Em 1985

Primeira edição do "Rock in Rio" teve exibição em horário nobre, mas sem shows ao vivo

Transmissão da Globo chegou a perder para pornochanchada na Record

Ilze Scamparini - Reprodução
Por Redação NT

Publicado em 24/09/2017 às 11:55:48

A sétima edição do “Rock in Rio” termina neste domingo (24). Na televisão aberta, o evento foi escondido nas madrugadas pela Globo, situação bem distinta da ocorrida em 1985, quando aconteceu pela primeira vez o festival.

Naquele ano, a emissora carioca exibiu o evento em horário nobre, mas não chegou a transmitir nenhum show ao vivo, como acontece com alguns cantores nas edições mais recentes.

Em 1985, as transmissões ao vivo não eram comuns na televisão como hoje. Questões técnicas e operacionais, bem como o alto custo do uso de micro-ondas e de canais de satélite faziam os canais pensarem duas vezes antes de usá-los. A Globo, detentora dos direitos de transmissão desde aquela época, optou por mostrar os "melhores momentos" dos shows diariamente.

Com apresentação de Nelson Motta - hoje colunista musical do “Jornal da Globo” - diretamente da Cidade do Rock, o compacto exibia também entrevistas com músicos e breves flashes, conduzidos por nomes como Ilze Scamparini, Glória Maria e Leilane Neubarth.

O evento rendeu liderança isolada para a Globo. Os 11 compactos do “Rock in Rio”, exibidos nos dez dias de evento, renderam média ponderada de 23 pontos. O cálculo foi feito a partir dos dados obtidos pela reportagem do NaTelinha, analisando índices dos relatórios de audiência da Kantar Ibope cedidos ao acervo da Unicamp, com a duração prevista na programação da TV divulgada à época na imprensa.

Você pode conferir a audiência e o horário de exibição de cada compacto no infográfico abaixo. Os dados foram apurados e decupados a partir dos relatórios da Kantar e por verificação de notícias e programação divulgada em jornais, como a Folha de S.Paulo e o Jornal do Brasil.

Importante salientar que nos documentos, em alguns dias apareciam duas exibições diárias para o “Rock in Rio”, mas apenas o primeiro número registrado foi levado em consideração, já que por questões de lógica, eliminação e razoabilidade, batia com as exibições programadas e divulgadas pela emissora aos jornais.

 

Não se sabe quanto valia um ponto na Grande São Paulo (hoje, o ponto vale 70,5 mil domicílios na praça), mas em 1985, a capital paulista tinha uma base de 2,8 milhões de televisores, de acordo com o documento da Kantar. É bom deixar claro que não se pode comparar com exatidão os índices de 1985 com os de 2017. O Brasil mudou bastante nesses 32 anos, seja em rotina, seja na forma com que o público lida com a televisão. Mas, serve de curiosidade.

Primeiro dia

Na sexta-feira, 11 de janeiro de 1985, dia do início do “Rock in Rio”, a Globo exibiu o compacto em duas partes. Primeiro, às 21h20, logo após a novela das 20h “Corpo a Corpo”, de Gilberto Braga. Durante uma hora, a emissora marcou média de 44 pontos. A segunda parte entrou às 23h50, após os jornais locais - o canal carioca cedia dez minutos da grade do fim de noite para a terceira edição do "PraçaTV", que foi extinta em 1989.

Esta segunda exibição chegou a ficar na vice-liderança, perdendo para a RecordTV que exibia a pornochanchada “Lua de Mel e Amedoim” na sessão “Sala Especial” - antes de ser vendida para a Igreja Universal, a emissora mostrava filmes desse gênero, alcançando ótimos índices para seus padrões. Entre 23h45 e 0h, o placar marcava 11 para a Globo e 13 para a RecordTV.

Outros dias

Nos sábados (12 e 19 de janeiro), os compactos foram exibidos, respectivamente, às 23h30 e 23h10, logo após o “Supercine”. No domingo, dia 13, os melhores momentos entraram após o “Fantástico”. De segunda (14) a quinta (17), foi veiculado por volta das 22h, depois da linha de shows. Na sexta, teve longa duração: das 21h20 às 23h, entregando para o “Jornal da Globo”. Por fim, o último dia do evento (domingo, 20 de janeiro), foi transmitido novamente após o “Fantástico”.

A programação tinha suas peculiaridades há 32 anos. A novela das 21h - que ainda se chamava "das 20h" - era exibida às 20h25, com capítulos que duravam, no máximo, uma hora. Ainda não existia a tradicional “Tela Quente” às segundas - o espaço era ocupado pela série americana “O Mestre”. Às quartas, nada de futebol, e sim a série “Trovão Azul”. O “Globo Repórter”, há anos nas sextas-feiras, curiosamente foi exibido na terça e na quinta daquela semana.

Contexto

Ao projeto Memória Globo, Nelson Motta comentou sobre o evento: “Era um sonho que a minha geração teve durante, pelo menos, 20 anos. Durante a ditadura, não podia ter nenhum festival de multidão. Para os militares, não podia juntar meia dúzia de jovens que podia dar confusão”.

O "Rock in Rio" de 1985 aconteceu ao mesmo tempo em que Tancredo Neves era eleito presidente da República.

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