Memória da TV

Como Aqui Agora, obsessão de Silvio Santos, revolucionou até a Globo

Sucesso de audiência, telejornal do SBT fez história com a "câmera nervosa"


Ivo Morganti e Christina Rocha apresentaram o Aqui Agora
Ivo Morganti e Christina Rocha apresentaram o Aqui Agora (Foto: Reprodução/SBT)

Silvio Santos sempre foi obcecado por "imagens impressionantes". Do Isto É Incrível, quadro do Show de Calouros, ao programa Ver Para Crer, o dono do SBT dava seu jeitinho de mostrar pessoas à beira da morte. Neste ano, estreou o enlatado Alarma TV e transformou por um único dia o Triturando em Notícias Impressionantes. O exemplo mais bem-sucedido da emissora é lembrado até hoje: Aqui Agora.

O telejornal "vibrante, com a cara do povo" (como era seu slogan) ficou no ar entre 1991 e 1997. Teve uma segunda passagem malsucedida em 2008, mas "dia sim, outro também" é cotado para retornar à programação do SBT. No auge, incomodou a Globo e inspirou "cópias" de sucesso em outras emissoras.

Inspirado no argentino Nuevediario, Aqui Agora realizou o desejo de Silvio Santos de pôr no ar um telejornal com apelo popular, em contraste com o TJ Brasil, ancorado por Boris Casoy. Com repórteres novatos, como César Tralli, e veteranos, como Gil Gomes, o programa formou uma verdadeira "seleção brasileira" de jornalistas. Seus gols eram as histórias carregadas no drama e as vitórias, a audiência.

Em outubro de 1992, alcançou 33 pontos no Ibope com a queda do helicóptero do deputado federal Ulysses Guimarães. A trinca com o fenômeno Carrossel e o TJ Brasil beliscaram a liderança e obrigaram a Globo a mexer no jornalismo. O Jornal Nacional, por exemplo, ficou mais longo e aumentou a cobertura policial.

Aqui Agora, obsessão de Silvio Santos, revolucionou até a Globo
Gil Gomes, repórter do Aqui Agora, telejornal do SBT

Herança e críticas

O principal legado do Aqui Agora, a "câmera nervosa", foi parar até no primeiro capítulo da novela A Viagem (1994). A imagem tremida e a narração ofegante do repórter prendiam o telespectador para o desfecho da história. Praticamente todos os telejornais da TV brasileira, do mais popular ao mais sofisticado, utilizam a "câmera nervosa" para atrair o público. 

Parte da "revolução" provocada pelo Aqui Agora foi levada para a Globo por Amauri Soares, diretor de programação da emissora, que foi editor-chefe do telejornal. Noticiosos locais investiram mais em prestação de serviço e coberturas ao vivo, como o SP1, apresentado por Tralli, cria do SBT. O Profissão Repórter, comandado por Caco Barcellos, é quase todo gravado com "câmeras nervosas" operadas por jornalistas recém-formados.

O Aqui Agora também se tornou exemplo do que não se deve fazer no jornalismo. Acusado de sensacionalismo, chegou a exibir um suicídio ao vivo (uma adolescente de 16 anos se jogou do 6º andar de um prédio em São Paulo) e foi condenado a pagar uma multa milionária à família da jovem.

Em uma produção interna, mas que vazou na internet, William Bonner e Carlos Nascimento encenaram como seria um Jornal Nacional sensacionalista. Na abertura, um suicídio, um cadáver e sexo explícito em um parque. Os dois apresentadores ainda citaram, indiretamente, o Aqui Agora.

Apesar das críticas, o telejornal gerou "filhotes" em outras emissoras, interessadas na mesma audiência. Cidade Alerta e Brasil Urgente repetem o mundo-cão, a gritaria e as histórias cheias de suspense. O "espírito" do Aqui Agora ainda ronda Silvio Santos, que ainda sonha em relançar o programa. Esta seria mais uma "notícia impressionante" do SBT.

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