Travessia: Entenda a assexualidade e o drama de Rudá
Especialista explica a orientação do personagem de Guilherme Cabral
Publicado em 30/10/2022 às 08:20
Na sinopse de Travessia, Rudá (Guilherme Cabral) recebeu a descrição de um assexual estrito, ou seja, alguém que não sente desejo sexual por ninguém. Na novela de Glória Perez, além de ter que lidar com o processo de descoberta dessa orientação e passar por autoconhecimento, o rapaz ainda aguenta a pressão de pessoas que acham que ele é homossexual ou que precisa de ajuda para arranjar namoradas.
Em entrevista ao NaTelinha, o psicólogo Alexander Bez explica a assexualidade. "O mundo sexual é um mundo extremamente psicológico, além do biológico. O aparelho que regula a nossa sexualidade está ligado às esferas mais emocionais do cérebro. No caso dos assexuais estritos, não é que eles têm pavor de sexo, eles simplesmente nunca sentem atração sexual. O assexual é alguém que não é sexualmente atraído por ninguém".
"No entanto, é importante ressaltar que os assexuais podem ser românticos, eles podem ser atraídos romanticamente por outras pessoas. O assexual também pode, em algum momento da vida, começar a sentir desejo sexual por alguém, porém, o assexual estrito, que é mais radical, já tem essa questão definida na sua cabeça", completa o especialista em relacionamentos.
Na trama das nove da Globo, Rudá tem dificuldade de falar sobre o assunto. Na última quarta-feira (26), foi ao ar mais um embate entre ele e seu padrasto, Moretti (Rodrigo Lombardi). Novamente, o empresário tentou empurrar meninas para o enteado e a reação do adolescente deixou Guida (Alessandra Negrini) preocupada. "Juro que você pode se abrir pra mim porque isso não tem a menor importância", disse ela, questionando se o herdeiro é gay. O garoto admitiu que não gosta nem de homens nem de mulheres.
O psicólogo explica que é comum que a sociedade pense que assexuais são gays. "Para o assexual, não é muito interessante falar de assuntos relacionados a sua própria orientação sexual ou sobre sexo em si. Por esse motivo, pelos assexuais não falarem sobre, é comum acharem que a pessoa é gay, o que é errado, porque passa a ideia de que todos os gays têm dificuldade de se expressar, mas infelizmente faz parte de uma cultura", lamenta ele.
"Me preocupa muito essa questão de 'indução sexual', seja pelos pais, familiares, amigos ou até pela escola. A sexualidade tem que ser fluida, ela tem que fluir naturalmente, e não surgir por conta de uma pressão. O quão prejudicial pode ser isso? Muito. Isso pode 'rachar' a sexualidade da pessoa, criando uma confusão na criança, podendo criar uma 'cisão de ego'. Qualquer família que faça isso está fazendo errado, é extremamente prejudicial para todo o desenvolvimento da criança."
Travessia: Especialista diz que assexualidade é mais comum em mulheres
Ainda falando sobre a assexualidade, orientação de Rudá em Travessia, o psicólogo Alexander Bez explica que, diferentemente de heterossexuais ou homossexuais, por exemplo, os assexuais não nascem assim. "É uma condição que ele descobre ao longo da vida, durante o processo de sua formação psicossexual. Então pode ser mais complicado. A experiência das pessoas assexuais tende a ser solitária, uma vez que poucos compreendem o desinteresse por sexo e, principalmente, pela escassez de informações sobre essa orientação sexual e representações caricatas na mídia, que contribuem para equívocos".
"É na adolescência que se descobre o sexo. Mas descobrir a assexualidade pode ser um pouco mais demorado, pode acontecer ao longo da adolescência ou até mesmo na fase adulta", complementa ele.
O especialista em relacionamentos também destaca que essa orientação é mais comum em mulheres. "As últimas pesquisas falam que cerca de 7,7% das mulheres brasileiras são assexuais e 2,5% dos homens, entre 18 e 80 anos", acrescenta.