Publicado em 27/01/2021 às 05:03:00
A chegada de diversas plataformas de streaming no Brasil serviu para aquecer o mercado e abrir espaço para roteirista, ao menos é o que defende Maíra Oliveira, atual presidente da ABRA (Associação Brasileira de Autores Roteiristas). Para ela, não há como comparar o momento atual com o que se via anteriormente, quando praticamente apenas a Globo era a responsável por produção de dramaturgia na TV do país.
Em conversa exclusiva com o NaTelinha, a comandante do órgão que representa os autores e roteiristas do país se posiciona favorável à chegada de streamings e deixa claro sua opinião sobre o antigo modelo. "É verdade que a chegada dos players internacionais muda o cenário do audiovisual brasileiro e impacta os diferentes modelos de trabalho, nossa Associação acompanha essas mudanças e acredita que possa dialogar com os players em defesa da autoria e dos roteiristas. No entanto, é inegável que essas mudanças possibilitaram a entrada no mercado - que até então era monopolizado - não apenas de profissionais, mas de produtores e principalmente, de narrativas diversas", afirma.
Em conversa com a reportagem, Maíra discorda quando provocada sobre a teledramaturgia caminhar a passos lentos na comparação com o ritmo de comparação da Globo. "Acreditamos que há na formulação desse cenário desenhado pela pergunta algumas inverdades, sobretudo no que se refere ‘raras’ e ‘passos lentos’. Para isso seria necessário um mapeamento da produção brasileira com esse enfoque considerando formatos para além das novelas", defende e até dá a explicação para a falta de informação sobre o tema. "É comum que a maioria das produções e desenvolvimentos de produtos audiovisuais se deem em caráter de sigilo até o lançamento, portanto é uma quantificação que não pode ser feita sem diálogo direto com as produtoras, canais, players diversos… e principalmente, sem os autores e roteiristas desses produtos".
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A presidente da ABRA lembra que, porém, que há prós e contras quando o assunto e mudança e ela parece acreditar que vento de mudança sopram para o audiovisual brasileiro. "Portanto há, como toda mudança, prós e contras. Nosso histórico de atuação, participação e parcerias com agências públicas como a SPCine e iniciativas como BrLab e Projeto Paradiso pelo fortalecimento de nossa classe, demonstram que nossa Associação tem como finalidade o diálogo, o suporte e acolhimento ao profissional roteirista, e sempre que necessário de modo mais próximo e incisivo, ainda que nossa natureza não seja regulatório", defende.
Recente reportagem do NaTelinha mostrou como a Netflix está perdendo contrato com grandes autores por impor a chamada sala de roteiros - quando diversos autores dividem a responsabilidade sobre um tema e a decisão final fica na mão da produtora - e a ABRA discordou da matéria. Na entrevista, a presidente da entidade deixou claro a posição.
"A matéria afirma ter ouvido apenas ‘novelistas’ - uma das nossas muitas atuações - e acreditamos que todos temos a ganhar com uma pluralidade de vozes e olhares sobre o assunto. A reportagem traz também apenas uma visão negativa das salas de roteiro, quando na verdade, esse é um modelo de trabalho que tem, como outros, vantagens e desvantagens. Prezamos pela transparência contratual, como pelo estabelecimento de relações de trabalho salutares, em que os talentos sejam respeitados em seus direitos autorais trabalhistas contratuais e referentes à legislação vigente no país. Havendo respeito a esses direitos e transparência cabe apenas aos contratados e contratantes definir os modelos de trabalho", critica.
Ainda que a reportagem não tenha emitido opinião sobre o tema, Maíra defende que a classe precisa ser tratada de forma igual. "Como dito, nosso objetivo é unir a classe, não dividi-la, e oferecer suporte e acolhimento aos profissionais de roteiro para que suas relações de trabalho e criação sejam transparentes e justas", garante.
Mesmo que novelistas já tenham se posicionado contrários ao modelo de sala de roteiros, a associação segue em defesa do modelo. "Salas de roteiros possibilitam a emergência de pluralidades de vozes e a construção de narrativas igualmente diversas, tal qual a realidade brasileira, no entanto isso não é uma regra. É fundamental que a democracia seja um pacto, tal qual o é na nossa sociedade, entre todas as pessoas envolvidas. E não é interessante para nenhuma dessas partes que se faça uma divisão excludente entre democracia e qualidade, ou entre democracia e experiência. Os sucessos nacionais recentes nos streamings contaram com a colaboração entre profissionais com experiências diversas, o que pode ser traduzido em números e na crescente parceria desses mesmos canais com os talentos contratados", explica Maíra.
Apesar que este não seja o pensamento de novelistas de sucesso, Maíra lembra que é possível conciliar a experiência deles com a democracia da sala de roteiro. "Democratização não é oposto à qualidade e experiência, tampouco podemos dizer que há alguma experiência que se sobreponha a outras. É comum que roteiristas estreantes tenham uma longa experiência no Teatro ou Literatura, sem prejuízo no trânsito entre as escritas", defende.
E ela questiona a informação de que há uma crise de repercussão de produtos do streaming, no que ela chama de especulação. "A especulação sobre uma suposta crise não se reflete na excelente repercussão de: “Tudo bem Natal que vem” (roteiro de Paulo Cursino), “Bom dia, Verônica” (roteiros de Raphael Montes, Ilana Casoy, Gustavo Bragança, Davi Kolb e Carol Garcia), “Modo Avião” (roteiro de Alice Name-Bomtempo e Renato Fagundes, o filme de língua não inglesa mais assistido na Netflix, segundo a revista Variety), “Pai em dobro” (roteiro de Thalita Rebouças, Renato Fagundes, Marcelo Andrade e João Paulo Horta), “Sintonia” (roteiro de Guilherme Quintella, Duda de Almeida e Thays Berbe)... apenas para citar alguns casos de sucesso recentes", diz sem, no entanto, lembrar que nenhuma série nacional apareceu no Top 10 da Netflix e que o número de assinantes da plataforma não atinge sequer a audiência diária de Malhação no paí.
Embora a entrevista tenha sido motivada por conta da reportagem sobre a crise da Netflix pela sala de roteiros, a presidente da Associação também defende outros modelos como eficazes. "Como dissemos, o mundo e o mercado brasileiro trabalham com diversos modelos, nenhum é melhor do que o outro, cabe aos players e às pessoas roteiristas decidirem juntos o melhor para o projeto demandado. Também conforme destacamos, nossa gestão planeja ampliar o diálogo com players para que as relações sejam salutares e construtivas", filosofa.
"Como disse, não há distinção na nossa Associação entre as pessoas associadas, e toda discussão ganha com diversidade de opiniões, portanto entendemos que não há um perfil que possa sozinho dizer o que é melhor para realidade brasileira, pois esta é plural", insiste ela antes de voltar a defender a sala de roteiro. "Como dito, o modelo de sala de roteiro traz benefícios ainda que não seja isento de críticas. Nossa Associação acredita fortemente que estamos em um momento histórico e político em que a diversidade é a chave da inovação (além da inclusão, obviamente) e que modelos de trabalho que não considerem a(s) realidade(s) brasileira(s) não contribuem para essa virada. A sala de roteiro, além de ser o modelo praticado nas indústrias cinematográficas do mundo todo, é um modelo que possibilita a diversidade e democratiza o acesso a esse mercado de trabalho, justamente pelo seu caráter coletivo. No entanto, trabalhar coletivamente não é sinônimo de anarquia e, por isso, temos a confiança de que os players em conjunto com os talentos conseguirão chegar num melhor formato de sala - quando assim optarem - e que respeite todos os direitos profissionais. E nossa Associação se coloca à disposição para o diálogo com as duas partes para contribuir nesse processo", garante.
A Associação Brasileira dos Autores Roteiristas conta com quase 700 roteiristas, entre ele nomes consagrados como Aguinaldo Silva, Gloria Perez e Walcyr Carrasco, mas a atual diretoria não conta com nenhum novelista consagrado entre seus principais membros, apenas Thelma Guedes no papel de Conselheira Consultiva. Questionada sobre os membros novelistas, a presidente sai pela tangente.
"A associação à ABRA é livre e não faz distinção a partir do vínculo empregatício dos profissionais. Podem existir, de fato, demandas e reivindicações específicas de pessoas que atuam em novelas, podcasts, séries, ou relativas apenas a determinados players do mercado. No entanto, nosso propósito maior é representar todas as pessoas autoras roteiristas, defender seus direitos e fortalecer a classe. Nossa maior preocupação é o que nos conecta, como a defesa da liberdade de expressão, por exemplo. Nossa lista de pessoas associadas é aberta para consulta nos nossos canais oficiais de comunicação", explica.
E sobre a função da entidade, Maíra é bastante enfática ao dizer que "a Associação Brasileira de Autores Roteiristas nasceu a partir da união das Associações de Roteiristas de TV (AR-TV) e Autores de Cinema (AC) como meio de fortalecimento da pessoa autora roteirista em suas diferentes frentes de atuação e interesse, em diálogo com sociedade, mercado e o poder público. Hoje somos quase de 700 pessoas associadas em todo território nacional, sendo a maior associação de profissionais do Audiovisual Brasileiro. Nossa diretoria segue os passos dos fundadores com o mesmo propósito, atendendo e acolhendo todos profissionais do roteiro que queiram associar-se e partilhar conosco esse mesmo propósito", conta.
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