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"Bang Bang", de Andrea Tonacci


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Reprodução

Quando cursava o último ano (1985) de Publicidade e Propaganda, fui ao cinema assistir o mais badalado filme das últimas décadas: Cidadão Kane.

Chegando ao Cine Clube, senti que havia uma enrolação no ar. O proprietário foi me avisando: A fita não chegou, mas tenho um melhor e que você não conhece. Topei o desafio e fui assistir Bang Bang e não um bangue bangue. Grata surpresa e sem dúvida o filme que mais assisti até hoje: mais de trinta vezes.

Andrea Tonacci roteiriza e dirige esta obra-prima do cinema marginal. Cinema marginal, barato, bem Brasil real, porralouca mesmo, sacaneando com gosto a estética do cinema novo, ironizando a dita contracultura e de embalo a linha dura dos anos 60.

Bem a cara do lema da época: “Já que não podemos fazer nada, a gente se avacalha e se esculhamba tudo”. O velho e bom chutar o pau da barraca.

Narrativa estilhaçada e longos planos sequências que hoje em dia fazem falta.

O filme todo gira em torno de Pereio (Zé povinho?) e sua fuga alucinada de um homem (vestido de mulher) que vive comendo bananas, um playboy com cara de elite dominante e de direita, um cego com um revólver atirando pra todo lado (polícia, repressão?) e um mágico que fazia as pessoas desaparecerem. Lembra algo?

A câmera aparece em cena várias vezes, e daí? Pereio às vezes aparece de macaco (primitivo?) e copula com uma mulher talvez imaginária.

Tudo muito confuso? Sim, talvez seja esta mesmo a ideia de Tonacci. Fazer pensar. Incomodar. Impossível sair do filme sem um estranho incômodo.

O filme acaba? Talvez nunca. Só assistindo mesmo e de quebra acreditar na sua versão. Eu fiz isso mais de trinta vezes e tenho mais de trinta versões. Acredito que Tonacci queria assim.

Sempre é exibido no Canal Brasil e nunca achei em locadora, mas sei que já foi lançada uma caixa com mais filmes do cinema marginal.

Ficha técnica

BANG BANG – ANDREA TONACCI – Brasil, 1975
Cia. produtora: Total Filmes
Produção executiva: Luiz Carlos Pires Fernandes
Direção e roteiro: Andrea Tonacci
Fotografia: Thiago Veloso
Montagem: Roman Stulbach
Cenografia: Andrea Tonacci e Milton Gontijo
Elenco: Paulo César Pereio, Jura Otero, Abraão Farc, Ezequias Marques, José Aurélio Vieira, Antonio Naddeo, Milton Gontijo, Thales Penna


 

Quico Soares Oliveira/47anos é artista plástico, cinéfilo, publicitário e Docente de Graduação nas Disciplinas Direção de Arte, Criação e Produção em TV, Rádio, Cinema, Web e Redes Sociais e antes que perguntem, também acho Cidadão Kane e Fellini 8 e meio os melhores filmes gringos, e Limite – Mário Peixoto e Bang Bang – Andrea Tonacci os melhores Brasucas.

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