Publicado em 14/01/2018 às 08:00:12
“Eu casei com um tigrão que era tigrete". Em "O Outro Lado do Paraíso", o drama de um médico casado, bem sucedido, que não aceita sua homossexualidade e acaba flagrado pela esposa na cama com o amante, foi tratado como um pastelão e inserido num núcleo de humor para não afugentar a audiência mais conservadora. Refletindo assim, o preconceito e a dificuldade de aceitação que a temática GLS ainda enfrenta na teledramaturgia do país.
Sofrendo com uma crise de audiência nas primeiras semanas de exibição, a Globo promoveu discussões internas, que indicaram, dentre outros fatores, que os dilemas do personagem gay Samuel ( Eriberto Leão), até aquele momento tratado de forma dramática, estaria atrapalhando o desempenho no Ibope da trama de Walcyr Carrasco. Rapidamente, a história foi amenizada e ganhou ares de um programa de humor. Logo após as novas diretrizes, a audiência reagiu positivamente, e vem, sucessivamente, batendo recordes no Ibope.
Nos últimos anos, mesmo com significativos avanços, para ter a história de um homossexual retratada no principal produto da televisão brasileira, sem atrapalhar a audiência, é necessário uma contextualização humorística. Podemos relembrar alguns memoráveis: o afetado Crô (Marcelo Serrado) em "Fina Estampa", o bailarino Lulu (Eri Johnson) em “Barriga de Aluguel”, o desmunhecado jornalista Téo Pereira (Paulo Betty) em "Império" e o vilão Félix (Mateus Solano), este aliás, existe uma similaridade com a atual da novela das nove: só após rejeição nos capítulos inicias de "Amor à Vida", enveredou para o viés cômico.
Utilizando de uma fórmula batida, todos esses personagens possuem as mesmas características: gays afetados, usam figurinos extravagantes e sempre inseridos em núcleos de humor. Com essa realidade imposta por alguns diretores, dentro do seu entendimento de televisão, devemos elogiar autores que tentam buscar a representação da diversidade sexual na TV em caminhos que divergem dos antigos rótulos na teledramaturgia.
Em 2005, Glória Perez, mesmo sofrendo críticas com a novela "América", trouxe, sem firulas, a história de amor gay entre o adolescente Júnior (Bruno Gagliasso) e o peão Zeca (Erom Cordeiro). Mas para surpresa do público, a direção da Globo cortou, embora tenha sido gravado, o beijo final entre os personagens.
A mesma autora trouxe no ano passado a abordagem da aceitação do gênero transexual ao principal produto da emissora líder. Em "A Força do Querer", sem tender para o caricato, o público acompanhou o drama e a transformação de Ivana (Carol Duarte) para Ivan.
Gilberto Braga, em "Babilônia", trouxe os conflitos de um relacionamento gay na terceira idade, o casamento de Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg). O beijo entre os personagens, no primeiro capítulo, trouxe tanta celeuma, que foi apontado como um dos grandes responsáveis pelo fracasso da novela.
Em 2014, o SBT, como se autointitula, "a emissora da família brasileira", editou a novela mexicana "Sortilégio", exibida no México em 2009, e transformou um casal gay em melhores amigos e héteros. Na época, a emissora alegou que era para adequar a trama à classificação indicativa para as 16h. O conflitante é que o Ministério da Justiça não veta histórias que possuem relacionamento homossexual, analisa dentro das mesmas regras de um casal hetero.
Diante disso, pergunto: a novela apenas reflete o preconceito da sociedade ou dos diretores "cabeças brancas" da televisão?
Porém, é perceptível a tentativa da Globo de mudar essa ainda retrógada realidade da temática GLS na TV. A novela juvenil "Malhação - Viva a Diferença", de Cao Hamburger, de forma corajosa, trata do namoro entre Lica (Manoela Aliperti) e Samantha (Giovanna Grigio) como uma consequência natural de admiração mútua, além disso, de forma surpreendente, teve exibição do beijo lésbico por voltas das 18h na grade, algo, até então, inconcebível na história da emissora.
Sem pré definições, todas os segmentos da sociedade merecem ser retratados em uma telenovela. Assim como os personagens negros precisam sair de vez da cozinha e da favela, os "Félix", "Crôs" e "Lulus” necessitam abandonar, para a evolução dos temas abordados, os núcleos secundários de humor da dramaturgia. Samuel é apenas uma vítima de um vício ou da falta de liberdade.
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