Guerra entre Globo e CazéTV expõe Kantar Ibope e flerte com mudança radical
As duas plataformas divulgam números expressivos na cobertura de Paris 2024
Publicado em 14/08/2024 às 04:05
A audiência da transmissão da Olimpíada transformou-se em uma guerra de números entre a Globo e a CazéTV. De um lado, o maior grupo de comunicação do país afirma ter impactado 140 milhões de pessoas; do outro, o canal do YouTube de Casimiro Miguel alega ter atingido 127 milhões nas redes sociais. No entanto, esses resultados são inauditáveis e sem a verificação de um instituto independente. Outro ponto que não é explicado é como evitaram a sobreposição de audiência entre diferentes plataformas.
Para alcançar 140 milhões de brasileiros, a Globo somou a audiência da TV aberta, SporTV, GE e Globoplay durante os 18 dias dos Jogos Olímpicos em Paris. A medição de audiência utilizou a aferição da Kantar Ibope Media para TV linear, assinantes online do Globoplay e dados da Comscore, que mede a audiência dos sites na internet. A Globo deixa claro que seu resultado é deduplicado (ou seja, sem duplicidade).
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Entretanto, não fica claro como foi evitada a sobreposição. Por exemplo, como a métrica fez para garantir que um telespectador da TV Globo que assistiu a uma disputa e acessou o GE para verificar o ranking de medalhas não fosse incluído no total impactado.
A mesma sobreposição pode ter ocorrido com os dados da CazéTV, uma vez que a empresa divulga o total de alcance em seu canal sem detalhar a metodologia utilizada. Ao somar a audiência de diferentes transmissões no YouTube, não há garantia de que os números representem espectadores únicos, o que pode resultar em duplicidade nos dados apresentados.
Os números da Globo e CazéTV
Essa variedade de métricas confunde o mercado na disputa pela verba publicitária, especialmente em um setor onde é cada vez mais comum mensurar o impacto das campanhas por meio de “views” e pessoas alcançadas.
Além disso, a disputa entre Globo e CazéTV evidencia a ausência de um instituto independente capaz de fornecer resultados unificados e confiáveis. O NaTelinha, em contato com profissionais do setor de mídia, tem ouvido fortes críticas quanto à impossibilidade da Kantar Ibope Media de medir entregar esse serviço.
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Por outro lado, há a questão de as emissoras de TV não estarem dispostas a investir mais em um serviço mais completo da Kantar. Enquanto isso, o mercado publicitário precisa confiar nos números apresentados pela Globo e pela CazéTV, mesmo que esses dados sejam baseados em metodologias diferentes e não transparentes.
As 3 maiores audiências do Grupo Globo na Olimpíada, segundo a empresa:
- Futebol Feminino – 71,7 milhões de pessoas
- Ginástica Artística Feminina – 69,8 milhões de pessoas
- Vôlei de Praia Feminino – 64,9 milhões de pessoas
As 3 maiores audiências simultâneas da CazéTV na Olimpíada, segundo a empresa:
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10/08 – 4,8 milhões de pessoas (Final do Futebol Feminino e conquista da medalha de Bronze pela seleção feminina de vôlei
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06/08 – 4,1 milhões de pessoas (Semifinal do futebol entre Brasil X Espanha e jogo entre as seleções masculinas de basquete do Brasil e Estados Unidos)
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01/08 – 3,9 milhões de pessoas (Final do Individual Geral da Ginástica Artística, com a conquista da medalha de Prata por Rebeca Andrade).
Os números de audiência divulgados pelas próprias empresas tornaram-se comuns no mercado com a chegada das big techs e deve ser uma tendência também na televisão, especialmente com a chegada da TV 3.0, quando as emissoras poderão saber exatamente quantas pessoas estão assistindo aos seus programas.
Isso pode significar uma brusca mudança como a Globo, SBT, Record e Band se vendem em busca de publicidade. A questão é como a Kantar Ibope Media se manterá neste cenário. Paris 2024 foi só pontapé.