Publicado em 20/01/2021 às 05:35:00
Na próxima quinta-feira (21), quem estiver assistindo Gênesis vai dar de cara com o primeiro assassinato da história da humanidade, segundo a Bíblia. O morto em questão é Abel, papel vivido por Caio Manhente em rápida participação na trama da Record e que já está de volta para a Globo, onde consolidou sua carreira iniciada ainda criança. Politizado, o ator pode até ser novo, apenas 20 anos, mas dá de ombros para a fama e demonstra maturidade para entender seu papel na classe artística, inclusive utilizando suas redes sociais para debates sobre o momento da política nacional.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o artista conhecido por ser um dos protagonistas da primeira geração da série Detetives do Prédio Azul falou sobre a participação em Gênesis, novela bíblica da Record que estreou na última terça-feira (19). Questionado por representar o primeiro assassinado da história, ele explicou a composição de Abel.
"Acho que apesar de esse ser o desfecho da história, o assassinato não interferiu muito na hora de compor o Abel. Toda a construção desse personagem se deu nas relações que o constituíam enquanto pessoa. Com Adão, Eva e Caim. Foi ai que construímos – coletivamente eu diria – a generosidade, a busca pela unidade familiar que são, para mim, as características mais importantes do Abel", lembra.
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E Caio garante que ele e o personagem bíblico são muito diferentes, mas que também houve aprendizado. "Abel me ensinou a necessidade de responder violência com generosidade. Isso é algo que se leva para a vida e pros relacionamentos interpessoais. Mas divergimos categoricamente em um ponto. Abel acreditou piamente que poderia mudar Caim. Já eu, acho que é impossível mudar o outro, por mais que nos esforcemos. Toda mudança e evolução partem de um processo interno", garante.
O ator estreou na Record depois de ter debutado na principal faixa da Globo, às 21h, com O Sétimo Guardião (2018), quando deu vida a Guilherme e ele não se furtou de falar das semelhanças e diferenças das duas obras. "Novelas como O Sétimo Guardião e Gênesis são completamente diferentes. Mesmo porque o texto bíblico – em minha opinião – não se aproxima muito de uma narrativa que traz alguns traços de "misticismo". As pretensões são completamente diferentes. Mais fácil seria apontar as semelhanças: duas grandes produções, com cenários, figurinos e efeitos especiais impressionantes".
Considerado um dos atores mais bonitos de sua geração, Caio rejeita o rótulo e questiona. "É bom começar respondendo que 'um dos atores mais bonitos da sua geração' é bem questionável, vamos combinar!", diz sem constrangimento. Com 245 mil seguidores no Instagram, ele prefere postagens sobre o atual momento político brasileiro que dancinhas de TikTok ou joguinhos, como a maioria de sua idade.
Sobre o assunto, ele explica a opção. "Mas de qualquer forma, o conteúdo que eu posto nas minhas redes sociais é essencialmente de cunho político-social porque é assim que eu me relaciono com o mundo", revela. E mesmo com o país enfrentando um momento delicado, ele reconhece as dificuldades, mas mostra que acredita num futuro melhor. "Eu sou otimista sim, mas só por convicção mesmo, porque o cenário não é dos melhores. Ainda sim, acredito que o Brasil tem jeito. Um Brasil menos desigual, com mais emprego, de maior equidade entre negros e brancos, homens e mulheres é a minha utopia. E as utopias são como o horizonte, servem para que não paremos de caminhar, ainda que nunca as alcancemos".
Mesmo agindo diferente de colegas da mesma faixa etária, Manhente discorda de quem pensa que a classe artística não ocupa o espaço sobre política e, inclusive, mostra divergir sobre o que é artista e o que é famoso.
"Não acho que a classe artística venha se omitindo do seu papel natural de crítica do status quo. O que existe na verdade é uma confusão sobre o que é ser artista. É preciso entender que ser celebridade ou famoso definitivamente não te faz artista. Por outro lado, a recíproca é verdadeira: ser artista não significa necessariamente ser uma celebridade. As redes sociais vieram para embaralhar essas coisas mesmo, até porque democratizaram esse processo. Hoje qualquer um pode adquirir fama – ainda que passageira – só com o Instagram. Agora, isso não significa que ser artista faz alguém mais "digno" de fama, claro que não... O importante é saber separar. Pra ser sincero, mesmo eu que sou ator, raramente me sinto plenamente artista", explica.
O jovem ator tem um currículo extenso para a sua idade desde que apareceu na TV com uma participação em um episódio de Casos e Acasos quando ainda tinha oito anos de idade. De lá para cá já foram cinco novelas, entre elas Viver a Vida (2009) e Boogie Oogie (2014), além de ter rápidas participações em Escrito nas Estrelas (2010), Amor Eterno Amor (2012) e, agora, em Gênesis.
Mas o ator tem dois trabalhos no cinema que chamaram a atenção, o primeiro deles o filme Berenice Procura (2018), quando deu vida a Thiago, um adolescente descobrindo sua sexualidade e Caio aproveitou para falar como esse trabalho acabou funcionando como uma voz em plena campanha eleitoral que elegeu Jair Bolsonaro. "O Tiago, meu personagem em Berenice Procura é um menino que está se descobrindo homossexual, está conhecendo a própria sexualidade. Estrear um filme desses, que tem uma mulher trans dividindo o protagonismo com Claudia Abreu, justamente em 2018, foi especial. De qualquer forma, o Berenice transformou-se em um filme de resistência, de oposição. É desse lado que quero estar sempre, combatendo o preconceito com arte", revela.
Recentemente, ele esteve no elenco de Veneza, filme de Miguel Falabella e que ainda não foi lançado por conta da pandemia do coronavírus. Ao falar sobre o longa, Caio se derrete não apenas com o produtor, mas pelos colegas de elenco. "Trabalhar com o Miguel [Falabella, produtor e diretor] foi um presente enorme. Além de um verdadeiro artista, ele é extremamente generoso, capaz de dividir seu conhecimento e sua genialidade. Veneza aliás é um projeto cheio desses exemplos. Dira [Paes], Du [Moscovis], Carol [Castro]... São todos artistas que admiro e que só me fizeram amadurecer. Espero que em breve possamos estrear, o filme é lindo!", torce.
Mas falar de Caio Manhente sem citar Detetives do Prédio Azul seria impossível, já que o ator tem uma relação umbilical com a franquia mais bem sucedida da década passada na TV brasileira. Questionado sobre isso, ele lembra de sua participação no projeto. "Com certeza. "Detetives do Prédio Azul" virou uma marca, uma franquia gigante. Lá no início ninguém esperava tanto. Gravávamos em um estúdio pequeno, a produção era modesta. Aos poucos a coisa foi dando certo e ganhando fôlego. Hoje, se não me engano, já são três gerações de detetives. É um projeto que eu vi nascer, que fez parte da minha durante muito tempo e pelo qual tenho muito carinho", lembra.
E depois de ter deixado brevemente a Globo, onde construiu sua carreira, para participar de Gênesis na Record, Caio já está na Globo e até levantou muito questionamento desde que mostrou em suas redes sociais seu crachá na emissora carioca e até um camarim nos Estúdios Globo. Ele confirma o retorno e explica que estará na próxima novela das 19h.
"Depois de um ano parado como foi 2020, espero que essa vacina chegue logo e os trabalhos se multipliquem! Não só pros artistas, mas pra todos. Da minha parte, posso dizer que estou começando a gravar a novela Quanto Mais Vida Melhor, que vai ao ar no horário das 19h da Globo. Além disso, que nosso "Veneza" estreie com cinemas cheios ainda esse ano. Vamos torcer!", encerra.
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