Publicado em 16/01/2023 às 20:52:00
A estreia de Vai na Fé, nesta segunda-feira (16) parece ter sido escrita, pensada e produzida dentro do QG de Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral. Seja nos temas escolhidos ou na forma como foi apresentada a igreja evangélica, toda a visão parece progressista. Não se trata de um ponto positivo ou negativo, mas de uma observação. O ponto negativo se deu com a preocupação em apresentar temas e erra feio ao mostrar o mundo gospel de modo completamente equivocado. Ainda assim, ao final do primeiro capítulo ficou um gostinho de que há muito potencial.
A autora Rosane Svartman errou ao seguir um estilo ultrapassado para primeiro capítulo ao ficar apresentando personagens ao invés de fazer a história andar. Quase todos os minutos da estreia se perdeu com o passado da mocinha, muito bem defendida por Sheron Menezzes e com cenas para o público conhecer a família, os amigos e os "irmãos de igreja" dela. Como se isso fosse de suma importância. Não era.
O que interessava ficou para os últimos três minutos. O conflito que vira a vida da mocinha de pernas para o ar - e diga-se, foi também a melhor cena da novela e a única realmente engraçada. Se o pontapé inicial fosse ali e, a partir do convite para ser dançarina de um cantor decadente, Sol mostrasse ao público quem era sua família e como era sua vida, haveria muito mais interesse.
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Dito isso, Vai na Fé teve uma preocupação exagerada em ser progressista. É a evangélica que sustenta a casa porque o marido ficou desempregado na pandemia. É a jovem sonhadora que entrou na faculdade pelo ProUni. É a artista famosa que é convencida a denunciar publicamente o marido após ser agredida fisicamente. Foi tanta militância que a novela parecia pedir o aval do governo Lula para existir e aí ficou chata. Não porque os temas são ruins, porém eles soam falsos quando jogados assim aleatoriamente apenas para lacrar. Novela pode e deve tratar de qualquer tema, só que precisa pensar no conteúdo e estética.
Erro grave, porém, se deu na única cena dentro de uma igreja evangélica. Foram anos até a Globo produzir uma trama em que a mocinha é protestante e o que mais houve foi tempo para pesquisa. Quem irá se identificar ao ver a igreja exibida na produção? Não lembra em nada os salões de periferia em que o mundo gospel vive entre o pentecostal gritado ou o neopentescostal festivo. A autora mirou no evangélico brasileiro e acertou no gospel americano de bairros negros. Bola fora gigante.
Diante da crítica fica a sensação que a estreia de Vai na Fé foi ruim e foi. Mas não se trata de uma produção fraca ou fadada ao fracasso de conteúdo. A reta final do capítulo mostrou que há conflitos que, se bem explorados, podem render sequências importantes.
Com elenco afiado, com destaque para a própria Sheron, além de Carolina Dieckmann e uma direção que brilha o tempo todo pelas mãos de Paulo Silvestrini, Vai na Fé tem potencial, principalmente se a autora compreender que não é uma peça publicitária do governo Lula, mas uma novela.
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