Eduardo Appio não ameaçou investigado e gravação foi forjada, diz laudo
Defesa diz que já recorreu do afastamento e aguarda decisão
Publicado em 05/06/2023 às 19:49
A voz nas gravações em que um investigado era ameaçado supostamente pelo novo juiz da Lava-Jato, na verdade não é de Eduardo Appio. Ao menos é isso que aponta um laudo encomendado pela defesa e assinado pelo professor Pablo Arantes, da Universidade de São Carlos.
A informação foi dada em primeira mão pelo jornalista Guga Noblat, do ICL e confirmado pelo NaTelinha. A reportagem teve acesso ao parecer, que consta com 11 páginas. Na conclusão, o professor Pablo Arantes escreveu sobre não ser a voz de Appio nas gravações. "Com base nas análises técnicas realizadas e na minha experiência profissional como doutor na área de linguística, especialista na área de fonética, pesquisador na área de fonética forense e autor de diversos artigos e outras publicações na área, afirmo que o nível 0 seria o adequado para o caso, não se podendo corroborar, nem contradizer a hipótese de mesma origem para as vozes".
O laudo explica as diferenças e o motivo para a conclusão, eliminando qualquer possibilidade de Appio ter feito as ameaças. Com isso, perde-se a força do argumento que sustentou a decisão pelo afastamento do juiz da Lava-Jato, que havia sido definido pelo TRF-4 e assinado pelo sogro de Sergio Moro (União Brasil), ex-juiz responsável pela operação e considerado inimigo do atual.
O NaTelinha conversou com Pedro Serrano, advogado de defesa de Appio e questionou se, com o laudo em mãos, ele iria recorrer para tentar suspender o afastamento. "Eu tinha pedido antes porque ele foi afastado sem direito a defesa. Eu tenho insistido que esse é o principal aspecto do caso. Eu já havia pedido a volta dele e o Corregedor está julgando essa questão, vamos aguardar", salientou.
Appio foi afastado da Lava Jato dias após tomar uma série de decisões que iam na contramão de Sérgio Moro, chegando a cancelar algumas condenações. Adepto de entrevistas, ele chegou a falar com algumas emissoras de TV e teve de entregar todos os aparelhos eletrônicos e senhas usados para o trabalho após a decisão do TRF-4. O afastamento se deu porque, em tese, o juiz havia ameaçado um investigado durante uma ligação, o que o Tribunal considerou irregular.