Os Outros: Tudo está pior na 2ª temporada da série do Globoplay
Texto inverossímil, direção presunçosa e atuações irregulares comprometem os novos episódios
Publicado em 29/08/2024 às 12:09
Como Os Outros, uma das melhores séries lançadas no ano passado, pôde decair tanto na segunda temporada? Esse é o questionamento que fica após a divulgação dos seis novos episódios – serão doze, ao todo, com dois sendo disponibilizados por semana até 12 de setembro. O sétimo e o oitavo chegaram ao Globoplay nesta quinta-feira (29).
A continuação, que estreou em 15 de agosto, mostra a busca de Cibele (Adriana Esteves) e Amâncio (Thomás Aquino) por Marcinho (Antônio Haddad), desaparecido no final da primeira temporada. O foco rapidamente muda para Sérgio (Eduardo Sterblitch), o miliciano que deu sumiço no garoto, saiu da cadeia e conseguiu se eleger como vereador.
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Sérgio se muda com a filha Lorraine (Gi Fernandes) e a esposa Joana (Kênia Bárbara) para um condomínio de casas de luxo. A presença do bandido incomoda a vizinhança, especialmente o casal Raquel (Letícia Colin) e Paulo (Sérgio Guizé), religiosos que organizam um abaixo-assinado para expulsá-lo dali.
Apesar dos conflitos aparentemente promissores envolvendo antigos e novos personagens, nada está tão bom quanto antes. A violência explorada como fenômeno social; o suspense bem próximo ao terror; a perfeita coesão entre texto, direção e elenco… Tudo isso sumiu na retomada da série. A seguir, há revelações sobre o enredo da segunda temporada.
O texto de Lucas Paraizo está quase sempre inverossímil, sem lógica, e sobram exemplos disso ao longo dos episódios. Logo no primeiro, Marcinho invade o condomínio disfarçado de entregador e passa a noite no local sem despertar desconfiança dos seguranças. Para ficar perto de Lorraine e conhecer o filho, infiltra-se na casa de Sérgio, de quem morre de medo.
Também há situações tolas e mirabolantes – o que dizer da caça ao jacaré? Em um dos entrechos mais constrangedores, Paulo usa um jogo de realidade virtual, uma espécie de multiverso, e se envolve com Maria (Mariana Nunes), personagem misteriosa que deve dizer a que veio mais adiante. Enquanto seus avatares transam, os amantes se contorcem com languidez na vida real.
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Em mais um contraste com a primeira temporada, que tinha ótimo ritmo e uma progressão nos acontecimentos, a segunda tem cenas repetitivas, fazendo com que a história não saia do lugar, dando voltas em torno de si mesma. Por exemplo, Marcinho se aproxima de Cibele e Amâncio várias vezes, mas volta atrás, evitando de se revelar a eles – a distância dos pais também fica mal explicada.
A direção de Luísa Lima, antes inspirada e criativa, agora parece querer imprimir uma tensão artificial em sequências que não empolgam. É como uma imitação do que foi feito antes. Na tentativa de vender uma filmagem “conceitual” e bem trabalhada, investe em ângulos incomuns, que soam presunçosos, como meras invencionices, com pouco a dizer ou acrescentar à cena.
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As atuações, irretocáveis no primeiro ano, estão irregulares no segundo. Eduardo Sterblitch e Letícia Colin têm ótimas composições, mas erram o tom em determinados momentos. Exageram nas caras e bocas, soam caricatos, assim como Antonio Haddad, que derrapa com o personagem mais difícil da série – é impossível ter empatia por Marcinho, tão errático, se não entendemos suas motivações.
Adriana Esteves mantém o ótimo desempenho do primeiro ano, mas o drama de Cibele, por todo esse contexto desfavorável, já não tem o mesmo apelo. Curioso que ela, antes o maior destaque, tenha virado coadjuvante. A personagem pouco aparece, passa episódios a fio choramingando pelo sumiço do filho e pouco evolui nas buscas por ele.
A parca repercussão da segunda temporada tem sido proporcional à qualidade apresentada até aqui. Os Outros ainda tem o mérito de prender a atenção. Algum suspense se mantém e garante o interesse no próximo episódio. Mesmo que fique o dissabor de ver uma série que era tão boa beirar uma grande bobagem.
Veja o trailer da 2ª temporada de Os Outros: