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Documento NT: Williane Rodrigues fala do "SBT Brasília" e tempos como atriz


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Fotos: Divulgação

O Documento NT volta a ser destaque aqui no NaTelinha, mostrando os bastidores dos programas exibidos localmente pelo Brasil. Nesta edição, vamos até Brasília mostrar o sucesso do jornal "SBT Brasília", apresentado por Williane Rodrigues, na filial da emissora de Silvio Santos na capital federal.

Imprevisível pode definir bem a vida de Willane Rodrigues, ou Willie, como é carinhosamente chamada. Comandando o noticiário desde a saída de Neila Medeiros, que foi para São Paulo em setembro do ano passado, a moça conseguiu manter a vice-liderança do jornal, que fechou maio com 6 pontos no Ibope, atrás apenas da Globo DF. Mas a imprevisibilidade na vida de Williane começou bem antes: ela quase foi atriz, quando começou uma boa carreira na adolescência ainda. Mas por capricho do destino - e da não aprovação de sua mãe -, ela fez jornalismo para não largar comunicação, já que depois tinha decidido fazer artes cênicas.

Porém, ela acabou pegando gosto pela coisa, concluiu o curso e começou sua carreira na TV Brasília, afiliada da RedeTV!. E aí, o teatro quis voltar para a sua vida. Por um tempo, chegou a tentar conciliar as atuações com a carreira de jornalista, mas não teve jeito. O jornalismo falou mais alto e Willie ficou. Da TV Brasília, ela foi para o SBT Brasília, primeiramente em um jornal terceirizado local que existia na época, o “Cidade Viva”, e depois, como contratada do canal.

Excepcionalmente por telefone, Williane nos deu uma boa entrevista. Sincera, educada e divertida, Williane chama a atenção pela simpatia. Não teve problemas para falar sobre os seus concorrentes, os populares "Balanço Geral", da Record, e o "DF Alerta", da TV Brasília/RedeTV! e surpreendeu em alguns momentos. Sem dúvida, Williane é uma pessoa imprevisível, assim como o seu destino.

Confira a entrevista:

NaTelinha – Para começar, Willie, qual é o grande desafio de fazer um jornal local para você?

Williane –
Eu acho que assim, de uma forma mais ampla, os desafios são muitos. Desde estrutura para competir com outras emissoras, e tudo mais. Mas de uma forma macro, o principal desafio é chamar o público e mostrar um diferencial, você descobrir esse diferencial e tornar isso atrativo. Porque não adianta você ser diferente de outra emissora, se você não atrai. Os fatos acontecem, tem notícias todos os dias, só que o jornal tem meia hora de duração. A gente até brinca, que se pudesse teria uma hora, mas como não temos, temos trinta minutos para mostrar tudo que interessa a sociedade, televisão é uma coisa muito rápida. Tem algumas notícias que são importantes, e tem algumas que vão atrair o público, e muitas vezes, aquelas notícias que chamamos de factuais, as outras emissoras vão dar também, então a gente tenta ver de tornar este tema mais atrativo.

E normalmente, nesse horário, a gente concorre com o “Balanço Geral”, da Record, e com o “DF Alerta”. O “Balanço Geral”, todo mundo conhece o estilo. Já o “DF Alerta” tem sido até um problema nos últimos meses, porque eles dão muitas matérias policiais, crimes, estelionatários, presos, tráfico de drogas, mas principalmente, assassinatos, casos bizarros assim. Não sei porque o público desse horário gosta destas coisas. Talvez, forçando a barra um pouco, seja uma prestação de serviço. Qual localidade é mais violenta, que tipo de crime que está acontecendo mais, para eu me precaver, pra eu evitar certo tipo de coisa, eu acho que é nesse ângulo que as pessoas gostam de ver, porque a gente pensa: “que mundo cão é esse que a gente está mostrando? Sangue, corpo...”.  Esse tipo de coisa pode afugentar, mas não é o que a gente vê nesse horário. As pessoas gostam de ver, elas ficam barbarizadas, assustadas com o que veem. Eu acho que é uma forma de alertar, como eu disse. Até na hora de conversar com os adolescentes, mostrando como tá quadra tal, localidade tal. E violência nessa hora dá muito Ibope. A gente dá muito serviço, dá crime, mas puxamos mais para a prestação de serviço.

Voltando para a resposta do desafio, eu acho que é justamente esse, é você tentar ser diferente dos outros concorrentes desse horário e de uma forma que atraia do público, essa é a minha opinião.


NaTelinha – Você fez bancada, agora faz uma coisa mais informal. Como tem se adaptado?

Williane –
Eu ainda estou me adaptando. Eu fiz jornal mais quadradão, imparcial. Agora, eu estou me adaptando ao novo estilo. Eu tenho sido mais eu. Então, as pessoas acabam sentindo uma proximidade maior. A Williane jornalista, claro, está lá, mas a Williane Williane também está lá, entende? A pessoa que sente, que se indigna, que fica triste, chateada, que fica alegre. Eu acho que isso aproxima mais o público. “Ela é humana, ela sente raiva como eu sinto, ela é ela”, o público pensa assim. “Que legal, ela é humana”.


NaTelinha – Acho que as pessoas querem ver isso, uma pessoa mais humana, não um robô...

Williane –
Exatamente, não tem mais espaço. As pessoas já tem outras referências, tem que dar uma sacudida. Não tem jeito.


NaTelinha – Qual é a sua rotina diária, desde quando você acorda até você dormir?

Williane –
Então, eu acordo 5 da manhã, 5h30. Aí chego aqui na emissora, por volta de 6h30, aí vou me informar do que está acontecendo. Primeiro, me informo das pautas nacionais, porque eu participo do “Notícias da Manhã” com o César Filho, dou algumas notícias de Brasília, todos os dias. Aí, vou me preparar, maquiagem, cabelo, vou pro estúdio. Termino 8h30 minha participação, aí já vou me inteirar das coisas locais. O que aconteceu durante a madrugada, durante a manhã. E aí, eu vou para a ilha. Tem o editor-chefe, que é o Juan, ele distribui as pautas, o que todo mundo vai fazer, e tudo mais. E eu vou para a ilha de edição, mas eu não posso ficar o tempo todo lá, porque no meio do processo eu tenho que parar para gravar a chamada do jornal, com as principais notícias que a gente vai dar. Aí fico nessa correria de ir para a ilha, depois vou para o estúdio, aí vou correr atrás do que os editores estão fazendo, ver a matéria que pode render algum comentário ou não, algumas matérias eu não consigo ver, porque chegam de última hora, com o deadline estouradíssimo.

E algumas vezes, eu vejo a matéria no ar, porque não deu tempo, né. E aí, rende algum comentário mais espontâneo, que na hora que você ver, você quer falar. Não tem uma coisa engessada e eu vou comentar só tal e tal matéria. A gente tenta pegar uma resposta do governo antes, lógico, mas a opinião não fica restrita, a gente acaba deixando uma coisa muito solta, muito leve. Bem natural. Se eu achar que é importante comentar naquela matéria, que não posso ter visto, que eu vi no ar, eu tenho a liberdade de fazer isso durante o jornal. Meu editor fica meio louco no ponto, dizendo “Para de falar, menina!!!” (risos). Se eu não parar de falar, não dá tempo de dar as outras notícias, é aquilo que falei do tempo. Mas as vezes não tem jeito, tem matéria que rende mais ou não.

Aí acaba o jornal, nós temos uma reunião de pauta, depois da reunião, eu vou para alguns projetos que eu tenho fora daqui. Depois, eu fico me dividindo entre trabalho e casa, porque eu casei em novembro, e eu tô nessa vidinha de conciliar vida de dona de casa com o trabalho fora, então... Sabe como é.. (risos)

NaTelinha – Eu baixei sua ficha, tô sabendo. (risos) Falando na sua ficha, eu também descobri, e é uma coisa que temos em comum, que você quase foi atriz.

Williane –
Ai, meu Deus... Eu vou chorar aqui agora. (risos) Então, eu comecei na adolescência, eu tive o primeiro contato no segundo grau, no ensino médio como a gente falava, e aí eu fiz um teste, na época, era um sindicato das escolas particulares, era um projeto que eles tinham para incluir adolescentes no teatro. E aí, eles trouxeram um pessoal do Rio de Janeiro, um pessoal profissional, de verdade, para fazer uma peça. E aí eu fiz o teste, duzentas e poucas pessoas fizeram, e tinha que decorar um texto e fazer um teste de improvisação. Aí, quarenta pessoas foram selecionadas, e dezesseis pessoas ficaram para fazer a peça.

E a gente fez “O Auto da Compadecida”, antes da minissérie ser lançada. Tanto que, na época, essa peça estava fazendo o maior sucesso, e logo depois a série foi lançada, e aí que bombou mais ainda. Eu fiz Chicó! (risos). A  maioria do grupo era mulher, e a peça na maioria é homem. Tem o padeiro, tem o Bispo, o Padre, o João Grilo... E eu fiz o Chicó. E, assim, é a paixão da minha vida esse personagem. Eu digo que essa foi uma das, se não a mais feliz época da minha vida, uma das mais felizes da minha vida. E a gente fez em vários lugares, viajou pra participar de festivais, fomos para Curitiba, para Ponta Grossa, fomos para um monte de lugar. Só que, nessa época, minha mãe não concordava muito com isso... (risos)


NaTelinha – Mães nunca concordam com filhos que querem ser atores ou atrizes, é impressionante. (risos)

Williane –
Pois é. E o engraçado é que, no início, ela super deu apoio e tal, depois acho que ficou com medo. E isso foi meio frustrante na época, e quando a gente estava começando a fazer muito sucesso com a peça, aqui no Distrito Federal, uma semana antes da gente estrear no Teatro Nacional, ela me tirou da peça. E foi horrível, eu entrei em processo de conversão, não queria mais saber de teatro, chorei muito, foi bem traumático. Mas teve um pessoal que seguiu e fez artes cênicas, e aí eu já tava no meio, então decidir fazer algo no meio de comunicação.

Porque jornalismo? Não me pergunte porquê. (risos) Eu falei: “Ah, vou fazer jornalismo, mas o meu objetivo é fazer artes cênicas depois”. Nada, fiz igual a você, a vida foi tomando outro rumo. Já no quinto semestre, eu tive oportunidade de fazer estágio na televisão. Todas as minhas oportunidades foram na TV, eu sempre quis fazer rádio, mas sempre foram surgindo oportunidades de fazer televisão. E quanto eu estava na TV Brasília, eu tive a oportunidade de fazer uma nova peça, totalmente enferrujada já (risos). E foi maravilhoso, eu também tive a oportunidade de viajar fazendo essa peça, a diretora, inclusive, era a mesma que eu tinha feito algumas peças na adolescência, então, como eu disse, outros foram fazer artes cênicas, e ela foi uma dessas pessoas. Aí ela foi, tava comandando uma peça, do Lorenzo Cazarré, que é pai do Juliano Cazarré, hoje ator da Globo. O pai dele era escritor e a gente fez uma adaptação. E aí fiz essa peça, amei, e tentei conciliar o jornalismo com o teatro. Por um tempo, deu, mas depois não deu mais. Continuei no jornalismo.

Mas é maravilhoso o teatro, é o nosso sonho de consumo! (risos) Foi uma época muito boa, teatro é uma coisa muito boa. Mas eu continuei tentando conciliar, mas o teatro é muito desgastante, requer esforço, requer entrega, e eu não tinha tempo. Teve uma vez, que a gente viajou para o Mato Grosso, fazer uma peça no fim de semana, a gente foi de carro. E na volta, eu vim de carro viajando o domingo inteiro, para trabalhar cedo na segunda. Então, era puxado, mas valia a pena. Só de você, no fim, receber aquele aplauso maravilhoso, aquela plateia ovacionando seu trabalho...


NaTelinha – Você ganha seu mês, seu dia, seu ano, não é?

Williane
Exatamente, aí vale tudo o que você passou, a recompensa da alma, é bom demais.

NaTelinha – Por fim, porque a gente falou muito, eu tenho que te liberar: como é que você se define como pessoa?


Williane –
Como pessoa... Ai meu Deus, que difícil. (risos) Tem tantos sentidos... No geral, eu acho que eu sou muito emotiva, eu tento, para eu seguir no jornalismo, trazer a racionalidade. Não é ser imparcial, eu tento trazer a racionalidade. Porque se não, eu ia chorar o jornal inteiro, e eu ia me indignar e ia me tornar uma estressada histérica, então eu tento trazer a racionalidade. Claro, você tem que se indignar, se revoltar? Tem, mas tem que trazer a razão, senão você não consegue. É muito mundo cão, selvageria total. Você não consegue crer que o ser humano faz isso. E bicho, coisa que envolve bicho, meu Deus... Eu sou muito defensora dos animais, da causa animal e tudo mais.

Como pessoa, eu tenho sempre que tentar dosar o racional com o emocional, sou muito emotiva. E... Eu acho que como pessoa, é difícil falar da gente, né? (risos) Eu tento ser uma pessoa mais próxima das pessoas. Eu tento não me isolar. Eu tento atender todo mundo, ouvir o povo. Para poder me agregar, eu não sou aquela pessoa totalmente intransigente, até para eu poder crescer e tudo. Pode até ser um defeito, porque quando você ouve demais, você fica meio louca. Mas aí você tem que ter aquilo de dosar o que vai ser bom para a sua vida ou não vai.
 

Agradecendo a assessora de imprensa de emissoras locais do SBT, Vanila Pontes, e a Williane Rodrigues, pela boa entrevista. Até a próxima edição do "Documento NT"!

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