Luto

Milton Gonçalves: "Meu sonho é ter um presidente negro"

Ator morreu nesta segunda-feira (30), aos 88 anos, após trajetória de luta contra o racismo


Ator Milton Gonçalves morre aos 88 anos
"Há quem diga ‘Ah, mas o Brasil não tem preconceito’. Tem sim! Tem um preconceito muito forte, muito grande", afirmou Milton Gonçalves, em 2015 - Foto: Divulgação/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 30/05/2022 às 17:38,
atualizado em 30/05/2022 às 17:38

“Meu sonho é ter um presidente negro”, declarou Milton Gonçalves (1933-2022), em entrevista concedida em 2015 ao jornalista Sandro Nascimento, do NaTelinha. O ator morreu nesta segunda-feira (30), aos 88 anos, sem ter seu sonho realizado, mas dedicou a carreira à luta contra o racismo e pela representatividade na TV.

“Nós brasileiros devemos brigar pelas nossas posturas e para que sejamos respeitados”, disse Milton Gonçalves, na mesma entrevista, realizada no Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro de 2015. Na ocasião, ele estava ao lado do também ator Jorge Coutinho, então presidente do SATED-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do do Rio de Janeiro).

Os artistas criticaram o uso do termo “pardo” para classificar parte da população brasileira, como uma forma de se apagar a negritude. “Uma coisa que me deixa extasiado é que branco, negro, seja a pessoa do jeito que for, se você abrir [o corpo], tem os mesmos aparatos e aparelhos de sobrevivência”, ressaltou Milton.

“Lamentavelmente, cultivamos o preconceito no Brasil”, opinou Milton Gonçalves, há sete anos

Milton Gonçalves: \"Meu sonho é ter um presidente negro\"

“Lamentavelmente, ainda hoje, no Brasil, cultivamos o preconceito. Há quem diga ‘Ah, mas o Brasil não tem preconceito’. Tem sim! Tem um preconceito muito forte, muito grande. Minha mulher foi algumas vezes desrespeitada porque era casada com um negro”, relatou o ator, marido de Oda Gonçalves desde 1966.

Milton também falou sobre sua experiência por trás das câmeras. “Escrava Isaura foi um dos maiores sucessos da história da televisão brasileira, e foi um negro que dirigiu”, relembrou, em referência à novela de 1976 assinada por Gilberto Braga (1945-2021). A trama teve direção dele e de Herval Rossano (1935-2007).

O veterano ator enfrentou o racismo inclusive do público, que rejeitou alguns de seus papéis na televisão e impediu até o romance interracial de um deles. “O meu sonho é, sem ser político ideológico, vai ser um sonho realizado no dia em que tivermos um presidente da República negro”, revelou Milton Gonçalves, há sete anos.

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