“O espetáculo nasce de uma carta póstuma que escrevi a ele quando entendi o quanto dele existe na mulher que sou hoje. Essa carta, esse pedido de perdão, é uma forma de reviver esse homem tão importante para a cultura neste país.”
Publicado em 08/07/2022 às 05:30:00,
atualizado em 08/07/2022 às 10:21:30
Quase 20 anos após saírem de cena, Jorge Laffond e sua Vera Verão estão de volta aos palcos. Em homenagem ao artista, vítima em 2003 de problemas cardiorrespiratórios, aos 51 anos, e à personagem a que ele deu vida em A Praça é Nossa, o espetáculo Jorge pra sempre Verão fica em cartaz até 24 de julho no Rio de Janeiro.
Na peça, os atores Alexandre Mitre, Aretha Sadick e Noemia Oliveira interpretam, respectivamente, Jorge Laffond, Vera Verão e a Prima. O texto foi escrito pela prima de Laffond e produtora do espetáculo Aline Mohamad, autora do texto com Diego do Subúrbio. A direção é de Rodrigo França.
Em entrevista ao NaTelinha, parte da trupe comenta a montagem, permeada por pontos verídicos da trajetória do ator, que era adepto das religiões de matriz africana e foi criado no subúrbio carioca. Com o sucesso na TV, Jorge e Vera se tornaram pioneiros em representatividade.
A distância que manteve com Laffond foi o mote da peça, segundo Aline Mohamad. “Não houve relação [entre nós]. A não-relação, fruto da homofobia, não permitiu que eu conhecesse meu primo. Tivemos muitas encruzilhadas, porém nunca o encontro de fato. Realizar esse trabalho me deixou mais próxima dele”, revela.
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“O espetáculo nasce de uma carta póstuma que escrevi a ele quando entendi o quanto dele existe na mulher que sou hoje. Essa carta, esse pedido de perdão, é uma forma de reviver esse homem tão importante para a cultura neste país.”
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O espetáculo nasceu da necessidade de revisitar a trajetória do artista. “Quase 20 anos depois de morto, queremos que o furacão Jorge Laffond/Vera Verão continue passando em nossas vidas, revisitando nossas histórias e nos transformando para que não sejamos mais as pessoas que não desejamos ser.”
Para Rodrigo França, é importante manter viva a memória do artista em 2022. “Temos muitas conquistas a partir do legado do Jorge Laffond. Imagina um homem negro retinto, gay e afeminado, com dois metros de altura, dando ótimas audiências a um programa de TV nos anos 1990!?”, comenta o diretor.
“O que ele criou de fissura na cabeça da família tradicional brasileira possibilitou alguns momentos de reflexão disfarçados de piada. Esse artista era uma potência!”
Rodrigo França
Ele acredita: “Em 2022 a personagem Vera Verão não falaria 'Eu sou uma quase mulher!’. Com certeza, seria ‘Eu sou uma mulher!’. Ter a atriz Aretha Sadick no espetáculo faz todo o sentido. Vera nos anos 1990 gritava por respeito em relação à sua identidade. Vera de 2022 continua gritando, porque avançamos muito pouco”.
Jorge Laffond e sua personagem de maior sucesso sempre foram uma influência para o imaginário de Aretha Sadick. “Quando eu via a Vera Verão na televisão, de alguma forma eu também me via”, conta a atriz, cujas outras únicas referências de negros retintos na TV eram o humorista Mussum e o modelo Sebastian Soul.
“Desses, o Jorge e a Vera eram as figuras com que eu me identificava por conta de uma dissidência de gênero. Eu era chamada de Vera Verão como um xingamento, como muitas de nós, pessoas pretas nascidas e designadas de gênero masculino. Ao mesmo tempo que isso me encantava, eu também me recolhia.”
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Naquela época, Aretha se questionava por que seria ruim a comparação com a personagem de A Praça é Nossa. “Anos depois, consegui ressignificar o contexto histórico e político desse estranhamento ao ser chamada de Vera Verão. Também ressignifiquei essa personagem e pude dizer ‘Sim, eu também sou uma Vera, de alguma maneira’.”
“O Jorge era um homem negro de pele retinta, gay, que representava em cena uma travesti. A Vera Verão era a representação da travesti da praça, que causava confusão, fazia barraco, de navalha na boca”, diz Aretha. Para ela, a personagem foi a primeira grande representação de uma travesti negra na TV brasileira. “Mesmo que com seus estereótipos, que infelizmente condiziam com a realidade dessa população na época”, pontua.
A artista acredita que a realização do próprio espetáculo é um sinal de progresso contra o racismo e a transfobia. “A luta avançou e muito pelas mulheres trans e travestis, que têm alcançado lugares de algum poder e de decisão. Como consequência, quanto mais nós brilhamos, maior a sombra acontece, que é o preconceito, pessoas que não querem aceitar que o mundo já mudou e vai continuar mudando.”
“Vera Verão correu para que eu pudesse andar. Não precisei passar pela prostituição da rua e pude ir direto para as artes muito por trazer comigo a imagem, a força e o significado simbólico dela. O meu trabalho é criar e recriar imaginários sobre pessoas pretas, retintas principalmente, e sobre mulheres trans e travestis no Brasil.”
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