Publicado em 13/12/2020 às 07:03:14
A nova minissérie da Netflix, O Gambito da Rainha, virou um fenômeno mundial em poucos dias depois do lançamento e se transformou em mania de assinantes e da crítica. Considerada a favorita para arrematar prêmios como o Globo de Ouro e o Emmy, a produção chamou a atenção do grande público para o jogo de xadrez, raramente tratado na dramaturgia, mas o que fez dela um sucesso é mesmo o fato de ser um novelão e de ter temas contemporâneos e libertadores.
Normalmente as produções da plataforma de streaming têm conseguido destaque em vários países, inclusive no Brasil e apenas em 2020 O Gambito da Rainha se juntou a séries como Stranger Things e La Casa de Papel, além do filme Enola Holmes. Mas a diferença é que todas as produções parecem terem sido feitas para o sucesso, o que não é o caso da minissérie sobre uma jogadora de xadrez invencível.
Embora a maioria do elenco da minissérie não seja conhecido do grande público brasileiro, acostumado a séries mundialmente famosas e as nossas telenovelas, a escolha parece ter sido pensada a dedo e promoveu um verdadeiro furor com o que se vê em cena.
A começar pela protagonista Anya Taylor-Joy, que parece ter nascido para o papel. Ela dá vida a uma personagem controversa e consegue cativar o público por seu estilo cheio de caras e bocas e que, por vezes provocam emoções dúbias em quem está assistindo, que pode ir do riso ao choro em questão de segundos.
Pode até parecer uma afirmação contraditória, afinal o xadrez costuma ser um jogo monótono para quem está assistindo. Mas em O Gambito da Rainha o que se vê é o oposto. Desde o primeiro episódio, as partidas são mostradas de uma forma raramente vistas na dramaturgia, com agilidade.
Embora o xadrez não seja propriamente protagonista da história, ele serve como pano de fundo e funciona muito bem porque alimenta os dramas reais das personagens. As partidas raramente ocupam muito espaço de arte e conseguem promover angústia do telespectador para acompanhar o desempenho da vitoriosa mocinha.
É evidente que a qualidade estética promovida pela Netflix não pode ser ignorada numa lista de motivos para ver qualquer produção atualmente. A plataforma de streaming costuma investir aos tubos em suas séries - foi assim que transformou The Crown no produto de TV mais caro do mundo.
Na minissérie não é diferente e o público percebe o acabamento e os cuidados detalhes promovidos por um serviço que precisou de muito dinheiro para dar vida àquela história. A Netflix, no entanto, não revelou quanto investiu para cada um dos sete episódios da produção.
Qualquer um ao ler distraidamente o resumo de O Gambito da Rainha, se achará diante de uma produção bem diferente do que se costuma assistir no Brasil. Mas não é bem assim, já que, muito bem amarrada, a minissérie tem todos os elementos de um novelão.
A história é bastante parecida com as microsséries que a Globo fez ao longo desta década, como O Canto da Sereia e Amores Roubados e tem diversas viradas, além de claramente acompanhar a história de uma heroína a que o público rapidamente se encanta.
Atualmente o mundo todo vem discutindo o papel da dramaturgia em pautas progressistas e O Gambito da Rainha não se furta disso. A própria protagonista é uma espécie de referência deste assunto por revelar uma mulher muito a frente do seu tempo e que se sente desajustada por não ser compreendida e, muitas vezes, tratada com preconceito de gênero.
Mas a minissérie vai muito além e discute outros temas, como a força feminina, distúrbios mentais por órfãos e até a dura vida adulta de uma adolescente desajustadas, sem deixar de falar da difícil vida de quem é dependente químico.
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