Publicado em 17/08/2024 às 12:46:00,
atualizado em 17/08/2024 às 13:13:39
O dia 17 de agosto de 2024 é marcado por uma notícia temida para aqueles que trabalham com cobertura de televisão: a morte de Silvio Santos. Parece que estou dentro de uma realidade simulada ao ler o que eu acabei de escrever. Parece não fazer sentido. O Homem do Baú nunca mais vai voltar a apresentar um programa de auditório.
Meu primeiro "contato" com o Silvio Santos foi quando era criança, como geralmente acontece - ou acontecia - com todo brasileiro. Os almoços na minha avó aos domingos eram regados aos programas dele. Lembranças das Olimpíadas do Silvão no Hot Hot Hot, a torcida pelos clientes do Baú no Tentação, as adivinhações no Qual é a Música? e a obrigação de assistir o Topa Tudo por Dinheiro para receber dele um desejo de boa semana com a promessa de nos encontrarmos de novo no próximo domingo.
Minha curiosidade por audiência surgiu ainda quando criança, por conta das conversas com Gugu Liberato (1959-2019), outro que também custo a acreditar que também tenha morrido. Por anos a fio, como todos sabem, ele comandou o Domingo Legal no SBT e travava aquela que talvez tenha sido a maior guerra de audiência dominical da história da TV.
Os memoráveis embates entre Gugu e Fausto Silva, na Globo, se tornaram motivos do meu interesse. Quando Silvio ainda dividia tela com Gugu aos domingos à tarde, era um tal de "o Gugu só sobe" ou perguntas do tipo: "tá subindo?", em referência ao Ibope, que eu não entendia. Meus pais também não.
Como ninguém conseguia me explicar, procurei maneiras de tentar me informar. E nada melhor que um jornal impresso para pescar alguma pista do que Silvio e Gugu queriam dizer todo domingo com essa história de subir daqui e dali.
Como tinha uma mercearia ao lado de casa que vendia todos os jornais daquela época, final dos anos 90 e início dos anos 2000, podia sentar ali e ler os exemplares expostos. Não demorei muito pra ter a noção, ali com meus 9 e 10 anos de idade, que se tratava de uma conversa de audiência.
Também tentava entender como Silvio e Gugu dividiam a tela. Um ficava jogando coisas pro outro. Achava aquilo o máximo, mas não conseguia saber qual era o truque exatamente, já que dava pra ver que diante do loiro estava um auditório quando um cantor se apresentava ou naquelas idas e vindas para os comerciais.
Não entendia também como o Silvio não achava chato ficar o dia inteiro esperando Gugu chamá-lo para aparecer. Ficava curioso pra saber qual o truque fazia o dono do SBT mudar de estúdio e roupa tão rápido para apresentar o próximo programa. Ou quando tinha externa do Topa Tudo por Dinheiro tarde da noite, mas estava... de dia.
Coisas óbvias que você descobre com o passar dos anos, mas me faz recordar a magia da TV para uma criança.
Foi quando era criança que vi lançamentos de sucesso como o Show do Milhão e a Casa dos Artistas. Lembro que o game-show era assunto diário no colégio no fim de 1999. Anos mais tarde, devorava os jogos para computador. Não fui participar na TV, mas jogava tanto que gabaritava as questões já que elas se repetiam.
No dia da estreia da Casa dos Artistas, lembro como se fosse ontem do primeiro anúncio depois de um intervalo do Qual é a Música. À noite, Gugu anunciou o programa sem saber exatamente do que se tratava. Estava diante de um programa que mexeria com a TV até os dias de hoje. O Silvio Santos apresentando os confinados e expondo suas malas é uma relíquia e tanto.
Semanas depois, novas divisões de tela com Gugu que marcariam a história.
Também vi lançamentos que prometeram muito, mas não entregaram à altura. O Sete e Meio, alardeado para aqueles que gostaram da Casa dos Artistas e Show do Milhão, foi um tiro de estilingue. Mas eu gostava porque era muito a cara do Silvio. Aquela parte final com a possibilidade de blefe e fazer todo mundo sair sem ganhar um tostão tirava um lado até sádico do dono do SBT.
Não deixei de consumir Silvio Santos quando cresci. Comemorei quando ele retornou aos domingos em 2007 com a "arrancada da vitória" e sabia do que ele era capaz de fazer quando estreou a nova roupagem do seu dominical em junho de 2008. Muitos já davam SS por vencido e de que ele não seria capaz de subir nas cadeiras e jogar aviõezinhos para o auditório. Ele ainda fez isso por anos.
Silvio ainda apresentaria outros programas pontuais como o Roda a Roda, Show do Milhão e o 1 Milhão na Mesa, mas foi no PSS atual, reunindo aquilo que fez de melhor na carreira, que se despediu do público. Infelizmente, vimos sua carreira ser abreviada pelo vírus da Covid-19.
Até dezembro de 2019, ele gravava normalmente seu programa. No verão de 2020, tirava suas férias regulares de três meses quando o mundo mudou em março e a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou pandemia. Silvio Santos nunca mais voltou de verdade.
Ensaiou voltas, até gravou algumas vezes, mas a periodicidade já havia sido perdida. Ao passo que o tempo passava, Silvio Santos começou a dar mostras que não queria mais aquela rotina. Seu desempenho no palco em 2022, quando gravou pela última vez, também não era mais o mesmo. O raciocínio agora se tornara lento e a memória falhava com uma constância que ele não se acostumaria.
Preferiu se retirar sem alarde e não fazer uma despedida. Talvez tenha preferido deixar o público com a boa impressão. Nem mesmo na comemoração dos 60 anos apareceu. Patrícia Abravanel tomou conta do programa e reviveu quadros que fizeram história.
Não deixa de ser nostálgico, mas o programa que Silvio largou já era bem diferente daquele que Patrícia transformou. Dificilmente ele se encaixaria ali. E assim foi.
Silvio Santos deixa um legado inestimável. O homem é insubstituível e pra mim, sempre será o maior comunicador que esse mundo já viu. Sem medo de errar ou exagerar, mas não há registros de alguém que tenha tido tanto esse dom como ele.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto
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