Publicado em 24/04/2021 às 11:44:20
Em 25 de abril de 1986 estreava o programa Chico & Caetano, que marcava o reencontro de Chico Buarque com a Globo. O primeiro programa, que foi exibido mensalmente até dezembro daquele ano, contou com o veto da censura à música intitulada Merda, que no jargão teatral é conhecida como boa sorte.
A contratação de Chico pela Globo era tida como impensável nos anos 70, impossível no início da década de 1980 e improvável até 1985. A briga começou realmente nos 70, mas era uma espécie de Guerra Fria. Não se sabe ao certo os motivos dessa histórica inimizade. "Não é preconceito, mas pós-conceito", bradava ele em entrevistas da época, que certa vez disparou que teve experiências que o levaram "a não querer fazer mais nada para ela".
Em 1976, numa entrevista à revista Veja, Chico declarou: "Na época em que mais precisei de dinheiro, em que a censura estava mais brava, eu todo endividado, o pessoal da Globo, ninguém em particular, apenas um porta-voz da máquina Globo de Televisão, disse que eu estava proibido de aparecer em seus programas".
E desafiava: "Porque nunca ninguém se responsabilizou pela proibição, porque a Globo é prepotente, resolvi me afastar voluntariamente de seus programas. Chegaram a dizer que não precisavam de mim. Eu também não preciso dessa máquina desumana, alienante. Então, estamos quites".
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O diretor Daniel Filho, que concebeu a atração, teve papel fundamental nessa reconciliação. "Queremos fazer um programa de boa música, no estilo da série Grandes Nomes. Tudo muito simples, mas de altíssima qualidade", disse o profissional numa entrevista concedida ao Jornal do Brasil em janeiro de 1986.
Com roteiro elaborado por Nelson Motta, Chico & Caetano teve um revés logo na estreia. No final da Ditadura Militar, o programa teve a música Merda censurada pelos militares. Além do uso de uma linguagem considerada imprópria pelas autoridades, a música também fazia referência ao uso de drogas ("Nem a loucura do amor/Da maconha, do pó, do tabaco e do álcool/Vale a loucura do ator").
Chico Buarque e Caetano Veloso seguiram com o programa e viram de perto a fama que Tim Maia (1942-1998) tinha: a de não comparecer aos seus compromissos. Ele não apareceu na gravação previamente agendada e a produção teve que improvisar exibindo os ensaios do cantor.
O musical que era tão esperado para a temporada 86 acabou tendo um final precoce e até frio, como relatou o jornal O Globo em novembro daquele ano. "Fico feliz por ter acabado, pois não pretendo fazer carreira de show na televisão depois desse contrato de um ano. Acho que valeu por ser um programa de música ao vivo e de grande aceitação popular. Não sei se a Globo pretende continuar com um programa de música, gostaria até de ser convidado", comentou Chico ao Jornal do Brasil.
Caetano Veloso, por sua vez, confessou seu alívio ao final do musical: "Além da audiência imensa, e de as crianças na rua me chamarem de Chico e Caetano, acho que valeu. Me lembro de momentos muito bons. Gostei muito também de mim com o Chico e Paulinho da Viola. Nas gravações, o que mais me emocionou foi o Mílton Nascimento com Pena Branca e Xavantinho, dupla caipira. Agora, também quero descansar depois da pré-estreia nacional do meu filme O Cinema Falado".
Chico & Caetano acabou gerando um LP lançado pela Som Livre em 1986 e ganhou reapresentação nas tardes de sábado no verão de 1987. O musical foi vendido ainda para países como Canadá, Cuba, Paraguai e Uruguai.
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