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As histórias inéditas de Hebe Camargo: De faxina em casa a caviar barrado no aeroporto

Aurora Prado, diretora dos seus programas por 20 anos, revela histórias nunca antes contadas da apresentadora


Aurora Prado foi diretora dos programas da Hebe por 20 anos
Montagem NaTelinha

Durante a passagem de Hebe Camargo (1929 - 2012) pela Band e SBT, Aurora Prado foi a diretora dos seus programas. Ao todo, foram 20 anos de convivência quase diária de uma relação profissional e pessoal intensa. Ao NaTelinha, Aurora narra histórias curiosas e engraçadas, inéditas, dos bastidores da trajetória da apresentadora.

No primeiro encontro entre Hebe e Aurora houve um mal entendido. Ainda na época da Band, a artista nem olhava para a jovem produtora. "Depois fui saber pela própria Hebe que uma funcionária dela tinha dito que quando eu era da produção do Flávio Cavalcanti, teria a convidado para participar do programa e dito: "Quem ela pensa que é pra recusar um convite do Flávio Cavalcante"", explica a diretora.

Em seguida, Aurora desmentiu a situação e se acertou com Hebe Camargo: "Ela olhou e disse que acreditava em mim". A partir deste momento, a relação entre elas cresceu e ganhou uma afinidade de mãe e filha.

"Nos bastidores, ela deu de túmulo, anel de ouro, enxoval de bebê, carro, apartamento para empregados e roupas. Ela dava roupas para vários travestis e homossexuais que faziam show na noite. Às vezes eles saiam produzidos de Hebe da casa dela. A cada dois meses ela chegava com uma malinha, dentro do camarim, com coisas para a produção. ‘Gente, desculpa, mas eu precisei limpar os armários’, dizia. Ela adorava agradar".

Confira as histórias inéditas de Hebe Camargo vividas por Aurora Prado:

As histórias inéditas de Hebe Camargo: De faxina em casa a caviar barrado no aeroporto

O caviar do Lélio no casaco de pele

Fomos gravar na Rússia. Ficamos no país por uma semana. Toda vez que a gente viajava, de cara, a Hebe ia comprando coisas para o Lélio e o Marcelo. Ela não queria esquecer nunca de trazer algo para eles. Começamos a ir aos restaurantes. Ela falou que iria levar caviar para o Lélio: "Esse é o caviar legítimo da Rússia", dizia. Só que é proibido trazer, comprar e viajar com os potinhos de caviar. Então, ela começou a comprar todas as vezes que íamos aos restaurantes. Os garçons vendiam escondidos os potinhos de caviar. Acabou comprando uns 20 a 22 pontinhos.

A Hebe tinha me emprestado um casacão para ficar em Moscou, fazia muito frio e eu tinha esquecido de levar o meu. No dia de voltar ao Brasil, ela sabendo que era proibido trazer caviar, camuflou todas as latinhas dentro da mala. Chegando ao aeroporto, na hora que passou no raio-x apareceram todas as latinhas. A mulher que estava no local jogou tudo para fora, foi tirando tudo. Ela quase chorou, não acreditava. Olhou para mim e falou: "Meus caviares. Os caviares do Lélio, e agora?". Bom, fomos embora e entramos no avião e sentamos. Ela estava triste. Quando decolou, eu me virei e disse: "Deixa eu te contar uma coisa". A Hebe falou: "O quê?".  Eu tirei duas latinhas que estavam dentro do bolso do casaco pele enorme dela. Na hora do raio-x eu passei com as duas mãos dentro do bolso segurando as latinhas e não visualizaram. Eu falei: "Está aqui, duas latinhas. Pode levar para o Lélio". A Hebe me beijou a viagem inteira.

De olho nas joias da Rússia

Ainda em Moscou. Lá, fomos visitar os museus e os palácios. Num deles tinha uma seleção de rainhas e princesas com joias fantásticas, maravilhosas. Tinha uma que parecia uma blusa de renda de tanta pedra. Tinha alguns guardas no local, mas não tinha um vidro grosso para proteger. A Hebe no meu ouvido: "Morenona (ela me chamava assim), finge que você não está legal, dá uma escorregada e cai no chão. Os guardas irão vir te pegar e eu vou aproveitar e roubar aquelas joias para mim e depois a gente sai correndo". (gargalhada)

Hebe fazia faxina em casa

Teve uma época que eu cuidava também da parte comercial dela. Eu nem solicitava carro para produtoras porque eu que buscava ela em casa. A Hebe tinha muita dó das pessoas que trabalhavam com ela e eram mandadas embora. Quando ela tinha que mandar alguém embora, que não tinha dado certo, ela saia de manhã e esperava o Lélio demitir para voltar para casa. Numa dessas vezes eu fui buscá-la para um comercial e cheguei duas ou três horas antes. Encontro o Lélio tomando café na cozinha e pergunto da Hebe. "Tá brincando né? Vai ver o que a Hebinha está fazendo lá no quarto da empregada". Cheguei lá e encontro a Hebe fazendo faxina no quarto da empregada que tinha sido mandada embora um dia antes. "Ela não era muito limpinha e eu não gosto de ver as coisas assim". A Hebe estava de chinelo, bermuda e fazendo faxina. Eu não acreditei e perguntei porque ela não tinha colocado outra pessoa para fazer aquilo. "Por quê? Estou atrasada? Eu já estou com meu cabelo pronto e lá a gente maquia" (risos).

Veto dos palavrões de Laura Pausini

Nós viajamos muito. Na Itália fomos várias vezes. Ela adorava a Laura Pausini. Chamava de filha e Laura a chamava de mãe. Uma das vezes que gravamos com a Laura, ela convidou para ir ao apartamento dela. Uma fofa. A Laura Pausini é muito engraçada. Chegou uma hora que demos uma parada e acho que a Hebe foi beber água. A Laura me pediu para ensinar alguns palavrões em português ou alguma coisa engraçada. Eu ensinei um monte (risos). A Hebe retornou e quando ela viu aquilo falou: "Não acredito que você está ensinando essas coisas para Laura. Meu Deus! Quando ela for ao Brasil ela vai começar a falar e vai f... todo mundo sem saber o que está falando direito (risos)". Eu disse: "Laura, escuta a Hebe. Esquece o tudo o que eu falei (gargalhadas)".

Hebe não bebia sozinha

Eu falava: "Hebe, você bebe sozinha em casa?". Ela respondeu: "Eu adoro beber. Adoro minhas margaritas. Adoro beber com meus amigos, receber em casa ou no restaurante. Mas sozinha eu não bebo nada". Eu perguntei o motivo. "Porque se eu gosto de beber, conversar, bater papo... eu vou fazer isso com um copo? O copo na minha frente e eu olhando para ele. Eu já sou velha, irão me chamar de louca. Imagina que bebo sozinha!".

Depois eu perguntei: "Você gosta de whisky?".  A Hebe: "Não gosto. Lélio gosta, adora whisky. Quando saímos, e ele bebe muito, eu nem beijo na boca porque eu não gosto de sentir o cheiro". Hebe sempre fala que amava o Lélio. Era o amigo dela, companheiro.

As histórias inéditas de Hebe Camargo: De faxina em casa a caviar barrado no aeroporto

Encontro com Chico Anysio e Zélia Cardoso

A gente saia muito. Depois do programa ela adorava. Certa vez fomos ao restaurante e tinha o Chico Anysio e a Zélia (Cardoso de Mello - Ministra da Economia no Governo Collor). Ela adorava o Chico. Levantou, cumprimentou, abraçou, beijou e tal. Ficaram conversando em pé em torno de 10 a 15 minutos. Depois ela sentou e eu falei: "Nossa Hebe, é a Zélia. Quem diria". Ela falou gargalhando: "Ela me ferrou espero que não ferre com meu querido amigo de tantos anos (risos)". Ela era muito irônica e sacadora. Tirava as coisas de letra.

Bolinhas de dinheiro para funcionários da Band

A Band estava passando por uma situação braba, não estava legal. Como a Hebe não tinha camarim, ela ficava numa parte da técnica dividida por uma tapadeira que não chegava até o teto. O camarim era 2x2, um espelho e duas cadeiras. Então, ficamos ouvindo o que os funcionários falavam e eles ouviam a gente. Um dia ela escutou um deles: "Pô cara, a coisa está feia. Se não pagarem logo não terei dinheiro nem para o arroz e feijão do fim de semana". Não deu outra. Ela olhou para mim, abriu a bolsinha dela, pegou um monte de notinha, não lembro os valores, fez um monte bolinha e começou a jogar por cima da tapadeira. O povo não acreditou. Foram aplausos, gritos e começaram a mandar beijo. Foi algo muito gostoso. Ela ficou emocionada.

As histórias inéditas de Hebe Camargo: De faxina em casa a caviar barrado no aeroporto

Xuxa, Hebe, Marlene e Aurora no banheiro da Band

Nesse mesmo camarim recebemos a Xuxa e a Marlene. Elas tinham acabado de assinar com a Globo. Olha que vergonha, não tinha banheiro. O banheiro que a Hebe usava ficava longe, era no corredor do jornalismo. Era uma rotina, dez minutos antes de começar o programa eu tinha que correr para lá para que ela pudesse fazer o xixizinho. Nesse dia, foram as quatro. Eu, Hebe, Marlene e a Xuxa (risos). A Xuxa não acreditava (gargalhadas).

Hebe gostava de agradar

Nos bastidores, ela deu de túmulo, anel de ouro, enxoval de bebê, carro, apartamento para empregados e roupas. Ela dava várias roupas para vários travestis e homossexuais que faziam show na noite. Às vezes eles saiam produzidos de Hebe da casa dela. A cada dois meses ela chegava com uma malinha, dentro do camarim, com coisas para produção. "Gente, desculpa, mas eu precisei limpar os armários", dizia. Ela adorava agradar.

Além disso, a Hebe gostava de homenagear. Ela se vestiu de Xuxa, Chitão e Xororô... Ela tinha uma coisa que não se achava a altura das pessoas. "Quando falávamos que a Fernanda Montenegro ou outra pessoa iria ao programa, dizia: "Meu Deus"! Como eu vou receber. O que eu faço?". Quando a pessoa chegava ela reverenciava, quase ajoelhava no chão para receber.

Hebe não bebia no camarim antes do programa

A Hebe nunca, em todo tempo que eu fiquei com ela, bebeu antes no camarim, nunca. Ela bebia cerveja porque era patrocinada. Ela adorava quando acabava o programa e entrava no camarim para tomar a cervejinha dela. Ficávamos uma ou duas horas bebendo. Quem cuidava do camarim já deixava geladinha. Nunca bebeu antes do programa. A vida inteira foi café e água. Eu vi isso, todos os anos que trabalhei com ela.

Confira a primeira abertura do programa Hebe no SBT (1986)

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