“Passei muitos anos da minha vida me fazendo muito mal para alcançar essa magreza. Maltratei muito o meu corpo nessa época. Cheguei a desmaiar antes de ir para testes e ensaios de fotos porque eu não comia.”
Letticia Munniz
Publicado em 05/08/2022 às 04:00:00,
atualizado em 05/08/2022 às 08:24:19
“A televisão tem um poder de influenciar. Acredito que tornar os programas de TV mais inclusivos tem uma importância social”, diz Letticia Munniz. Desde o ano passado, a modelo de 32 anos marca presença como assistente de palco no Domingão com Huck, da Globo, auxiliando Luciano Huck nas propagandas dentro da atração – um espaço que, antes, era ocupado apenas por mulheres magras.
Em entrevista ao NaTelinha, Letticia Munniz celebra essa oportunidade, que enxerga como um mais um passo no avanço pela representatividade. “A TV me influenciou desde muito nova e isso está relacionado a tudo que eu passei. Sempre quis ser artista e tudo o que eu via eram pessoas com corpos diferentes do meu.”
“Desde cedo, aprendi que, se eu não fosse daquela forma, não teria sucesso, não conseguiria trabalhar e não seria feliz. Essa pressão estética é ainda mais forte com as mulheres. Com 10 anos de idade, comecei a desenvolver transtornos, como bulimia e compulsão alimentar, porque eu queria ser magra para trabalhar na TV”, revela.
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“Passei muitos anos da minha vida me fazendo muito mal para alcançar essa magreza. Maltratei muito o meu corpo nessa época. Cheguei a desmaiar antes de ir para testes e ensaios de fotos porque eu não comia.”
Letticia Munniz
Estar nos domingos da Globo significa falar a uma audiência de pessoas iguais a ela. “A representatividade ocorre quando a gente se sente aceito e entende que também pode fazer parte. Isso é o que eu tento mostrar com o meu trabalho. Se durante a vida toda tentamos ocupar espaços que não nos cabia, agora esses lugares vão ter os nossos tamanhos. Não somos nós que devemos nos encaixar.”
Desde que estreou no Domingão, Letticia Munniz tem ouvido elogios da equipe. “Não estavam procurando uma pessoa fora do padrão para mostrar que são inclusivos. Estavam procurando um profissional para fazer bem os merchans. Fui escolhida por testes, não por rede social ou pelo meu corpo. Fui chamada pelo meu talento e pela minha competência.”
O reconhecimento vem principalmente de Luciano Huck. “Ele sempre me faz um elogio. Todas as vezes que gravamos juntos, eu nunca errei o texto. Usamos TP [teleprompter, que exibe o texto a ser falado pelos apresentadores], mas é um recurso que pode até atrapalhar mais do que ajudar, se você não estiver preparado.”
Recentemente, ela recebeu a mensagem de uma profissional que trabalhou por oito anos na televisão e deixou a área por conta da pressão estética. “Me ver ali livre, sem cobrança de ninguém, a deixou imensamente feliz”, conta Letticia, que se emociona ao constatar estar fazendo parte de um processo de mudança.
“As oportunidades não existiam para mulheres como eu. O que bate forte no meu peito é que essas mulheres, ao me verem na TV, entendam que os sonhos delas hoje também podem ser reais.”
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Ela não perde de vista que, especialmente nos programas de auditório, a TV tem uma “tradição” de explorar os corpos femininos. Uma realidade que já está mudando, na percepção de Letticia. “Cada dia mais, conseguimos fazer com que nosso corpo não seja visto como objeto. Estou para dar um recado e não para mostrar o meu corpo enquanto eu falo, que era o que a gente via muito na TV.”
Com mais de 750 mil seguidores no Instagram, Letticia Munniz vê sua popularidade nas redes sociais aumentar a cada aparição na Globo. “A TV alcança pessoas que a internet não alcança. Recebo muitas mensagens quando apareço no Domingão. São pessoas mais velhas, mais oprimidas em relação ao corpo, que começam a mudar de pensamento.”
A gordofobia, contudo, ainda é uma realidade. “Recebo muito hate. É uma loucura, especialmente agora que meu trabalho está reverberando em outros lugares, tenho recebido muitos xingamentos. São coisas bem pesadas, mas tenho a sorte de não me afetar. Hoje em dia, sou muito bem resolvida. Eu me amo muito para além do meu corpo.”
“Não é que eu me importo porque eu sou foda, mas porque meu amor por mim e minha autoestima vão além do fisíco. Tenho consciência da mulher que eu sou. Fico com pena dessas pessoas, que devem ser muito infelizes.”
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A vocação para estar em frente às câmeras foi identificada logo na infância. “Criava programas em casa para apresentar. Vim para São Paulo em busca desse sonho. Fui criada pela minha avó, que sempre me falou sobre a importância do estudo. Mudei de cidade não para ser famosa, mas para me aprimorar naquilo que eu queria fazer.”
Egressa de Vitória, no Espírito Santo, onde se formou em Rádio e TV, também fez curso para ser apresentadora e investiu nas aulas de teatro. “Na minha cabeça, eu sempre fui apresentadora. Ser modelo foi algo que surgiu no meio desse caminho. Ser modelo complementa muito esse meu sonho de que as mulheres se sintam parte e se vejam em todos os lugares.”
Além do trabalho na Globo, Letticia apresenta com Gloria Groove o Esquenta TNT, que mostra o tapete vermelho das grandes premiações do universo pop. Nas redes sociais, posta conteúdo voltado para autoestima e respeito à diversidade – ela é assumidamente bissexual.
“Estou focada em conseguir crescer dentro da TV. Seguidores e redes sociais brilham nossos olhos, mas só conseguimos as coisas com talento e dedicação.”
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