Fenômeno "Xou da Xuxa 3" completa 30 anos e produtor revela: "Ilariê" teria outro nome
Disco é um dos mais vendidos na história da indústria fonográfica nacional; diretor revela curiosidades da época
Publicado em 02/02/2018 às 07:00
Em 2018, um dos álbuns de maior vendagem na história da indústria fonográfica nacional completa 30 anos do seu lançamento, o "Xou da Xuxa 3".
No auge do programa infantil homônimo na Globo, o LP continha o carro-chefe da carreira musical de Xuxa Meneghel, "Ilariê", dentre outros grandes hits, como "Brincar de Índio", "Abecedário da Xuxa" e "Arco-Íris". Por isso, é considerado o mais importante na biografia da Rainha dos Baixinhos.
Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, o diretor artístico do "Xou da Xuxa 3", o produtor Max Pierre, conta que o disco levou em torno de quatro meses para ficar pronto e a meta era produzir um "disco pop infantil não imbecil".
"O diretor comercial da Som Livre, Heleno de Oliveira, após a venda do primeiro disco, aconselhou a não nos acostumarmos com esse número que seria, com certeza, um fenômeno difícil de se repetir. Quando lançamos o 2, ele disse que, talvez por ser um disco manuseado por crianças, o pai compraria uma segunda unidade, por isso esses números. No 'Xou da Xuxa 3', ele capitulou dizendo: 'não sei o que está acontecendo, mas ainda bem que o disco é nosso'. E brindamos muito a isso", relembrou Pierre, que produziu os LPs da apresentadora até o "Xou da Xuxa 7" quando, em 1992, se transferiu para a gravadora Polygram/Universal.
Foto: Jackson Ciceri/FNM
Segundo Pierre, foram mais três milhões e oitocentos mil unidades vendidas pela gravadora Som Livre. Números tão surpreendentes que passou a constar no Guiness Book como o álbum infantil mais vendido no mundo. "Marlene Mattos produzia lindos clipes de quase todas as músicas do disco para o programa, marketing imbatível na época para venda dos discos", avalia.
Com 42 anos de carreira e tendo produzido os principais nomes da música brasileira, entre eles Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Elis Regina e Cássia Eller, Max Pierre relembra que desta época, foi muito marcante os números de vendas atingidos por Xuxa, "que não era cantora, mas dona de um charme e carisma raros no mundo".
Dividindo a produção do disco com Michael Sullivan e Paulo Massadas, Pierre revela que a canção "Ilariê", inicialmente teria outro nome, “ILAIÊ”. "A música, de Dito e Cid Guerreiro, foi trazida para nós pelo Cid e pouca gente sabe, mas ela foi também a música responsável pelas vendas de mais de 3.000.000 de discos da Xuxa em espanhol, lançado nos EUA e em países de língua espanhola", explicou.
Apesar de não ser cantora, Xuxa era muito disciplinada, aprendendo rápido as músicas.
Max Pierre
Ao ser questionado se a apresentadora deveria apostar novamente na carreira musical, Max Pierre respondeu que não enxerga que seja saudável uma nova investida de Xuxa na música infantil. "Mas acredito que um musical sobre sua história seria um grande sucesso de público", sugeriu o produtor.
Confira a entrevista na íntegra:
Você tem uma singular história dentro do cenário artístico nacional e já produziu e lançou alguns dos principais nomes da música. O que significou para Max Pierre ter produzido o "Xou da Xuxa 3"?
Max Pierre - Quando Xuxa foi contratada pela TV Globo, Pelé sugeriu a João Araújo, presidente na época da Som Livre, que a contratássemos. Guto Graça Mello e eu dividíamos a direção artística e coube a ele produzir o primeiro disco dela na Cia. Logo após o primeiro Xou da Xuxa (2.700.000 LPs), Guto se desligou da empresa. Convidei para dividir comigo a sequência da produção os dois hitmakers Sullivan & Massadas. A progressão de vendas para todos nós foi impressionante, o segundo Xou da Xuxa vendeu 3.200.000 LPs e Xou da Xuxa 3 incríveis 3.800.000 unidades, números jamais vistos no Brasil.
Em junho, o LP "Xou da Xuxa 3" completará 30 anos desde seu lançamento pela gravadora Som Livre. Nesta época, quais histórias foram marcantes pra você durante a produção do álbum?
Max Pierre - Marcante sempre foi a venda dessa estrela, que não era cantora, mas dona de um charme e carisma raros no mundo. Curiosidade era o pessoal do MCDonalds da praia de Botafogo querendo saber da Yara (assistente do departamento artístico da Som Livre), quando Xuxa viria colocar voz. Como sempre estavam juntas as Paquitas e várias crianças, os pedidos de sanduíches e refrigerante (mais de 60 por vez) feitos por ela, tornava o faturamento do mês deles com certeza imbatível na rede. Nossos pedidos de músicas para repertório dos disco a autores no Brasil agitavam freneticamente o mercado autoral do país e, um detalhe luxuoso do disco: foi inteiro gravado pelo Roupa Nova.
O LP é o mais vendido na história da indústria fonográfica do país. Os sucessivos recordes de vendas lhe surpreenderam?
Max Pierre - Aconteceu um fato interessante nessa época. O diretor comercial da Som Livre, Heleno de Oliveira, após a venda do primeiro disco, aconselhou a não nos acostumarmos com esse número que seria, com certeza, um fenômeno difícil de se repetir. Quando lançamos o 2, ele disse que, talvez por ser um disco manuseado por crianças, o pai compraria uma segunda unidade, por isso esses números. No "Xou da Xuxa 3", ele capitulou dizendo: 'não sei o que está acontecendo, mas ainda bem que o disco é nosso'. E brindamos muito a isso.
O disco foi produzido em quanto tempo?
Max Pierre - Apesar de não ser cantora, Xuxa era muito disciplinada aprendendo rápido as músicas. Dependendo da agenda dela, cada vez mais congestionada pelo imenso sucesso do programa e dos discos, em média cada produção demorava dois meses em busca de repertório e mais dois de gravações das bases, vozes e mixagens.
Como era o processo e qual era sua maior preocupação na escolha do repertório? Apostava em alguma canção?
Max Pierre - A meta, desde o início, era produzirmos um disco pop infantil não imbecil, procurávamos temas infantis que julgávamos agradar as crianças...
Dentre outras, "Brincar de Índio", "Abecedário", "Dança da Xuxa", "Arco-íris" e "Ilariê" são composições incluídas neste disco. Existiu alguma faixa que tenha gerado alguma divergência de opinião entre você e a Marlene Mattos?
Max Pierre - Nunca houve divergência entre nós, Marlene sempre foi uma profissional de altíssimo nível, o repertório era escolhido de comum acordo, que eu me lembre, gravávamos sempre mais músicas e escolhíamos as que iriam para o disco em função de melhor resultado de arranjos.
Como era trabalhar com a ex-empresária da Xuxa?
Max Pierre - Nossa parceria sempre foi ótima, Marlene produzia lindos clipes de quase todas as músicas do disco para o programa, marketing imbatível na época para venda dos discos.
Qual era o grau de participação da Xuxa na escolha das músicas? Ela tinha alguma canção preferida?
Max Pierre - Ela era nossa estrela e assim era tratada, se não se sentisse bem cantando ou não curtisse o tema de alguma música, tirávamos do repertório, mas aprendemos a escolher o que a agradaria.
A música "Ilariê" é considerada o carro-chefe na carreira da Xuxa. Como a letra do compositor Cid Guerreiro chegou ao LP?
Max Pierre - O nome original era “ILAIÊ”, Sullivan que sugeriu a troca para “ILARIÊ”. A música, de Dito e Cid Guerreiro, foi trazida para nós pelo Cid e pouca gente sabe, mas ela foi também a música responsável pelas vendas de mais de 3.000.000 de discos do Xuxa em espanhol, lançado nos EUA e em países de língua espanhola.
Você foi responsável pela produção dos discos que obtiveram as maiores vendagens na carreira da Xuxa. Qual foi seu último trabalho na discografia da apresentadora? De quem foi a decisão de deixar de produzir seus LP's?
Max Pierre - Dirigi os discos dela até o "Xou da Xuxa 7", incluindo o disco em espanhol. Saí da Som Livre no fim de 1992 para assumir a direção de A&R da Polygram.
Na sua opinião, Xuxa deveria apostar novamente na carreira musical? Por quê?
Max Pierre - Xuxa atingiu números difíceis de serem superados por um novo artista, eu não enxergo hoje uma nova investida dela na música infantil como uma aposta saudável, mas acredito que um musical sobre sua história seria um grande sucesso de público.