Memórias da Telinha

Há 20 anos, governo proibia propaganda de cigarros na TV

Propaganda que era restrita entre 21h e 6h, acabou de vez


Televisores desligados, somente um com a tela verde
TVs perderam indústria do cigarro como anunciantes

"Cigarro faz mal até na propaganda". Esse era o slogan do governo, que na época tinha Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na presidência. O tucano injetou mais de R$ 4,5 milhões em campanhas na TV para conscientizar a população sobre os perigos do tabaco. O projeto proibindo propagandas de cigarro na televisão virou lei no final do ano 2000. Desde 96, comerciais do tipo só podiam ir ao ar entre 21h e 06h.

Em números relativos, o desfalque nas TVs não foi grande. De acordo com matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em junho daquele ano, os anúncios do setor equivaliam a menos de 1% do faturamento das emissoras, e a 1,1% do das revistas. Na Globo, por exemplo, a receita auferida com propaganda de cigarro equivalia a 1,5% do seu faturamento.

Apesar disso, a indústria do tabaco investia pesado na TV. Da verba que dispunham para a publicidade de um valor de R$ 55 milhões, R$ 33 milhões iam para a TV aberta, ainda de acordo com o periódico. "A Globo não fará campanha contra nem a favor da aprovação do projeto que proíbe a propaganda de cigarro", dizia o ex-fumante José Roberto Marinho.

Boni queria que personagens fumantes tivessem destino ruim

Há 20 anos, governo proibia propaganda de cigarros na TV

A emissora já proibia o merchandising de cigarros nos programas e personagens só apareciam - e ainda aparecem - fumando apenas se o autor considera isso dado essencial para a composição do personagem. Quando Boni era vice-presidente-executivo da Globo, também permitia que personagens fumassem, mas sempre determinava que os fumantes tivessem um destino ruim.

Na novela Vale Tudo (1988-89), que está disponível no Globoplay, o ator Daniel Filho interpretou o pianista Rubens, um pianista que fumava como uma chaminé. O personagem teve um infarto, quase morreu e teve que parar de fumar.

Todo o trabalho de conscientização do governo deu certo. O então ministro da Saúde, José Serra (PSDB), recebeu, em 2002, o prêmio Limpando o Ar pela Organização Pan-Americana de Saúde. Ele ajudou a elaborar a lei que restringiu a propaganda de cigarros na TV.

Uma pesquisa realizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou em 2013 que, entre 1989 e 2010, 33% dos brasileiros deixou de fumar depois que medidas restringindo a propaganda de cigarros em veículos de comunicação de massa entraram em vigor.

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