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Ivete? Claudinha? Não, o Carnaval de Salvador em 2015 foi de Igor Kannário

Análise especial


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Divulgação

Estou acompanhando o Carnaval de Salvador como jornalista por assim dizer, anualmente, desde 2009. Sempre faço coberturas in loco, mas neste ano, por opção minha, decidi não ir. Voltei a ver por fora, na televisão, e busquei o máximo de relatos possíveis de amigos que cobriram tudo mais de perto.

Antes de dar minha opinião, preciso contar uma história. A história de Igor Kannário. Ele ganhou muita fama na Bahia com a banda A Bronkka, entre 2010 e 2012, principalmente entre as camadas mais populares. Não é a toa que seu apelido é Príncipe do Gueto. Não é exagero. O amor que o povo de favela sente por ele é algo que palavras minhas não podem explicar.

Em 2012, ele acabou saindo da banda e entrou em carreira solo. Porém, sempre deu mais assunto pelas suas polêmicas do que pelas músicas. Kannário já foi preso pelo menos sete vezes, algumas por portar droga - quase sempre maconha -, e uma outra onde foi acusado de agredir uma mulher. Neste ano, a polêmica começou por muita gente não querer que desfilasse com seu trio em Salvador, por acharem que ele faz apologia às drogas em algumas letras. No fim das contas, o prefeito ACM Neto garantiu Kannário e sua pipoca no tradicional circuito do Campo Grande nesta segunda (16).

Fui assistir à passagem pela internet com certa curiosidade. O que eu vi foi uma das passagens mais históricas e, talvez, a mais arrepiante que já tive a oportunidade de assistir de um trio no Carnaval de Salvador, e olha que já vi várias. Não tinha espaço para mais ninguém, a Avenida completamente lotada, com todos pulando e entoando o seu hit "Tudo Nosso, Nada Deles". Inclusive, falando da música: desde o início de Carnaval tenho notado que só ouço essa canção, por onde vou. Bem mais que a tal "Gordinho Gostoso". Vou me surpreender negativamente se Kannário não vencer como música do carnaval baiano.

Bom, mas falando do que acho dele exatamente. Confesso, já conheço Kannário há algum tempo. Não gosto muito das músicas dele, acho um cantor de um potencial enorme. Ele leva o povão, tem muito público, apelo e carisma, mas suas letras algumas vezes fazem mesmo, de fato, apologia.

Gosto do Kannário mais de "Tudo Nosso, Nada Deles": escrachado, cantando o que de fato a favela quer falar para os mais ricos, como na letra de "Sai da Frente que Lá vem a Zorra", onde ele diz que o favelado "não é de baixar a cabeça para ninguém". O que aconteceu nesta segunda no Campo Grande foi histórico, arrepiante, sensacional, algo que talvez meus adjetivos não sejam capazes de explicar.

Até quem não gosta, acabou pulando e entoando o refrão, tamanha foi a energia. Nunca vi nada parecido e ninguém mobilizou tanta gente como ele levou para a rua. (Você pode ver aqui a passagem de Kannário, a partir de 4:19:00)

Ivete Sangalo? Claudia Leitte? "Gordinho Gostoso"? Não. O carnaval baiano de 2015 foi de Igor Kannário. Espero que ele saiba a oportunidade que teve este ano, porque o povo está com ele, afinal, a própria letra diz: "É tudo nosso, nada deles, nada deles, tudo nosso...".


Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, além da coluna “Antenado”, assinada todos os sábados, é responsável pelo “Documento NT” e outras reportagens. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer

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