelos templos evangélicos, o apelo pop do SBT. Prova maior foram as imagens de arquivo da antiga “Banheira” disfarçando com montagens digitais as imagens de nádegas em fio-dental.

Estava lá a trilha sonora tecno trash “uba uba uba ê”, que virou até toque de celular dos saudosistas, mas nada espantou a sensação de paraíso perdido midiático. Até mesmo Gugu parecia pouco empolgado, sem saber como conduzir o material diante de si. Nada parecido com o apresentador confiante que, à época, monitorava cada movimento do Ibope nos bastidores.

A (re)estreia movimentou as redes sociais - a ponto de alcançar o topo dos “Trending Topics” no Twitter -, porém, gerou certa melancolia nos internautas, ansiosos em reviverem não somente a adolescência com hormônios em fúria, mas também o período em que a economia se estabilizou, os aparelhos de televisão estavam em todas as casas e os programas se tornaram negócios lucrativos, vendendo o combo erotismo disfarçado de entretenimento.

Na atualidade politicamente correta na qual a TV não sabe mais qual é a sua função, a “Banheira do Gugu” parece tão deslocada do tempo quanto o solo de guitarra em “De Volta para o Futuro”.

Veja um resumão de como foi a edição especial da brincadeira:

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Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o assunto há sete anos.

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