Nova Carminha e vingança: Autor de Todas as Flores repete fórmula de tramas antigas
João Emanuel Carneiro investe em apostas que deram certo no passado com folhetim atual
Publicado em 07/12/2022 às 08:15
Sucesso da crítica especializada e dos assinantes do Globoplay, Todas as Flores é avaliada como um folhetim clássico, já que desenha para o espectador os mocinhos e vilões logo de cara. Maíra (Sophie Charlotte) e Rafael (Humberto Carrão) se conhecem e se apaixonam mutualmente, mas a figura da antagonista, Vanessa (Letícia Colin) tenta impedir de toda forma que o casal principal fique junto.
Essa tônica é comum e base para a grande parte das novelas. O autor da trama, João Emanuel Carneiro, bebe também desta água, embora ele já tenha criado novelas que subverteram a fórmula clássica como A Favorita (2008), num entrecho em que a heroína é transformada em vilã, Avenida Brasil (2012), em que o enredo romântico cai por terra e se concentra na história de vingança de uma jovem contra sua ex-madrasta, e A Regra do Jogo (2015), trama em que o caráter do protagonista era diariamente colocado em suspeita.
Em Todas as Flores, João Emanuel se rende ao folhetim irresistível, copiando narrativas que foram concebidas em trabalhos anteriores. Confira algumas delas!
Nova Carminha e casal safado
Quem assiste a Todas as Flores encontra em Vanessa certo tom familiar. É que a vilã da nova novela de João Emanuel Carneiro tem um quê de Carminha (Adriana Esteves). Por fora, a personagem se faz de santa, mas por dentro alimenta o ódio. No capítulo em que ela e sua mãe, Zoe (Regina Casé), despacham Maíra para a cidade em que morava, Vanessa chega até citar uma frase célebre de Carminha, que também mandava uma algoz sua para longe: "Vai embora, não volte nunca mais, traste dos infernos".
Zoe também pode ser considerada uma nova Carminha, já que também esconde um grande segredo envolvendo a fazenda de exploração humana, assim como a vilã de Avenida Brasil escondia seu passado. Se Vanessa e Pablo (Caio Castro) vivem protagonizando cenas picantes no folhetim, João Emanuel também explorou tais ocasiões nas sequências calientes de Carminha e Max (Marcello Novaes).
Vingança e traição
Carta na manga usada em todas as novelas de João Emanuel, o autor explora o conflito de um personagem tendo como alicerce um plano de vingança, assim como Diego (Nicolas Prattes) se apresenta em Todas as Flores. Nas tramas antigas, a pauta era destaque, tanto que em Avenida Brasil, o escritor preferiu usar essa estratégia como fio condutor, abordando o plano de Nina (Debora Falabella) para acabar com Carminha, depois de ser abandonada no lixão.
Em Segundo Sol (2018), o novelista também usou o personagem Roberval (Fabricio Boliveira) para dar prosseguimento em sua discussão sobre vingança. Outro núcleo presente nas obras do autor é um personagem homem que tem a compulsão sexual em evidência, assim como Oberdan (Douglas Silva) na atual trama. Não tem como não lembrar de Cadinho (Alexandre Borges), de Avenida Brasil, com as histórias com suas três mulheres. Em ambos os casos, os conflitos sexuais nada tem a ver com o entrecho principal.
Bonzinhos que morrem e personagens queridos
João Emanuel é mestre em "matar" personagens bondosos que ganham o coração do público no meio da novela. Foi assim com Afonso (Lima Duarte), em Da Cor do Pecado (2004), Omar (Francisco Cuoco), em Cobras e Lagartos (2006), Gonçalo (Mauro Mendonça), em A Favorita, Djanira (Cassia Kis) em A Regra do Jogo. Em Todas as Flores, ele "assassinou" Guiomar (Ana Beatriz Nogueira) em um incêndio na Rhodes, bem no momento em que ela havia desmascarado Zoe e Vanessa.
Outra repetição feita pelo autor é o investimento em personagens carismáticos e populares. Nesse tema, o novelista tem um rol de figuras parecidas com Mauritânia (Thalita Carauta), que faz e acontece na trama e faz o público rir do outro lado da tela. Pai Helinho (Matheus Nacthergaele), Foguinho (Lázaro Ramos) e Nilo (José de Abreu), de Da Cor do Pecado, Cobras e Lagartos e Avenida Brasil, respectivamente, fazem parte desse seleto time.
Outros aspectos de Todas as Flores
Até na ambientação de suas histórias João Emanuel Carneiro se repete. A Rhodes, a grande loja de departamentos em que boa parte da trama de Todas as Flores é ambientada, é uma Luxus, de Cobras e Lagartos, renovada. Inclusive em ambas as empresas houve um grande incêndio, dando fim a conflitos existentes ou começando outros.
As personagens consideradas periguetes, geralmente pobres que tentam dar bem a todo custo, também marcaram presença em algumas tramas. A Brenda (Heloisa Honein) da trama atual bebeu da mesma fonte de Suellen (Isis Valverde), de Avenida Brasil.
