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O jovem quer TV aberta, mas ela precisa se reinventar para alcançá-lo

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Foto/ilustração

Neste último domingo (11), o NaTelinha, através do colunista Sandro Nascimento, entrevistou o vice-presidente comercial da Record, Walter Zagari.

Uma fala do executivo chamou bastante a atenção. Quando questionado se havia espaço para investimentos em produtos infantis na emissora, foi taxativo: “Por enquanto essa não é a prioridade da Record”.

Exatamente! Não é prioridade da segunda maior emissora do país (empatada com o SBT) investir nos jovens, que garantirão, em alguns anos, sua audiência. Também muito se fala da “fuga de público” da TV aberta mundial, com a ida, cada vez em maior quantidade, para outras mídias, especialmente a internet.

Já nesta segunda-feira (12), no mesmo NaTelinha, uma reportagem de Gabriel Vaquer traz índices curiosos a respeito da relação entre os jovens e a televisão aberta, além de alguns feedbacks do público em relação às emissoras.

Tradicionalmente, o canal jovem do Brasil é o SBT. Desde os anos 80, investe no público infanto-juvenil, traz desenhos, séries e programas que marcaram a infância da maioria das crianças, jovens, “ultrajovens” e adolescentes do país.

Mas as outras sempre permaneceram marginais no que tange a juventude. A Record teve bons momentos, com o programa “Eliana”, “Ed Banana” e outros de pouco sucesso. A Globo teve na "TV Globinho" seu porto seguro e em “Caça Talentos”, “Sítio do Pica-pau Amarelo”, “Bambuluá” e “TV Colosso”, seus expoentes.

Mas a história começou a mudar em 2012, quando o governo passou a olhar com mais cuidado para as publicidades veiculadas em programas infantis.

Já em 2014, a proibição de propagandas que tinham como público-alvo as crianças jogou uma pá de cal nos poucos programas infantis que ainda resistiam aos baques anteriores.

Dizem que o próprio SBT cogitou, à revelia de seu sócio majoritário, proprietário, principal referência e animador, seguir as concorrentes e abdicar de sua programação infantil para dedicar-se a um público adulto, cujas regras publicitárias não fossem tão rígidas e as margens de lucro fossem maiores.

Reza a lenda que, ao saber dos planos, Silvio Santos cortou-o pela raiz, reafirmando que, enquanto houvesse crianças, haveria programação para elas em sua emissora. E os resultados dessa “teimosia” começam a aparecer. O SBT, única emissora que investe no público infanto-juvenil, obteve 21% de sua audiência a partir do mesmo. Globo e Record amargaram pífios 14% e 13%, respectivamente.

Mas o que isso significa? Que o jovem não quer ver TV? Segundo a própria reportagem do NaTelinha, não! Muito pelo contrário.

O que o jovem brasileiro, conectado e informado não quer é deparar-se com programas espreme-sangue dos finais de tarde, com atrações arrastadas que falem de assuntos diversos por minutos a fio, sem movimentação e sem interação.

O jovem do século XXI não quer ver novela, quer se ver nela. O jovem do século XXI não quer assistir a um programa, quer participar dele. E a TV envelheceu! Seus executivos, todos já passados dos 40 anos, continuam caindo no erro primário de enxergar no produto que fazem apenas o público-espelho, que os representa.

A exceção? O SBT! Que fala com a criança pela manhã, com o adolescente pela noite, com o jovem nos fins de semana. O 'velho' “Programa Silvio Santos” tem aceitação incrível entre esse público. O SBT soube, como nenhuma outra, chegar a um perfil carente de atrações. Conversar com essas pessoas e, principalmente, lucrar com elas.

Talvez não tenha merchandisings como o programa da Sônia Abrão, não tenha a quantidade de inserções da novela das 18h da Globo, não tenha a diversidade temática proporcionada pelo “Hoje em Dia”, da Record, mas, certamente, consegue atingir o público ao qual se destina e, com isso, licenciar produtos, vender álbuns de figurinhas, revistas, CDs, DVDs, shows, bonecos, entre outros.

O fato é que o SBT mostra, para quem quiser ver, que o público infanto-juvenil está ali, ávido por consumir a TV aberta, mas esperando por produtos que satisfaçam suas necessidades.

É curioso quando uma jovem, na reportagem do site, fala que "por mais que alguns conteúdos sejam chatos, o YouTube e a Netflix estão bem melhor. Tem séries, conteúdos mais atrativos para nós". Curioso porque mesmo os canais em que as televisões têm se inspirado deixam a desejar quando o assunto é comunicar-se com o jovem brasileiro do século XXI.

É hora de a comunicação sair de dentro da caixa e se reinventar. Ao invés de clonar programas de entrevistas aos montes, estudar uma demanda desconhecida até dos meios mais tecnológicos. A TV aberta tem tudo para chegar primeiro, mas, para isso, precisa deixar a preguiça de lado, mandar formatos enlatados aguardarem na fila e estudar o telespectador.

A TV se acostumou tanto com um público, que passou a achar-se autossuficiente dele. Julga ter seu público esgotado sem saber que ainda nem começou a explorar o seu potencial.
 

Helder Vendramini é formado em Rádio e TV e pesquisa esse meio há vários anos. Aqui no site, busca fazer análises aprofundadas dos mais variados temas que envolvem a nossa telinha.

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