"Era mais fácil abrir o Mar Vermelho do que dar audiência na Xuxa", diz ex-diretor da Record TV
Ignácio Coqueiro dirigiu o programa "Xuxa Meneghel" em 2016
Publicado em 18/07/2018 às 06:01
Tendo seu último trabalho na Record TV como diretor de Xuxa Meneghel, Ignácio Coqueiro deixou o canal no início do ano passado. Agora, ele será responsável pela parte artística do primeiro Museu do mundo que explica a origem da linguagem escrita na humanidade. Além disso, continua à frente do projeto de disseminar uma nova metodologia no ensino de inglês no país.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o diretor explicou que não sente falta dos estúdios de televisão. Além disso, relata que nos últimos tempos, estava se cansando um pouco de liderar a produção de programas de auditório devido às "futilidades e bobagens" do formato. "Não estava me fazendo muito bem", contou Ignácio, que já dirigiu o "Caldeirão do Huck" e "Hora do Faro", dentre outras atrações.
Antes de ir para a Record TV, Coqueiro pertenceu ao time de diretores da Globo por 20 anos. Na emissora, foi responsável por inúmeras novelas, como "Mulheres de Areia", "Cara e Coroa", "A Viagem" e "O Amor Está no Ar".
"Eu estou tão feliz com essa questão do Museu e do inglês, que estão indo super bem, que não tá dando muito saudade (da TV) não. Principalmente naquela loucura toda que era a Record. Eu sofri um pouquinho lá. A TV Globo realmente é uma emissora de televisão. A Record TV não tem tantos profissionais de televisão como tem a Globo. Na verdade quem manda mais são os pastores e os bispos do que os próprios profissionais da TV. Isso estava me sufocando um pouco ficar lá", desabafa o diretor, que ficou na Record TV por oito anos.
Ao ser questionado sobre quais foram seus reais motivos para deixar a Record TV, após o fim do projeto "Xuxa Meneghel", Coqueiro respondeu que sua saída foi acarretada por duas questões: salário alto e o desgaste ao enfrentar os problemas de terceirização do programa.
"O meu salário era muito alto lá dentro. Como a TV Globo fez, e como as emissoras de televisão estão fazendo, estão tirando as pessoas de qualidade que tem um salário que corresponde com sua bagagem de conhecimento, por outras mais novas, pra dirigir programas de televisão. Isso vem acarretando várias coisas. O fechamento de turno e diretores inseguros. Você ter um diretor inseguro, você sabe que o ator vai lá e faz o que quer. Age como ele age e não age como diretor e nem como autor deseja. isso começou agora e futuramente vai dar muito problema e tá dando", relata Ignácio Coqueiro.
Para o diretor, com este cenário, hoje, os profissionais de televisão param de ter uma vida normal, e justifica: "uma novela começa com três câmeras e três equipes de externas. Então, as pessoas não vão fechando plano por inexperiência passa a ser cinco, seis, as vezes chega a ter sete equipes gravando externa. É impossível controlar uma novela com sete diretores gravando cada um uma cena. No fundo, no fundo, o público alguma hora vai perceber isso, e já tá percebendo".
Quando assumiu a direção do "Xuxa Meneghel", no início de 2016, o programa estava na transição de deixar de ser produzido pela Record TV para ficar sob os cuidados da produtora Casablanca.
"A Record optou por fazer por produtoras, novelas com um orçamento que ela não tem capacidade e nem dinheiro para poder fazer. Isso compromete total o trabalho do profissional. No meu por exemplo, eu tinha que fazer um programa da Xuxa, com uma verba de 30 mil reais por semana. Desde quando você tem esse orçamento para um programa desse tamanho, semanal? Com 30 mil reais, eu não conseguia trazer cantor de lugar nenhum", revela.
Com esses problemas de produção e de audiência, a primeir atração de Xuxa pós-Globo saiu do ar em dezembro de 2016. Em abril de 2017, a apresentadora assumiu o comando do reality "Dancing Brasil".
"A Xuxa não viaja de avião de carreira, então para alugar um jato para ela poder ir para São Paulo, eu também não conseguia, não tinha dinheiro. Então, foi feito um acordo, um contrato, com a Casablanca, que na verdade não deu pra cumprir porque não tinha dinheiro. O que acontece com isso? A qualidade do programa cai e quem é o culpado? É o diretor. Nem Spielberg dava jeito naquilo. Era mais fácil abrir o Mar Vermelho do que dar audiência na Xuxa. Por todos esses motivos, a gente vai perdendo um pouco o tesão. Esse projeto do inglês que já estou há alguns anos, junto com o Jorge Pontual, está me deixando mais feliz do que fazendo TV dessa forma", desabafa.
Museu da origem da linguagem escrita da humanidade
Sob a responsabilidade artística de Ignácio Coqueiro, o primeiro Museu do mundo que explica origem da linguagem escrita da humanidade está sendo formatado. Em novembro, será inaugurado uma amostra do que está sendo preparado, um "pré-museu". A cidade escolhida foi Brasília.
"Está sendo muito interessante. Vamos trabalhar o Luis Cancel, que já foi Secretário de Cultura de Nova York e São Francisco. Nessa exposição vamos contar com muitos artistas de Brasília. Vamos movimentar. Estamos a mil por hora com os projetos. Queremos jovens cineastas que vão falar da linguagem, sobre a descoberta, Aristóteles.. Vai ser muito calcado em cima da cultura", avisa Coqueiro.
Método de inglês
Além do Museu, Ignácio Coqueiro está à frente, ao lado do ator Jorge Pontual, do matemático Dangelo Ciccarini e do empresário Gutenberg Vasconcelos, de uma nova fórmula de aprendizagem de idiomas.
A metodologia foi baseada em um algoritmo matemático feito para facilitar a assimilação. A ideia agora é disseminar o conhecimento em diversos cursos de inglês no país, através de um livro.