Publicado em 05/08/2022 às 13:35:00,
atualizado em 05/08/2022 às 13:55:51
Jô Soares, que morreu nesta sexta-feira (5), aos 84 anos, se tornou o principal entrevistador do Brasil graças a Silvio Santos. É o que aponta o pesquisador de TV e professor Fernando Morgado, em análise para o NaTelinha sobre a trajetória do apresentador e humorista.
"Duas palavras resumem bem o trabalho de Jô Soares: versátil e revolucionário. Versátil porque foi capaz de trabalhar com diferentes artes e teve sucesso em tudo que de propôs a fazer. Revolucionário porque foi um dos responsáveis, juntamente com Chico Anysio (1931-2012) e outros, por criar um estilo genuinamente televisivo de se fazer humor, além de se consagrar como um dos grandes entrevistadores do Brasil", cita Fernando Morgado.
O estudioso lembra que Jô Soares se tornou o principal entrevistador do Brasil graças ao Silvio Santos. "A Globo, onde Jô trabalhava na época, não acreditava que o humorista fosse capaz de assumir um talk show de sucesso. E foi o Silvio que abriu as portas para lançar o Jô Soares Onze e Meia, cujo formato é claramente inspirado nos late shows dos Estados Unidos."
"O Jô Soares Onze e Meia não apenas deu audiência e faturamento para o SBT, como trouxe prestígio para a emissora, que ainda era encarada com certo preconceito pelo mercado. O programa, por exemplo, se transformou no grande palco de debates e entrevistas na TV durante o processo de impeachment do Collor. Além disso, quebrou paradigmas por entrevistas figuras de todas as vertentes e falar de todas as emissoras, algo que a Globo, por exemplo, não permitia naquele tempo."
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A volta de Jô Soares para a Globo, em 2000, também foi marcante, segundo Fernando Morgado. "A primeira entrevista, feita com Roberto Marinho (1904-2003) no jardim da mansão no Cosme Velho, foi uma demonstração de força que Jô deu para aqueles que, no passado, negaram a ele a chance de ter um talk show."
"Acredito que Jô Soares tenha decidido retornar ao canal por duas razões: para aproveitar uma boa proposta financeira e, ao mesmo tempo, dar uma demonstração de vitória diante daqueles que, no passado, lhe negaram a chance de ter um talk show na emissora carioca. Por essas razões, compreendo a volta de Jô para a Globo."
Segundo o pesquisador, Jô Soares alimentava o sonho de ter um talk show desde os anos 1960, quando ainda trabalhava na Record TV. "Jô fez parte da equipe de Silveira Sampaio (1914-1964), o primeiro grande entrevistador da telinha paulistana, que apresentava um programa chamado SS Show. Após a morte repentina do apresentador, Blota Jr. (1920-1999) assumiu o horário, lançando o Blota Jr. Show."
O episódio atrasou a realização do sonho de Jô, que até chegou a comandar um programa de entrevistas chamado Globo Gente, mas sem grande sucesso. Nos anos seguintes, o artista construiria um grande legado para o humor.
"Na Record TV, Jô participou de momentos inesquecíveis, inclusive na Família Trapo. Já na Globo, entre os anos 1970 e 1980, foi um dos responsáveis pela criação de um humor verdadeiramente televisivo, usando mais a linguagem do próprio meio e abandonado alguns recursos herdados do rádio e do teatro de revista."
Morgado ressalta que a melhor fase de Jô Soares como entrevistador foi mesmo no SBT. "O Jô Soares Onze e Meia tinha muito charme. Até os constantes atrasos de horário do programa eram menos criticados. O programa também era melhor divulgado. O SBT lançou um slogan para a atração que, de tão forte, até hoje é recordado pelos telespectadores: 'Não vá pra cama sem ele'."
Fernando Morgado é consultor e professor de televisão, autor dos livros Silvio Santos - A Trajetória do Mito e Comunicadores S.A.
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