Tem quem ache que o mundo dos atores de televisão é regado de glamour, ego e um afastamento até de certa forma assustador da realidade do público médio da televisão brasileira. Para muita gente, famoso não anda de metrô ou caminha pela Paulista.
Mesmo sendo um fenômeno entre jovens e nas redes sociais - somente no Instagram, são quase 1 milhão de seguidores -, Ana Hikari pega "busão", passeia pela famosa avenida de São Paulo quando dá na telha e ajuda até mesmo amigos que estão se formando em teatro.
Mas mesmo assim, Ana é simples. Este repórter a encontrou numa Starbucks próxima a Avenida Paulista e bateu um papo extremamente franco, tranquilo, mas que teve seus momentos de emoção.
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A vida, como a própria trama que a lançou na TV, tem bons e maus momentos. Nesta conversa, Hikari revela detalhes da agressão que sofreu em 2016. De quando ela virou estatística na cruel realidade machista do Brasil, onde 12 mil mulheres são agredidas por dia.
Eu acordei, eu vi que ele estava se trocando, eu perguntei o que aconteceu e ele começou a me xingar, me chamar de vagabunda, me xingar de todas as coisas possíveis, e ele veio em direção a mim, eu tava na cama, apertou minha cabeça, meu olho, minha unha e pressionou a minha cabeça contra a cama e jogou a minha cabeça.
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Ana Hikari sobre abuso
O papo é extremamente informal, entre amigos. Com muitas revelações jamais ditas, é possível ver uma Ana Hikari que ninguém jamais viu. Afinal, ela é muito mais que uma Tina.
Leia a entrevista na íntegra:
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NaTelinha - Ana, o que você já sabe do spin-off de "Malhação"?
Nota da redação: em 2019, a Globo produzirá um spin-off de "Malhação: Viva a Diferença" chamado "As Fives", com as cinco protagonistas da temporada.
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Ana Hikari - Ai meu Deus, eu sabia que você ia começar com essa pergunta! (risos)
NaTelinha - Eu tenho que começar com o que as pessoas querem saber, depois o que eu quero saber. (risos)
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Ana Hikari - Ai, então... Deixa eu te falar que eu adoraria saber mais pra poder te contar. O pouco que a gente sabe, pediram pra gente não compartilhar, então... Eu não tenho muito o que falar. O máximo que eu posso falar pra vocês é: conversa lá com a Globo que eles vão te contar o que puder.
NaTelinha - Mas eu imagino que você tenha ficado muito feliz. O público ficou feliz.
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Ana Hikari - Ai, tem um carinho muito grande. Eu fiquei sabendo agora a pouco que a gente recebeu um prêmio pela UOL, UOL TV e Famosos, né? Então eu fico muito feliz que tenha esse reconhecimento tão grande e que tá reverberando ainda né?! Porque foram assuntos muito importantes, foram temas muito importantes, que a gente viu que as pessoas estão realmnente empolgadas com isso e tão se importando com isso. Então, pra mim eu estou muito feliz com todas as notícias que estão saindo, inclusive a do spin-off, mas confesso que foi uma surpresa pra mim ter saído a notícia, não estava esperando.
NaTelinha - Ana, eu já vi você em outros papéis, mas teve gente que não viu. Você não teme ser uma atriz de um papel só?
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Ana Hikari - Cara, por enquanto eu não temo isso porque eu me desenvolvi como atriz em diversas áreas. Eu tenho minha carreira no teatro, que eu tenho muita convicção, muito foco nela, estou numa companhia que já tem uma história de quase cinco, seis anos, então eu to muito tranquila porque eu me conheço como atriz. E eu sei que eu não sou, até meus 23 anos, eu não sou só a Tina, pra mim eu sou a Tina, eu sou a Laurência, eu sou a Maria... Eu sou todas as personagens que eu já fiz na minha vida. Então eu tô muito tranquila com isso. O que importa daqui pra gente é eu conseguir mostrar isso pro resto do público, que me conheceu na televisão. E eu tenho oportunidade de, por exemplo, na televisão, exercer outros papeis também, assim como eu consigo fazer no teatro.
NaTelinha - Nas redes sociais, você é um canhão. Qual o ônus e o bônus de ter tanta gente atrás de você?
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Ana Hikari - Eu sempre vejo de maneira positiva essa plataforma, porque uma coisa que eu sempre quis na minha vida era ter uma maneira de dialogar com as pessoas, com as coisas que eu penso, com as coisas que eu acredito que são importantes de se passar adiante. Então sempre que eu vejo essa plataforma, é sempre uma coisa positiva, porque é a possibilidade de eu conversar com as pessoas que às vezes estão precisando de umas certas mensagens, de umas certas reflexões... Por exemplo, na época das eleições, eu senti uma necessidade muito grande de me posicionar, mas eu estava numa situação delicada, porque por questões contratuais eu não poderia muito me posicionar, mas passei por cima, porque achei que ideologicamente, era muito mais importante eu me posicionar, era o momento, naquele momento, e daí eu vi muitas pessoas que me seguiam, deixando de seguir. Muita gente ficaria chateada com isso, e eu não fiquei, porque eu pensei: pelo menos as que ficaram estão lendo o recado e levando esse recado adiante. E mesmo que quem ficou não concorde comigo quem ficou, pelo menos está refletindo, tá vendo uma opinião um pouco diferente. Então eu não me importei com essa perda de seguidores, essa coisa toda que teve depois da eleição. Porque eu acho que o mais importante é a gente levar esse ambiente de diálogo e reflexão e eu acho que essas plataformas são muito mais importantes pra isso, pra mim.
NaTelinha - Vamos falar de momento? Como você vê esse momento pro ator, pra atriz, hoje no Brasil?
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Ana Hikari - Em momentos de crise, a arte é a primeira coisa a ser delimitada né!? Em um país como o Brasil, em que a arte já não é tão valorizada, tanto quanto em muitos outros lugares, é muito complicado. Porque a arte é sempre a primeira a levar a culpa né? É incrível nesses momentos de crise. Então eu acho que a gente tá vivendo um processo muito delicado e de muito risco. Porque ao mesmo tempo que a arte é a primeira a ser retirada, a arte é a primeira coisa que, em tempos de crise, traz a reflexão, desperta alguma coisa de revolucionário, de transgressão. E eu acho que a arte é importante por conta disso. Então quando os artistas estão postando "seremos resistência" é porque a gente é todo dia. E eu sei dessa realidade desde os meus 10 anos de idade, quando eu frequentava os coletivos de arte que eu frequentava sem verba para fazer uma peça, sem verba para fazer uma perfomance, recebendo paulada de polícia para fazer uma performance na rua... Então eu sei que ser artista, a priori, já é ser resistência. Em momento de crise, ser artista, questionando as coisas terríveis que estão acontecendo, é ser mais resistência ainda.
NaTelinha - É. É um movimento muito legítimo. E o que as pessoas brigam é que "os artistas não estavam lá quando o Brasil estava sendo saqueado"...
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Ana Hikari - Nossa, recebi tanta mensagem assim. Falam que mamava na teta da Lei Rouanet... Nunca vi a cor desse dinheiro. Primeira lei de incentivo que eu recebi foi esse ano, pelo PROAC, que a minha companhia recebeu só esse ano depois de cinco anos de companhia. Até então, a gente tirava do nosso bolso as temporadas. E as peças... O Léo (assessor da Ana) assistiu a nossa peça e ele falou: 'Ana, eu quero fazer a assessoria dessa peça porque ela é muito boa!'. São coisas de qualidade que a gente produz. Teatros que a gente vê por aí... Quanto teatro a gente vê por aí lindo, incrível e sem um puto de dinheiro, sem nenhum recurso público, com dinheiro do próprio bolso. E depois, vão falar que artista é vagabundo. Gente, a gente trabalha! Eu ensaio de segunda a sexta, 8 horas por dia. Com peça de teatro. Esse é meu trabalho. Esse sempre foi meu trabalho antes da televisão.
NaTelinha - Televisão foi uma coisa que aconteceu?
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Ana Hikari - Foi uma coisa que aconteceu. E muito por conta desse meu esforço, desse meu trabalho, dentro do teatro, dentro da performance, dentro da faculdade... Lei Rouanet? Gente! Nunca nem vi. O único incentivo que minha companhia recebeu foi do PROAC depois de cinco anos e que corre o risco de ser congelada, entende? Então as pessoas não tem muito conhecimento. Disseminam umas informações pela metade e muita gente acredita.
NaTelinha - Como foi com a sua família?
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Ana Hikari - Na época de eleição, eu conversei muito com meu tio, com a minha família. Boa parte da minha família por parte de pai, que eu tive muito contato na época de eleição, eles são todos negros e boa parte dos meus tios vieram da extrema pobreza. Eram sete irmãos e começavam a trabalhar com sete, oito anos de idade, se não não tinha comida em casa. Essa foi a realidade da famíia do meu pai. Ele começou a trabalhar com 8, 9 anos de idade. Então eles passaram por todo processo, desde a ditadura, até o processo democrático, até a entrada do governo do PT no Brasil. Então, eles tiveram uma consciência, inclusive da questão do racismo no país que fez com que nessa eleição eles não abrissem mão do posicionamento deles contra um presidente que tem declarações abertamente racistas, que tem declarações extremamente homofóbicas e eu tenho uma prima que é homossexual, então... Tem todas essas questões... Minha avó era doméstica, minha tia era doméstica, então declarações que ele dava contra direitos trabalhistas das domésticas... Então isso fez com que a minha família se posicionasse de maneira muito massa. Mas o que que acontece? Rola essa coisa de WhatsApp e o meu tio recebia muita notícia, muita fake news. E aí, ele me mandava. Eu sentei e conversei com ele dois dias quando eu fui pra casa da minha avó. Depois que eu fui embora, toda vez que ele recebia uma notícia, ele me mandava. 'Aninha, mas olha isso aqui...' Daí eu respondia: 'Tio, o senhor já pesquisou sobre isso? Vamos pesquisar junto'. Daí eu mandava o link do Google, mandava link de matéria, mandava link da Wikipédia, e ia explicando. Rolou essa parada da desinformação, de forma geral e aí, deu no que deu.
NaTelinha - Vamos mudar um pouquinho de assunto... Tem glamour na tua vida?
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Ana Hikari - Olha, acho engraçado você perguntar isso porque acho que tem momentos esporádicos assim, quando a gente pra um evento... Mas o meu dia a dia não é glamour. O meu dia a dia, é de trabalho, de pegar busão, de pegar metrô, de ir pra faculdade... As pessoas ficam surpresas, me perguntam no story: "nossa, você pega busão?". Já encontrei pessoas no metrô: "Meu Deus, você tá no metrô? como assim?"(risos) Ué gente, São Paulo. Como que eu vou andar em São Paulo? Transporte público é a solução pra mim em São Paulo. Então o meu dia a dia não é de glamour. O meu dia a dia é da Ana, que sempre fui e continuo sendo.
É muito triste quando uma mulher vira estatística. É mais do que você ser vítima de violência, é você virar um número dentre vários. Como os números de violência contra mulher são gigantes, saber que eu estava somando naqueles números foi um momento de muita tristeza pra mim.
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Ana Hikari
NaTelinha - Vamos falar de um negócio delicado? A gente tá num momento em que estão surgindo várias denúncias contra o João de Deus. Há vários abusos contra mulher, inclusive físico e psicológico, que foi o que você passou. Queria que você contasse isso, de uma forma clara, aberta, de coração aberto. O que aconteceu e quais as providências que você tomou?
Ana Hikari - Eu tinha um relacionamento com uma pessoa, com um cara, a gente tinha namorado um tempo...
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NaTelinha - Quanto tempo, mais ou menos?
Ana Hikari - Ai, nem lembro, mas foi um bom período. E aí, a gente terminou e voltou a se ver, tava numa relação, assim... E aí quando a gente voltou, numa situação em que eu estava dormindo, ele mexeu no meu celular, teve uma crise de ciúmes e no meio da noite ele resolveu ir embora, e eu acordei quando ele tava se trocando pra sair de casa. Na hora que eu acordei... Eu acordei, eu vi que ele estava se trocando, eu perguntei o que aconteceu e ele começou a me xingar, me chamar de vagabunda, me xingar de todas as coisas possíveis, e ele veio em direção a mim, eu tava na cama, apertou minha cabeça, meu olho, minha unha e pressionou a minha cabeça contra a cama e jogou a minha cabeça. Ele saiu do quarto, eu fiquei extremamente atordoada, não estava entendendo muito bem.
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Tinha acabado de ser agredida e eu tava extremamente confusa, e resolvi ir atrás dele pra não deixar ele simplesmente ir embora. Eu não queria que ele me agredisse e saísse andando, sem se explicar, sem nada. Então eu fui atrás dele, ele desceu na porta do prédio, quando a gente chegou na porta do prédio, ele me empurrou contra a porta do prédio, foi nisso que eu machuquei o braço. E aí, lá embaixo, ele continuou me xingando, me empurrando, me empurrou várias vezes, apertou meu braço, me empurrou, eu fui atrás dele ainda, tentei pedir ajuda na rua, eu gritei pra umas pessoas que estavam passando, ninguém parou. Passou carro, tentei pedir ajuda, chamar alguém, tentei ver se a polícia estava por perto, eu não consegui. No final da rua ele me deu um tapa na cara. E aí quando ele fez isso eu não consegui mais ir atrás dele. Eu fiquei parada e ele foi embora.
O que aconteceu depois disso, isso era 1 e pouco da manhã, foi que eu voltei pra casa e fiquei colocando gelo no olho e me culpando por tudo ter acontecido, pensando porque eu permiti que aquilo acontecesse, como eu fui idiota, me culpando de várias maneiras por aquilo ter acontecido.
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Eu fiquei pensando... Eu já tinha voltado do meu intercâmbio, e no meu intercâmbio eu li Simone de Bovoir, eu li “O Segundo Sexo” e eu ficava pensando: "cara, olha que louco! Não adiantou eu ler nada. Não adiantou eu ler Djamila Ribeiro, eu ler blogs feministas, eu ler Think Olga, eu ler Simone de Bovoir... Não adiantou nada, por que eu fui agredida do mesmo jeito".
Todo meu conhecimento sobre feminismo não me defendeu da agressividade de um homem. Porque não e o meu conhecimento sobre feminismo que vai me defender. Só no momento em que os homens entenderem que eles não podem agredir uma mulher é que as coisas vão mudar de fato. Mas aí, depois de tudo que me culpei, pensei: "Que merda, não adiantou nada...".
Eu liguei para as minhas amigas e acho que isso que foi o mais importante: eu entender que existem muitas mulheres que estão junto comigo, e acho que o feminismo é sobre isso. E elas me incentivaram a fazer a denúncia. Nós procuramos juntas um grupo de advogadas feministas que dão apoio a vitimas e vão fazer o boletim junto com a vítima, de maneira voluntária e tudo mais. Fui com uma das advogadas, abri um boletim de ocorrência, fui pro IML, fiz exame de corpo de delito, passei por todo aquele processo de ir pra delegacia da mulher, abrir depoimento... Voltei lá inúmeras vezes pra levar testemunha, processo.. E aí, foi isso. Atualmente estamos nesse processo. Teve um primeiro julgamento, uma primeira audiência agora e não foi completa porque faltou uma testemunha e aí foi adiado o final do processo pro começo de fevereiro. E isso tem mais de dois anos. Demorou mais de dois anos pra ter a primeira audiência.
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NaTelinha - Como dói pra você ver amigas, companheiras suas sendo agredidas, sendo que você já foi?
Ana Hikari - Me dói muito. Porque assim, tem dois anos que eu passei por isso, né?! E tanta coisa evoluiu em relação ao feminismo e quanto as mulheres se empoderaram... Mas é sobre isso: a gente ainda tem muito o que dialogar com os homens. Eles precisam entender que o lugar deles não é agredindo, não é submetendo, não é oprimindo... E tem que atender e aceitar que dentro das relações, quando há um jogo de poder e principalmente em relação ao gênero, eles tem que ouvir e ceder. Não dá pra isso continuar acontecendo. Pra isso se repetir. E a gente tem uma batalha muito longa pela frente em relação ao feminismo. Por um lado eu fico feliz que eu, por exemplo, nas minhas plataformas, consegui passar uma mensagem sobre como sair de relacionamentos abusivos. Talvez tem mulheres que já conseguiram sair de relacionamentos abusivos que conseguir sair antes de chegar num extremo que chegou o meu, de ter sido agredida.
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NaTelinha - Me conta a história da síndica?
Ana Hikari - Virei síndica, ué. (risos) Eu não contente com as milhões de coisas que eu tenho pra fazer né.
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NaTelinha - Por que esse cuidado com seu prédio?
Ana Hikari - Na verdade é assim: a gente mora entre estudantes recém-formados, alguns trabalham já lá no apartamento. O Tomás trabalha, a Carol trabalha mas tá se formando agora e uma das meninas é estudante intercambista. E a gente queria um desconto no condomínio. E o nosso condomínio é super pequenininho, super tranquilo, assim de cuidar do prédio... E aí era coisas que eu fazia no teatro... subir, trocar uma lâmpada, pagar conta, a gente controla toda a parte de conta do condomínio, faz as cobranças, compra capacho novo pro prédio, acerto as contas de limpeza do prédio, contrata a pessoa que tem que limpar o prédio, é uma coisa que não tem muito segredo pra esse nosso prédio. Se fosse um prédio maior, talvez fosse mais complicado. Foi super legal. Tá sendo super divertido no fim das contas. E a gente foi eleito democraticamente (risos)
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NaTelinha - Por que teatro?
Ana Hikari - Porque teatro... Acho que amor não explica não né? É uma coisa que vem desde pequena. Sou apaixonada por teatro desde pequena, do tipo que fazia minha mãe me levar na mesma peça todo final de semana, 15 vezes, até acabar a temporada, sabe? E tipo, tem uma peça que chamava "Panos e Lendas", que eu assisti umas 15 vezes quando eu era criança. "Os Saltimbancos" também assisti milhões de vezes quando era criança. Então, todas as peças infantis, eu assistia mil vezes. Eu sou apaixonada por teatro desde criança mesmo. Tanto que eu acho isso uma coisa muito importante, assim, valorizar a ida ao teatro, pra criança, pra adolescente é importante a pra formação. Não para as pessoas, pra todo mundo virar ator, mas pra criar um imaginário, uma coisa lúdica, tem tanta peça boa, que traz tanta reflexões boas sobre o mundo, que eu acho que é importante ir ao teatro. E isso aconteceu comigo desde pequena. E aí depois entrei pra aula de canto, quando vi já estava no teatro, quando vi tinha que me inscrever na FUVEST e eu só conseguia pensar em me inscrever em artes cênicas. E aí não teve jeito: foi artes cênicas e paixão mesmo.
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NaTelinha - E você já se formou?
Ana Hikari - Ainda tô lá. Preciso chegar em casa e fazer matrícula pro TCC. Porque é isso, ano que vem eu faço meu TCC, se tudo der certo, não sei se eu vou conseguir tá em São Paulo ou não, mas vamos ver. Mas é isso, vou tentar.
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NaTelinha - Ana, qual foi a maior alegria e a maior tristeza que você já teve na sua vida?
Ana Hikari - Nossa, não sei. Acho muito difícil de classificar. Eu acho que sou muito nova pra escolher a maior. Mas eu posso dizer um dos momentos mais bonitos da minha vida foi quando eu pulei de asa delta, que foi um momento que eu realizei uma vontade de voar. Porque voar de asa delta é uma sensação literalmente de voo. Sabe quando você sonha que está voando? É uma sensação muito semelhante. E foi o momento que eu percebi, que eu consegui ver na minha frente o quanto a natureza é gigante, incrível, linda, poderosa. E o quanto a gente é assim ó: pequenino perto da natureza, sabe? E mesmo assim, quanto a sua energia é importante para compor aquilo tudo. Então foi um momento bem bonito nesse sentido. E de mais tristeza... não diria de tristeza, mas o momento mais difícil da minha vida, foi esse dia de eu ter feito esse boletim. Porque na hora que eu assinei aqueles boletins de ocorrência, era eu entendendo que eu tinha virado estatística. E é muito triste quando uma mulher vira estatística. É mais do que você ser vítima de violência, é você virar um número dentre vários. Como os números de violência contra mulher são gigantes, saber que eu estava somando naqueles números foi um momento de muita tristeza pra mim. Mas que bom que eu consegui transformar isso. Entender que eu virei estatística me deu força, me deu gás pra não querer que mais nenhuma mulher vire estatística e isso pra mim é uma coisa muito importante. Realmente não quero, não desejo pra nenhuma outra mulher o que eu passei naquele dia. Por isso que eu falo com tanta convicção e posto mesmo, falo pras mulheres: gente, vamos conversar sobre isso, é importante. Porque eu não desejo isso pra nenhuma outra mulher, de verdade.
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NaTelinha - Tem alguma coisa sobre você que ninguém saiba?
Ana Hikari - Algo que ninguém saiba? Eu não bebo! (risos)
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NaTelinha - E você não bebe por quê?
Ana Hikari - Por que, existe uma coisa que é uma pré-disposição genética predominantemente em pessoas de descendência asiática, que é a ausência da enzima que digere o acetaldeído. O acetaldeído é a molécula do álcool e aí quando ela entra no corpo das pessoas que possuem essa enzima, ela se dispersa, e vai pro sangue, a pessoa fica louca e tá tudo certo. Só que quando você não tem, a molécula do acetaldeído, completa no sangue, é um veneno no corpo humano. Faz com que eu fique bêbada com dois dedos de cerveja. Eu fico muito vermelha, muito empolada, quente, com a orelha vermelha, inchada, e às vezes, dependendo da situação.... Tipo, uma vez eu bebi com a Giovanna Grigio (atriz e amiga pessoal de Ana Hikari) na minha casa e meu... a Giovanna viu eu ficar com placas vermelhas pelo corpo inteiro e ela não sabia o que fazer. Ela ficou em pânico, ela não sabia o que fazer comigo. E comecei a passar mal, eu rolava no chão, e ela: "Miga, que que eu faço?" (risos) Foi engraçadíssimo. Fora a parte do desespero, foi engraçado. Mas é isso. Daí por isso que eu não bebo.
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NaTelinha - Beatles, Stones ou alguma outra banda?
Ana Hikari - Beatles, Stones ou alguma outra banda? (Ana fica pensativa por alguns segundos...) Doces Bárbaros!
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NaTelinha - Olha, surpreendente... (risos)
Ana Hikari - Você acha mesmo?
NaTelinha - É, as pessoas não costumam responder Doces Bárbaros (risos)
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Ana Hikari - Ela fica sempre no meu coração. Eu poderia dizer qualquer coisa da MPB... Poderia dizer Milton, por exemplo, poderia dizer Gil, Caetano, Gal ou Betânia. Então porque não Doces Bárbaros, que já inclui os quatro? (risos). Poderia dizer Cartola, Lamartini Babo, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Tribalistas... Eu sou muito MPB. Meu iPod é totalmente MPB.
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