Polêmica

Há 35 anos, abertura de novela da Globo foi parar na Justiça

Há exatamente 35 anos, em 7 de maio de 1990, estreava uma novela da Globo que ficou mais lembrada pela polêmica da abertura do que pela trama em si


Trecho da abertura de Mico Preto
Trecho da abertura de Mico Preto

Há exatamente 35 anos, a Globo arrumou uma grande dor de cabeça ao colocar um simpático macaco-prego na abertura de Mico Preto, novela das sete que estreava em 7 de maio de 1990.

Um grupo de proteção aos animais entregou com uma representação no Ministério Público e a confusão foi parar na Justiça, chamando mais atenção do que a própria novela, que não foi bem na audiência.

Crise

Imagem da thumbnail do vídeo

Mico Preto, de Marcílio Moraes, Leonor Bassères e Euclydes Marinho, era estrelada por nomes como Luis Gustavo, Glória Pires, José Wilker e Miguel Falabella.

A emissora, por sinal, não passava por um bom momento em suas tramas: Rainha da Sucata, às oito, patinava nos primeiros capítulos antes de engrenar, e Gente Fina, às seis, sofria intervenção de Walter George Durst para ganhar mais dinamismo.

Na abertura de Mico Preto, Hans Donner colocou o macaco-prego Chico, criado na casa de uma família em Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro (RJ). O animal, que não participava da trama, já havia aparecido em outras produções da casa, como Os Trapalhões e TV Pirata.

No início de agosto de 1990, dois meses após a estreia da trama, o procurador da República Luiz Alberto David Araújo entrou com uma ação civil pública ambiental contra a Globo. Ele alegou a utilização do macaco-prego na abertura desrespeitava a lei 5.197-67, que regulamentava a proteção à fauna brasileira.

Araújo atendeu uma representação feita junto ao Ministério Público Federal pela sociedade ambientalista Grupo de Proteção ao Boto Tucuxi, presidida por Márcio Augelli.

"Veicular a imagem de um macaquinho de chapéu e colete é uma catástrofe em termos ambientais. E essa lesão toca especialmente as crianças. Para elas, torna-se valor corrente o aprisionamento de animais", declarou o procurador ao Jornal do Brasil de 8 de agosto de 1990.

A ação visava proibir a exibição da abertura, mas não deu certo: o juiz da 20ª Vara Cível, José Luís Gomes da Silva, negou o pedido de liminar. A Folha de S. Paulo de 9 de agosto informou que “o juiz paulista alegou que se fosse concedida a liminar de suspensão ele estaria censurando uma produção artística, o que é proibido por lei. Considera que o artigo 220 da Constituição Federal, sobre censura, prevalece sobre a lei utilizada pelo procurador no pedido de liminar”.

Outro lado

Há 35 anos, abertura de novela da Globo foi parar na Justiça

A Globo alegou que não havia razão para tanta repercussão, já que, segundo a emissora, o animal não podia ser considerado silvestre. "O mico é tratado desde a sua primeira semana de vida sob os cuidados da família Santos, ele não encontraria nas matas tropicais (seu habitat natural) a suculenta macarronada de Dona Lúcia (seu prato predileto), nem a cama com travesseiro e cobertor, já que não conheceu correntes nem gaiolas ao longo de seus três anos de existência", explicou reportagem de Macedo Rodrigues no jornal O Globo de 14 de junho de 1990.

A Folha de S.Paulo vaticinou que quando a novela terminasse o inquérito ainda não teria sido concluído. E foi mesmo o que aconteceu: Mico Preto foi exibida até 1º de dezembro de 1990 e o processo só terminou no ano seguinte.

O Jornal do Brasil de 24 de julho de 1991 informou que Xuxa, Faustão, Malu Mader e Antônio Fagundes, entre outros artistas da emissora, iriam dividir as atenções dos telespectadores com macacos, borboletas, jacarés e tartarugas.

"A emissora foi punida e é obrigada a levar ao ar 30 minutos diários de mensagens a favor da preservação de animais silvestres, divididos em vinhetas de 15 segundos". O acordo não agradou Augelli. "Meia hora é pouco tempo", esbravejou ao jornal.

Como consequência dos problemas judiciais, o então vice-presidente de Operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, advertiu os funcionários, em memorando, sobre as implicações que o uso de animais silvestres nas gravações podia gerar.

Desta forma, uma vinheta da Copa de 1990, que também tinha a participação de um mico, foi tirada do ar.

Mais Notícias

Enviar notícia por e-mail


Compartilhe com um amigo


Reportar erro


Descreva o problema encontrado