Opinião

Jade Picon é vítima de crise da meia-idade da Globo

Globo erra na estratégia do rejuvenecimento e esquece que é um veículo de massa

Jade Picon não estava preparada para assumir destaque numa novela das nove - Foto: Reprodução/Globo
Por Sandro Nascimento

Publicado em 20/11/2022 às 08:30:00

Expor a imaturidade artística de Jade Picon em Travessia é cruel e a responsabilidade foi da Globo. Em abril, o canal completou 57 anos e enfrenta uma crise da meia- idade. Pela primeira vez, vê sua liderança, como principal fonte de informação e entretenimento no país, ameaçada com o advento e o crescimento das plataformas digitais. Na busca pela jovialidade, erros de estratégia como a de Jade estão surgindo na tela.

A Globo é líder absoluta de audiência na televisão aberta e tem sua qualidade de produção reconhecida nos principais mercados do audiovisual no mundo. E durante toda sua história, novela, principalmente das nove, sempre foi um produto destinado ao público adulto.

Agora cinquentona, a TV Globo se movimenta por acreditar que esse filão também pode ser acompanhado pelo público mais jovem, que predomina a audiência da HBO Max, Netflix e Prime Vídeo. Mas se esquece que audiência das plataformas de streaming são nichos e ela é um veículo de massa.

Quando a Globo produz uma novela buscando um formato e narrativa de série, ela esquece do seu verdadeiro target. Como aconteceu em Um Lugar ao Sol (2021), Cara e Coragem (2022) e Verdades Secretas 2 (2021). Porém, quando produz pensando no seu público, a audiência sempre é alta, como foi A Dona do Pedaço (2019), Bom Sucesso (2019) e, mais recentemente, Pantanal (2022).

Sandro Nascimento

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Jade Picon surge em Travessia como uma nova estratégia da emissora de conversar com o nicho da internet, mas a massa da TV aberta não enxerga valor em Jade Picon. Ela não carrega a força de atrair uma audiência que seja suficiente para tirar Travessia da crise no Ibope.

Sua atuação na novela é sofrível e inserir essa menina, nitidamente despreparada, no principal produto da TV brasileira mostra desconhecimento de televisão de quem escalou. O êxito de uma novela continua dependendo de um bom elenco e uma boa história. A ex-BBB ganha dinheiro com um público específico; a Globo ganha com a massa. 

Estratégia de ter Jade Picon como estrela de um novela das nove foi um erro

Um bastidor da comunicação. Na década de 90, foi feito uma pesquisa para comparar o perfil de audiência das manhãs da Globo com o público da antiga Rádio Globo do Rio, que tinha em seu casting Haroldo de Andrade (1934 - 2008) e Antônio Carlos. Para surpresa dos seus diretores, o perfil de idade era o mesmo.

Isso se explica a origem do fracasso da nova Rádio Globo do Rio, quiseram renovar e qualificar o veículo escalando artistas da Globo. Não existe coisa mais velha e classe C no país. Há o equívoco em afirmar que o SBT é a televisão aberta mais classe C. Ela pode ser em termo de perfil, porém, em termos de volume, não tem nada mais classe C que a Globo.

A queda de audiência das novelas acontece neste momento de crise da meia-idade da emissora, que parece perdida e não saber com quem deve, de fato, conversar. Achar um produto igual ao BBB não é fácil, mas o caminho não passa pelas Jades da internet. Novela boa consegue repercussão orgânica nas redes. Em nome da renovação, a Globo não pode virar a atual Rádio Globo do Rio. Vamos acompanhar os próximos capítulos.



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