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Roda o VT: A tal classe C


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Nos últimos tempos, a Globo se esforça para atingir a classe C

O discurso que está na boca dos marketeiros, publicitários, diretores e entendidos de televisão é o da busca à classe C. As emissoras procuram conseguir audiência e consumidores integrantes da classe média ascendente e investem para lançar produtos que agradem a essas pessoas. E isso se reflete com a busca pela linguagem popular nas novelas e nos auditórios.
 
Mas será mesmo que as emissoras de televisão precisam de toda essa preocupação? Nem todo mundo acha que sim. O autor Lauro César Muniz em entrevista ao Estadão de domingo (08), discordou. Disse que as novelas não precisam mudar sua linguagem e suas tramas, porque as pessoas que ingressam na classe C já assistiam os mesmos programas quando eram classificados como classes D ou E. Modestamente, digo que Lauro tem razão.
 
Vamos tomar por base a Globo, que há tempos imemoriais é líder de audiência e mantém esta posição. Suas novelas sempre mostraram disputas entre protagonistas e antagonistas ricas e poderosas, gente e costumes bem distantes da população em geral. Mas, ao mesmo tempo, apresentam personagens suburbanos, tramas paralelas, às vezes mais, às vezes menos importantes do que a trama dos ricaços. E as personagens “do povo” naturalmente foram ganhando mais espaço, tudo, entretanto, variando de acordo com o estilo de cada autor de teledramaturgia. Não é de hoje que Glória Perez dá espaço para seus tipos populares que caem no gosto justamente da classe C.
 
A classe C que também sempre copiou as modas, os bordões, os cortes de cabelo das atrizes. Tanto dos personagens ricos como dos pobretões. O fato de aparecer mais ou menos “gente como a gente” nas novelas não influencia em nada quanto a isso.
 
É errado dizer que a Globo só agora descobriu a classe C. A Globo aposta nas transmissões de futebol, que são consumidas pela classe C. Contratou, em 1989, Faustão, conseguindo conquistar a liderança de audiência aos domingos, que durante os vinte anos anteriores esteve absoluta na mão de Silvio Santos. E antes de trazer Fausto Silva, havia tentado trazer Gugu. Quem assiste Faustão e Gugu, senão majoritariamente a classe C? Quem lotava o Maracanã nos shows de Natal promovidos pela Globo, senão a classe C? O humor do "Zorra Total" não é voltado à classe C?
 
As classes D e E têm na televisão a sua principal diversão e lazer, além de fonte de informação. Ascendendo à classe C, as pessoas mantêm este consumo de TV, mas esta vai perdendo, pouco a pouco, interesse, sendo a TV aberta trocada pela internet, além dos canais por assinatura. E é essa concorrência com outras mídias que vai diluindo a audiência da televisão.
 
Se a porcentagem de aparelhos ligados diminui, relativamente diminui mais a quantidade de televisores que estavam sintonizados na Globo do que nas demais, pois a Globo é a líder. E assim as concorrentes se aproximam dela. Claro que devem ser levados em conta também os programas fracassados da Globo, além dos investimentos maciços da Record que, no entanto, não suplantaram a emissora carioca até o momento.
 
Portanto, é por isso que não me parece que a busca pela classe C resolva muita coisa, não. As emissoras sempre souberam se situar para agradar seus públicos. O SBT, por exemplo, é muito bem resolvido e sabe lidar com esta classe e com as classes D e E. A Globo, com seu “Padrão de Qualidade”, consegue uniformizar sua programação e atingir todas as classes. E mesmo tentando ser mais popular, seja lá o que isso signifique, esse padrão não deve mudar. Talvez as classes A e B é que acabem chiando.

 

Hamilton Kenji é titular dos blogs obaudosilvio.blogspot.com, letrasdotrem.blogspot.com e transcendentes.blogspot.com

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