Tapa-buraco: menor novela das oito da Globo estreava há 29 anos

A menor novela das oito da história da Globo, na verdade, foi um tapa-buraco. Há exatamente 29 anos, no dia 6 de maio de 1996, a Globo colocava no ar uma minissérie que acabou sendo deslocada, às pressas, para a principal faixa da teledramaturgia da emissora.

Estamos falando de O Fim do Mundo, de Dias Gomes, que teve apenas 35 capítulos e ocupou o espaço entre Explode Coração e O Rei do Gado.

Desculpa esfarrapada?

Ao decidir exibir O Fim do Mundo na faixa das oito, a Globo revelou que pretendia implantar um novo formato de teledramaturgia, com tramas mais curtas. No entanto, isso não passava de uma desculpa para justificar a iniciativa.

O que aconteceu, na realidade, foi que a emissora teve problemas para iniciar a produção de O Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, que seria a substituta de Explode Coração.

Normalmente, como aconteceu em várias oportunidades, o canal simplesmente daria um jeito de esticar a produção que estivesse no ar, mas isso não foi possível com a novela de Glória Perez. Isso porque a autora já havia combinado previamente com a Globo que seria liberada para acompanhar os julgamentos de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, que assassinaram Daniella Perez em 1992.

Em fevereiro de 1996, a emissora surpreendeu ao anunciar que O Fim do Mundo, prevista para ser exibida como minissérie em abril daquele ano, seria a próxima novela das oito.

"O Fim do Mundo chega às telas com uma dupla responsabilidade. Primeiro, recuperar a audiência do horário, um pouco abalada depois de Explode Coração. Segundo, testar a viabilidade de um novo formato, alternativo às novelas tradicionais, com mais de 100 capítulos", destacou reportagem da Folha de S.Paulo.

Apocalipse

A trama, que foi anunciada como uma "supernovela" em apenas 35 capítulos, levantava a seguinte questão: o que você faria se só lhe restasse um dia?

Em Tabacópolis, fictícia cidade do interior baiano, o paranormal Joãozinho de Dagmar (Paulo Betti) faz uma previsão assustadora: o mundo iria acabar em três meses. Para completar, fatos estranhos começam a aparecer, como uma chuva de excrementos, um bezerro com duas cabeças, um terremoto, entre outros fatos.

A população entra em pânico e a cidade se vê em meio ao caos. Tião Socó (José Wilker) violenta Gardênia (Bruna Lombardi), sua cunhada; o diretor do hospício resolve soltar os pacientes, enquanto o delegado abre a cadeia e liberta os presos. Contudo, no dia seguinte, o mundo não acaba e os moradores da cidade precisam arcar com as consequências de seus atos.

Dias depois, Joãozinho faz nova profecia e, desta vez, se vê uma chuva de meteoros no céu e o mundo realmente acaba.

Inovações

O Fim do Mundo inovou nos efeitos especiais. "Pela primeira vez, uma novela usa objetos e animais criados em computador. Foram usados computadores também para criar ondas gigantes e tempestades. Uma maquete de Tabacópolis foi construída para as filmagens do fim do mundo – é nela que caem postes, carros são tragados pela terra, e o céu fica incandescente", informou a matéria da Folha.

A mesma reportagem ressaltou que caso a experiência com O Fim do Mundo desse certo no horário nobre, a emissora deixaria de usar a faixa das 22h40 para minisséries. A intenção da emissora era alternar novelas e mininovelas a partir de 1997. "Com isso, a Globo não deixaria totalmente de lado o formato tradicional de novelas e daria opção aos autores", explicou o texto.

Meses antes, à mesma Folha de S.Paulo, Dias Gomes disse que a mininovela era uma alternativa, vista pela Globo como um produto de luxo, que dá prestígio. "Pode ser que queiram implantar esse novo formato. Afinal, já me encomendaram outra produção", declarou o autor, que falava sobre Dona Flor e seus dois maridos, exibida como minissérie em 1998.

Dessa forma, como é sabido, apesar de O Fim do Mundo ter mantido a audiência do horário, a experiência foi única e descartada em seguida. A produção terminou em 15 de junho de 1996, sendo finalmente sucedida por O Rei do Gado, que teve 209 capítulos.