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Direto da Telinha: "A Vida da Gente", uma grata surpresa que chega ao fim


Logo no final de setembro de 2011, muito se comentava acerca do que estaria por vir na faixa das 18h da Globo. "Cordel Encantado" agradou em cheio aos telespectadores do horário como poucas novelas haviam feito e uma grande expectativa se formou sobre "A Vida da Gente", de Lícia Manzo. 


Cena final de "A Vida da Gente
Divulgação/Globo
 
"A Vida da Gente" estreou e conseguiu o que poucos imaginavam. Embora de forma diferente do que ocorreu com "Cordel Encantado", a novela encerrada nesta sexta-feira (02) cativou os telespectadores de uma outra forma, com uma pegada totalmente oposta da antecessora e se destacou em meio a uma crise de qualidade de texto que outras faixas da Globo vinham sofrendo - e sofrem, como a exagerada e clichê "Fina Estampa" e a imperceptível "Aquele Beijo".

Com 137 capítulos exibidos, "A Vida da Gente", como toda novela, teve seus prós e contras. Entretanto os prós superam - e com vantagem - os contras e provaram mais uma vez que a Globo fez bem em investir em novos autores. Lícia Manzo, que está na emissora há mais de 15 anos, só foi ter sua chance agora mas provou estar preparada para um trabalho difícil que é o de escrever um folhetim. 
 

Ana e Eva em cena gravada na Argentina
Divulgação/Globo

Entre os pontos de qualidade de "A Vida da Gente" está sua história e produção, que trabalharam lado a lado e em harmonia. A história é forte e reproduz uma série de fatos perfeitamente possíveis de se acontecer na vida real. O eixo principal, formado pelos protagonistas, pode ser um pouco fantasioso. Entretanto não é difícil encontrar uma alpinista social como Cristiane (Regiane Alves), um empresário ocupado e que pouca atenção dá à família como Jonas (Paulo Betti), a preferência de uma mãe entre uma filha e outra (Eva, de Ana Beatriz Nogueira, e suas filhas), um casal de idosos que busca viver o melhor possível a idade mas sem esquecer dos problemas que a mesma lhes traz (Iná e Laudelino, de Nicette Bruno e Stenio Garcia)..

Também foi possível perceber que os diálogos foram muito bem escritos e determinados. Houve profundidade em várias cenas que chegam a mexer com o telespectador. A cumplicidade que o texto tinha com quem estava acompanhando de casa chega a fazer com que o público se emocione e esqueça que tudo o que está passando na tela não passa de um produto comercial e que só foi idealizado para que pudesse ser vendido - o que na verdade, mesmo de forma fria e calculista, todos as atrações de TV são.
 

Manu e Rodrigo em cena do primeiro beijo: casal termina a novela junto
Divulgação/Globo
 
A produção também foi bastante caprichada. A fotografia foi muito bem definida, assim como os cenários. As locações dos capítulos iniciais, como as de Porto Alegre, Gramado, Buenos Aires e do sul da Argentina, foram muito bem escolhidas. Neste quesito, o que se pode lamentar é apenas a ausência de gravações da reta final no Rio Grande do Sul. Houve um volume excessivo de cenas externas no estado nos capítulos iniciais e após a exibição deles, todo o material passou a ser gravado no Projac. Claro que esta prática é a mais viável comercialmente, porém acredito que a produção poderia ter trabalhado melhor neste ponto.

O que "A Vida da Gente" deixou a desejar foi em sua estrutura básica. Embora toda a história seja de excelente qualidade, a base não foi das melhores. O próprio João Emanuel Carneiro, de grandes sucessos em seu currículo, é o mais novo autor da faixa das 21h e sofreu do mesmo mal em "A Favorita", por exemplo.
 
Era muito nítido na novela das seis a existência da função do "ouvido" para que a trama se desenvolvesse. Ao todo foram horas e horas de diálogos entre os personagens Rodrigo (Rafael Cardoso) e Lourenço (Leonardo Medeiros), sendo que não se sabia quem era o mais inseguro e impróprio para dar conselhos. As excessivas conversas de Lúcio (Thiago Lacerda) e Celina (Leona Cavalli), as inúmeras confidências de Ana (Fernanda Vasconcellos) e Alice (Sthefany Brito) também chegaram perto do limite do sustentável.
 

Lúcio e Celina em mais uma das diversas cenas de desabafo gravadas no café do hospital
Divulgação/Globo
 

Rodrigo e Lourenço em mais um café: discussões entre indecisos chegou a cansar a novela
Divulgação/Globo

Outro ponto em que a trama deixou a desejar foi na dosagem do drama. Eram raríssimos os momentos de felicidade e alegria verdadeira sem que algo triste viesse a acontecer. De início, acreditava que a ausência de uma vilã de verdade poderia ser o principal ponto prejudicial do texto, porém a ausência de um melhor balanceamento de momentos felizes e tristes foi o que mais deixou a desejar.

Já levando em conta o desfecho e alguns detalhes, pode-se perceber algumas particularidades de Lícia Manzo se manifestando. O final gravado em um jardim é o mesmo de "Tudo Novo de Novo", série escrita por ela em 2009. Alguns nomes de personagens, como Rodrigo e Júlia - esta também como criança -, o apelo para o drama e a dosagem de realidade também são itens presentes nas duas obras.

De toda forma, "A Vida da Gente" fez um bom trabalho. 137 capítulos foram ideais para a exibição da história e é uma boa quantidade para qualquer tipo de folhetim.  Resta saber se a sucessora "Amor Eterno Amor" irá manter o mesmo pique. Considerando o histórico de Elizabeth Jhin, ainda mais em "Escrito nas Estrelas", pode-se apostar que sim.
 
 
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