SBT 41 anos: Astro das pegadinhas conta os segredos das gravações
Apelido de Kan Kan surgiu devido às crises de rinite
Publicado em 19/08/2022 às 04:00,
atualizado em 19/08/2022 às 10:47
Luiz Antônio Schettini, popularmente conhecido como Luiz Kan Kan ou apenas Kan Kan, faz pegadinhas há duas décadas no SBT, mas desde os anos 1980 entrou no meio, ainda no Programa Raul Gil, na Record, e não parou mais. No dia a dia, tenta enxergar qualquer situação que possa ser aproveitada no trabalho e fisgar novas vítimas. "Minha vida é pegadinha", orgulha-se ele ao NaTelinha, e também explica a origem do apelido.
Apesar do sobrenome italiano e que poderia "pegar", Luiz Antônio carrega o Kan Kan desde a adolescência, quando tinha entre 14 e 15 anos de idade. "Nessa época tive uma rinite muito forte, que perdura até hoje, mas está mais amena. E quando tive essa rinite muito forte, quando eu espirrava, é assim: ou você espirra muito, ou você solta mucosa e ela prende, tampa o nariz. Ela soltava a mucosa no meu caso", explica.
"Quando eu espirrava, quem estava na frente tinha que abrir o guarda-chuva. E quando eu ia espirrar era um barulho tipo: Kan! Todo mundo tinha que abrir o guarda-chuva! Espirrava mais de 10 vezes! E quando eu espirrava, o pessoal falava: 'Cuidado que ele vai soltar o Kan. Vai soltar Kan, vai soltar Kan, cuidado com o Kan Kan. E aí virou Kan Kan. Levei pra vida toda, desde quando ingressei no teatro, Jornalismo, perdurou para sempre, e virou meu apelido. E quando me perguntam: Kan Kan é por parte de mãe ou por parte de pai? Eu falo que é por parte de nariz."
Kan Kan sobre a origem do apelido
O começo de Kan Kan na TV e no SBT
Em praticamente metade da existência do SBT, que completa 41 anos nesta sexta-feira (19), Kan Kan está presente protagonizando diversas câmeras escondidas. E tudo começou lá no final dos anos 80, para fazer o Pega Pega do Raul Gil, quando ainda estava na Record. "Criei uma pegadinha que era Os Ensacadores, que a gente colocava uma espécie de camisinha gigante, uma tela, um tecido tipo elastano e a gente ensacava as pessoas, que ficavam se debatendo naquela tela. Era uma dupla chamada Os Bananas. O Raulzinho, que é o filho do Raul Gil, achou sensacional", relembra.
A partir daí, começou a gravar na Record e mudou de emissora com a inauguração da RedeTV!, em 1999. "A RedeTV! me convidou através do programa do João Kléber. Eu era ator e redator, escrevia as pegadinhas. Foi um sucesso! Criei além dos Ensacadores, outra pegadinha que a gente comprava corneta e assustava as pessoas com a corneta e um par de pratos. Aí, o que aconteceu? O Fernando Benini, que estava há muitos anos no SBT, me convidou para participar das câmeras. Comecei a gravar com ele e o Hélio Chiari, que era o diretor. E se passaram 20 anos! O Ivo [Holanda] está há 40, e eu já estou há 20", diz.
"Comecei a fazer câmeras de 'baitola', imitando 'baitola', e aí depois o Jefferson [Cândido, diretor] assistindo a uma câmera francesa do Palhaço da Tortada, um palhaço que dava tortada nas pessoas, chegou e disse: 'Vamos fazer a versão Brasil e quero que você faça o Palhaço. E foi um grande sucesso. E até hoje é um sucesso. E fizemos várias versões. Tem milhões de visualizações."
Há quase 10 anos, em 2013, o ator também destaca outro palhaço que mudou sua vida: a Vovó Mafalda, numa nova versão do Bozo que o SBT tentou emplacar. "Foi uma seleção, e fui escolhido. Entrei para a história fazendo a Vovó Mafalda", orgulha-se.
Ivo Holanda foi referência, diz Kan Kan
Quando começou, as pegadinhas do SBT já faziam sucesso no Programa Silvio Santos e o "Rei" já existia: Ivo Holanda. "Era minha referência. Quando eu conheci o Ivo, foi um expert pra mim, um 'parceiraço'", elogia. Perguntado se apanhou tanto quanto o colega, brinca: "Não, não apanhei muito porque eu corro. Eu corro bastante".
Kan Kan ressalta o quanto a tecnologia ajudou na elaboração das câmeras escondidas. Por outro lado, lamenta que a violência tenha aumentado nas últimas décadas. "Precisamos tomar certos cuidados. É uma superprodução, uma mega produção. Temos seguranças, ambulâncias, uma produção ali maravilhosa, a direção do Jefferson. Ele é, na verdade um diretor, é um Spielberg brasileiro, um cara que faz uma mega produção. Se precisar de helicóptero, ele coloca na Câmera Escondida. Temos muitos recursos em termos de produção, tecnologia, hoje melhorou muito em questão de tecnologia."
"Temos vários tipos de equipamento que na época não tinha. Nosso ponto [eletrônico] tinha fio. Era limitado. Hoje não, hoje temos câmeras até na gravata. Temos várias GoPro, micro câmeras, temos uma tecnologia ao nosso favor. E a nossa segurança é muito melhor que nos anos 80. A própria tecnologia colaborou para isso e o Jefferson tem uma visão, é um Spielberg brasileiro, tem uma visão ali na frente. Fazemos hoje câmeras maravilhosas. Não tem barreira."
Para uma pegadinha ser gravada, mais de 30 pessoas são envolvidas. "Uma pegadinha demora o dia inteiro praticamente. É um trabalho que perdura durante todo o dia porque tem que captar os melhores momentos. Existe um filtro", justifica.
"A pessoa tem que autorizar a imagem, caso contrário, não vai para o ar. Existe um critério. A pessoa ganha um cachê. Vai sujar a roupa, mas tem o pessoal ali que vai lavar. Sujou o cabelo? Tem a equipe de make hair. A pessoa vai ser cuidada e ainda vai aparecer pro Brasil, pro mundo inteiro", defende.
Afinal, as Câmeras Escondidas são armadas?
Apesar de várias décadas envolvido com pegadinhas, Kan Kan nunca se recusou a filmar nenhuma. E garante não existir armação no SBT. "Vou te dizer o seguinte, as câmeras escondidas, elas são, algumas são 'combinadinhas', pessoas com cúmplice. As câmeras com cúmplice, uma pessoa sabe e a outra não sabe. Você quer pegar uma amigo seu, vai dar todo o perfil dele: é violento, não pode passar susto. A gente chama de 'combinadinha'. Uma pessoa sabe e as outras não sabem o que vai acontecer. Agora, eu te falo de pronto: no SBT não existe armação nenhuma de câmeras. Todas são feitas sem armação nenhuma. E tem o making of."
Kan Kan usa o programa Câmeras Escondidas, no YouTube, como exemplo: "Temos o making of que antes não tínhamos. Onde são colocadas as câmeras, aquela tecnologia, as vítimas são entrevistadas pela Aline Serrano, ela mostra o antes e depois. É uma alta produção. É lógico que em outros canais, existem as famosas armadas".
Questionado se as armadas estariam no João Kléber, nos tempos da RedeTV!, confessa entre risos: "Sim. Eram combinadas. Já participei. Mas posso te garantir que no nosso caso [do SBT] não existe armação. Existe as combinadas, com cúmplices".
"Eu, sinceramente, falo pra você, com toda a sinceridade, uma coisa que é armada, ela fica notória, qualquer pessoa percebe quando assiste uma armação. E quando você assiste uma do SBT, você percebe que é uma coisa natural. Quando é 'combinadinha', uma pessoa sabe e a outra não. Às vezes o marido sabe, a esposa não sabe, e vice-versa. E é isso."
Sem titubear, diz qual é a sua favorita: o Palhaço da Tortada. "É que eu mais me realizo. Amo fazer", derrete-se.
Na visão do ator, as pegadinhas resistem ao tempo pela mesma história do Chaves. "Quantas vezes passar [o seriado mexicano], vou assistir. Você assiste, assiste, e assiste de novo. É igual as Câmeras Escondidas, você quer assistir mais. É uma coisa que te traz alegria, é uma coisa saudável. Rir é o melhor remédio. Como é bom ligar a TV domingo às 23h30 e assistir as câmeras. É uma coisa maravilhosa. Temos a facilidade de assistir a qualquer momento no YouTube", enfatiza.
Dia de Rei
Durante o bate-papo, Kan Kan se lembra com carinho de quando esteve hospedado em um hotel em Fortaleza e sentiu um pouco da sua popularidade.
"Um dia estava em Fortaleza e fui chamado pela portaria: 'Dá para você descer aqui e tirar uma foto com o pessoal, bater um papo?'. Disse 'claro'. Quando desci no Praiano Hotel, em frente à Praia de Iracema, me senti o Roberto Carlos. A fila dobrava o quarteirão de pessoas querendo tirar foto comigo. Isso não tem preço. É o reconhecimento que o dinheiro não paga."
Kan Kan sobre quando parou um hotel em Fortaleza, no Ceará
O formato, que não se desgastou com o tempo, ganhou também grandes vídeos de sucesso na internet de canais independente. "Todo mundo curte. Hoje o brasileiro não aguenta mais ligar no telejornal e só ver desgraça. Partem pro YouTube, vão ver pegadinhas, piadas interpretadas. É isso que faz a gente renascer."
Os planos de Kan Kan
Ao longo da carreira, Kan Kan já fez também participações em novelas da Globo e Record, mas considera que seu forte é o rádio, já que vem de uma família de radialistas. Na internet, possui uma rádio (Rádio Elite), há 11 anos e a Ely TV, no ar há quatro, com programação dos anos 70, 80 e 90, mesclando programação ao vivo, musicais e entrevistas. Agora, também faz o Podcast do Kan Kan.
Antes da pandemia, apresentou o Churrasco com os Artistas, que virou o Elite na TV, em uma TV Comunitária, canal 9 de São Paulo. Com a crise sanitária, o projeto foi suspenso, mas seu objetivo é voltar com ele em 2023.
Apesar dos projetos, não esconde: "Minha vida é pegadinha". "Além de assistir fico vendo temas, tentando criar Câmeras. Na época da RedeTV!, eu era ator e redator. Tudo que a gente faz no cotidiano, a gente visualiza na pegadinha. 'Isso dá na pegadinha. Isso dá na pegadinha'. A gente vive isso 24 horas. Minha vida é pegadinha!".
Por fim, pede a palavra a faz questão de citar nominalmente o dono do SBT. "É agradecer a Deus por esse dom e talento, agradecer ao Silvio Santos por dar oportunidade aos atores, ao nosso diretor Jefferson Cândido que sem ele não seria possível. Além de criar e dirigir também dá oportunidade não só a mim mas aos meus colegas de trabalho", encerra.
QUIZ NT
Qual programa clássico do SBT exibido nos anos 80 você participaria?