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Documento NT: Jéssica Senra fala sobre Ibope e polêmicas com o Bahia


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Foto: Divulgação

O Documento NaTelinha volta a ser destaque aqui no NT. Atendendo a pedidos, voltamos à Bahia, para entrevistar a jornalista Jéssica Senra, apresentadora do “Bahia no Ar”, da Record Bahia.

A apresentadora de 30 anos é destaque pela sua grande audiência: dentre os “Praça no Ar”, apresentados em todo o Brasil pela Record, o jornalístico baiano é o que tem o melhor Ibope, com média anual até agora de 7 pontos.  

Jéssica Senra pode ser vista como a atual queridinha dos baianos e tem um dos maiores salários entre jornalistas mulheres da Bahia, além de comandar um programa de rádio, nos fins de tarde da Rádio Sociedade.

Chego na emissora por volta de 6h50, e vejo ela se preparar para levar o programa ao ar. Jéssica se olha em um pequeno espelho algumas vezes, e lê algumas laudas. O jornal entra às 7h28. Como é matinal, a atração transita entre algumas pautas mais amenas e outras violentas, como uma senhora que foi assassinada ao ir comprar pão com o filho. Por duas vezes, Jéssica comenta as notícias com a vereadora de Salvador, Tia Eron.

Senra fica em total contato com a direção do jornal, que é feita por Ticiana Bittencourt. O "Bahia no Ar" chega ao fim às 8h40. Rapidamente, ela troca de roupa e se dirigie para fazer o link de Salvador no “Fala Brasil”. Ao terminar, Jéssica e eu vamos para a sala vip do canal, juntamente com a assessora de imprensa Jeniffer Homann.

Por lá, Jéssica me concede uma entrevista reveladora e exclusiva, e desabafa sobre vários assuntos, dentre eles uma possível desavença com a jornalista Daniela Prata, da TV Aratu/SBT – onde em um dia, chegaram a apresentar seus respectivos programas com vestidos iguais -, e sobre a acusação de ter recebido jabá para falar bem do Esporte Clube Bahia, fato que posteriormente o time negou e pediu desculpas para a jornalista. Jéssica criticou a cobertura da imprensa sobre o caso, dizendo que ficou bastante chateada com tudo do que foi acusada.

Confira a entrevista na íntegra:

NaTelinha – Como é a sua rotina diária de trabalho?

Jéssica Senra –
Olha, acordo ainda de madrugada, antes do sol sair. Venho pra redação, dou uma lida nos sites - porque chego antes do jornais chegarem. Vejo o nosso espelho (jargão jornalístico para VTs que já estão disponíveis), olho o que já tem programado. Aí comparo pra ver se aconteceram coisas que não cobrimos e, em caso positivo, tentamos trazer a notícia de outras formas - uma nota seca, um ao vivo, no helicóptero... E aí vou discutindo com Tici, minha diretora, como é que a gente vai ilustrar, com imagens de arquivo, etc. Tici é quem prepara e comanda o programa, mas está sempre aberta a minhas sugestões. E você acompanhou que é durante o programa que a gente vai fazendo o jornal.

Depois, sigo pro camarim pra trocar de roupa e maquiar, volto à redação para uma última checagem no espelho. Vou para o estúdio e, enquanto aguardo o horário, dou uma olhada no que está saindo de notícias ou informações nas redes sociais: Twitter, Instagram, nosso WhatsApp, pra ver se tem alguma coisa mais atual ainda.
 


 

NaTelinha E quando acaba o "Bahia no Ar", acabou o trabalho?

Jéssica Senra –
Terminado o programa, faço o link do “Fala Brasil”. Depois geralmente me reúno rapidinho com Ticiana e Barreto (Marcus Barreto, gerente de jornalismo da Record Bahia) para discutir o programa, Ibope, o que podemos melhorar pro dia seguinte…  E, mesmo durante o dia, Tici e eu vamos nos falando sobre o que podemos ter no programa seguinte, vendo os nossos jornais, vendo a concorrência, internet, redes sociais, fontes… É sempre assim, 24 horas ligada. De tarde, vou para a Rádio Sociedade, para o programa "Sociedade Alerta". À noite, volto pra casa, vejo os jornais que puder ver, dou uma lidinha e é isso. Enquanto eu puder, eu fico ligada na notícia.


NaTelinha – Você apresenta um programa popular, que as pessoas consideram popular, e esse meio ainda é bastante masculino. Você ainda sofre algum tipo de resistência ou preconceito?

Jessica Senra –
Ah, sim. Sofri um pouco e acho que ainda há gente que tem preconceito. Mas também acho que consegui quebrar algumas barreiras nesse sentido. Hoje somos assistidos por pessoas de várias classes sociais e que percebem que jornalismo popular não é sempre sensacionalista nem vazio. Eu gosto desse formato porque é como se eu estivesse sentada no sofá conversando com o telespectador. Sim, às vezes falo mais alto, me emociono, faço um comentário mais duro... Porque me recuso a dar notícias de tragédias como quem dá uma receita de bolo, sabe? É preciso mais emoção no jornalismo. Acho que o telespectador tem que se indignar e se envolver com as notícias também.


NaTelinha E como você sentia esse preconceito?

Jéssica Senra –
Já ouvi gente falar coisa do tipo: “Ah, você é tão bonita, poderia estar fazendo outras coisas, você é tão talentosa”, como se isso fosse uma coisa ruim. Dizem logo que é sensacionalista, colocam um rótulo pejorativo. E eu tenho muito orgulho do tipo de jornalismo que eu faço, porque acredito que damos voz a uma parte da população muito oprimida, que historicamente não tinha voz. Eu falo, em boa parte, para as pessoas que têm menos acesso à educação e informação. E acredito que informação é instrumento de transformação. O desafio diário é fazer esse público menos esclarecido compreender o que eu estou dizendo. Isso é uma coisa que Raimundo Varela faz muito bem, ele se comunica diretamente com o povo. Eu tenho tentado aprender nesse sentido.


NaTelinha – A TV aberta hoje mudou, está mais pro povo, para as classes mais baixas. Por isso que você acha que o estilo de se fazer jornalismo mudou muito, não só na Record, mas em outras emissoras também?

Jéssica Senra –
Porque é a maioria da população, né? O Brasil é um país rico, mas a maioria dos brasileiros vive na pobreza. É vergonhosa a nossa desigualdade social. E nenhum jornalismo pode ignorar esta realidade. No caso da TV aberta, esse é um grande público. Embora estejamos perdendo espaço para a Tv fechada, porque hoje qualquer pessoa que tenha um pouco mais de condições já tem a sua TV a cabo, a sua TV por satélite, que traz mais opções, são mais canais. Eu acho que o futuro da TV aberta é bem crítico, acho que temos que repensar a TV aberta, porque vai chegar um momento que as pessoas vão escolher o que querem ver, no horário em que elas querem ver. A TV aberta oferece aquilo ali, naquele horário, tudo certinho. De repente, a pessoa quer ver o meu programa, mas às 7h30 da manhã, ela tem que estar no trabalho. Então, acho que é preciso repensar todo este modelo de televisão, o que estamos oferecendo de conteúdo, etc.
 


NaTelinha – Como você começou sua carreira?

Jéssica Senra –
Olha, eu acho que jornalista nasce, né? E a vida te leva a você acabar fazendo isso. Eu acho que eu sempre tive o jornalismo dentro de mim, porque eu sempre fui curiosa acerca da vida. Eu via uma coisa, eu ia procurar na enciclopédia - porque na época eu não tinha Google! -, sempre gostei muito de ler livros, então eu sempre tive curiosidade e o básico do jornalismo é isso. E depois você tem que saber contar história, e pra isso você vai aprendendo técnicas. Mas a curiosidade, a vontade de comunicar, de passar esse conhecimento adiante, é o que te faz jornalista. E isso sempre esteve na minha vida, mesmo que eu não tivesse percebido. E eu comecei a ver que isso era a minha quando comecei a trabalhar como modelo, na área de publicidade, nesse meio de comunicação, de televisão, e comecei a me encantar por esse mundo. Eu até cheguei a fazer vestibular pra Medicina, mas acabei no jornalismo e foi a melhor coisa que fiz, porque eu não me vejo fazendo nada diferente.


NaTelinha – Você mudou de horário algumas vezes...

Jéssica Senra –
Cinco vezes.


NaTelinha – Exato. Foi pro meio-dia, voltou pra manhã, mudou de horário de manhã. Qual é a diferença do meio-dia para a manhã e em questão de audiência, como você avalia o público?

Jéssica Senra –
De manhã, a pessoa está se preparando para sair de casa, ainda acordando. No meio-dia, a pessoa já está no ritmo, o dia já está acontecendo. Por um lado, de manhã é aquela coisa de arrumar as crianças, tomar o café enquanto apenas ouve a TV. Então é prestar o serviço mesmo. Meio-dia a pessoa dá aquela paradinha para almoçar e aproveita para se entreter com a TV.


NaTelinha  - De manhã é mais tranquilo?

Jéssica Senra –
É, sim. De manhã, a pessoa tá começando o dia, ela tá se preparando pro que vai vir, então eu não posso chegar gritando. (risos) Eu não posso chegar com a mesma energia que eu chegava ao meio-dia, por exemplo. E de manhã, na minha concepção, o primeiro jornal tem que te informar o que aconteceu durante a madrugada, fazer um resumo do dia anterior, atualizando os fatos, e prestando serviço, preparando para o dia que vai começar. Então, o trânsito é importante, eventos que estejam acontecendo... Prestando serviço mesmo. Tem menos polícia do que eu costumava noticiar. No meio-dia, o dia já está caminhando, a pessoa já viu muita coisa. E Zé Eduardo (apresentador do “Se Liga Bocão” da mesma emissora) há alguns anos trouxe essa ideia de programa policial para a Bahia e acabou criando esse hábito no público. E todo mundo passou a fazer. Tem uma guerra das tevês aqui.

Já no meu horário eu concorro com um outro programa local e o resto é programação nacional. E, graças a Deus, temos uma vice-liderança consolidada e brigamos dia a dia pelo primeiro lugar. E muitas vezes conseguimos. Mas brigar com o costume das pessoas é difícil. Você desbancar aquilo ali, que já está instituído, é uma disputa difícil, é um desafio. Portanto, meu programa de manhã é mais tranquilo do que era ao meio-dia, mas não significa que seja moleza não! (risos)

 
NaTelinha – Como você avalia seus concorrentes no horário? Não sei se você tem tempo de ver, não sei se você já viu, porque você está no ar...

Jéssica Senra –
Infelizmente, não consigo assistir porque ou estou me preparando para o programa ou estou no ar. Do estúdio, até chego a ver o assunto que está lá, mas não ouço, porque tô no meu. É muito difícil.


NaTelinha – Você tem algum problema com a jornalista Daniela Prata?

Jéssica Senra –
Não, não tenho nada contra ela. Ao contrário, acho-a uma grande profissional. Trabalhamos juntas uma época, não chegamos a ser amigas, mas sempre respeitei e admirei o que ela faz como profissional. Se não me engano, foi a primeira mulher a ter um programa popular na TV baiana, o que não é nada fácil, ainda mais quando se é sensível como nós duas somos. A gente passa por muitas pressões todos os dias e nem sempre a gente consegue lidar bem com tudo.


NaTelinha – Como foi a reação do público sobre aquela lista do Bahia, onde você apareceu sendo acusada de receber jabá para falar bem do clube? Tomou alguma medida judicial?

Jéssica Senra –
Olha, foi muito difícil. Fui muito ofendida, sobretudo nas redes sociais. Mas, diante do que fui acusada, acho que a reação do torcedor foi natural, compreensiva. O problema é que foi uma acusação injusta e equivocada. E acho que minha maior decepção foi ver como muitos colegas da imprensa descumprem preceitos básicos do jornalismo, como ouvir a outra parte antes de publicar uma acusação. Apenas um jornalista me ligou pra saber se era verdade. E, sim, já entrei com as medidas judiciais.
 


NaTelinha – Não sei se você sabe, mas foi feito um levantamento e, de todos os “Praça no Ar”, exibido pela Record em toda a rede, você é a que tem o maior Ibope neste ano, até agora...

Jéssica Senra –
Ah, é? Sabia não.. (risos)


NaTelinha – Tá sabendo agora. (risos) Então, isso é fruto de quê exatamente? E suas chances nacionalmente tem aumentado justamente por causa dessa audiência sua...

Jéssica Senra –
Você que tá me dizendo tudo isso, confesso que não sabia. (risos) Sobre a audiência do “Bahia no Ar”, assim, eu comemoro, claro. Nosso mercado se baseia nisso, é importante. Mas Ibope é uma coisa que não entendo muito bem ainda! (risos) Algumas vezes, você está bem e, do nada, você continua fazendo o programa do mesmo jeito, com a mesma pegada, e o Ibope não corresponde. Então, esse não é o meu único parâmetro. E também eu não me iludo, porque televisão é uma luta todo dia. Não tem isso de “cheguei aqui, é meu”. Você tem que conquistar o seu público dia a dia. Então não fico iludida quando ele está lá em cima, como também não me desespero quando ele está em baixa, porque eu sei que é do jogo, é normal. Temos que trabalhar para prestar um bom serviço e surpreender nosso público sempre. E os resultados que temos conseguido, chegando a liderança, me enchem de alegria ao mostrar que é possível desafiar a líder e chegar ao primeiro lugar. É possível, sim. Mas aí, é o que eu digo sempre, é trabalho diário.

Eu agradeço sempre a minha diretora Ticiana Bittencourt, porque é minha grande parceira, é a pessoa mesmo que briga junto comigo no jornal, além de toda a equipe da Record, desde os pauteiros, que pensam as ideias, os produtores, a chefia que coordena esses meninos, os cinegrafistas, os motoristas, o pessoal da técnica que me coloca no ar... Então, é toda a equipe que faz esse sucesso do “Bahia no Ar”. É toda essa engrenagem que, às vezes, não aparece na tela, exceto pelos repórteres, mas que são fundamentais pra tudo funcionar. E fora o amor que eu sinto pelo que eu faço, eu realmente gosto muito do meu trabalho, eu gosto de conversar com o público, eu venho feliz da vida pra cá, apesar de todos os sacrifícios e de todas as pressões, de estar 24 horas ligada, de acordar de madrugada...


NaTelinha – Realmente, eu acordei de madrugada pra vir para cá e isso não é muito agradável mesmo... (risos)

Jéssica Senra –
Pois é! E ter que fazer dieta é chato também! (risos) E tem o dia a dia, né? Você tem que opinar, algumas vezes uma pessoa não concorda, e essa resposta vem de uma maneira muito agressiva. Hoje em dia você tem WhatsApp, e as pessoas mandam para nós coisas legais, elogios, amor e carinho, mas também mandam coisas muito agressivas. Isso me machuca muito. Ainda não aprendi a lidar com isso. Algumas vezes até respondo: “Olha, não precisa pegar pesado assim, vamos discutir, mas com argumento, sem agredir!”. Eu sou um ser humano, né? As pessoas acham que só porque eu estou lá na TV, eu sou um personagem, um robô. Não, eu tenho sentimentos, isso mexe comigo, como as reportagens mexem comigo, como os elogios também mexem... (risos)


NaTelinha – E o “Fala Brasil”, como foi? (Jéssica apresentou uma edição de sábado do jornal, juntamente com Roberta Piza, em novembro de 2013)

Jéssica Senra –
Olha, apresentar o “Fala Brasil” foi uma experiência maravilhosa! Ver de perto e participar de um jornal que para mim é um dos melhores programas da TV brasileira, ver toda a estrutura da Rede em São Paulo, ser recebida por uma equipe tão fera e tão carinhosa. Roberta, que é uma simpatia, foi muito generosa e parceira comigo. Todos foram muito gentis e atenciosos. Quando recebi o convite, foi realmente uma surpresa. Depois, chegamos a conversar para participar outras vezes, mas veio o fim de ano, vieram as minhas férias, eu retornei, o “Bahia no Ar” mudou de horário de novo... Enfim, é um novo público pra gente conquistar, mas é possível eu fazer em um fim de semana de novo, se rolar o convite! Mas eu gosto muito da Bahia, acho que fazemos um trabalho muito bom aqui, então não estou focada em ir para a rede. É lógico que, se precisarem de mim, estou à disposição, mas não é uma coisa que eu estou planejando. Se rolar, rolou.


NaTelinha – Pra terminar, como você se define como pessoa?

Jéssica Senra –
É sempre difícil responder essa pergunta, porque estamos sempre nos buscando, né? Procurando nos conhecer... Mas acho que me defino como um ser humano procurando ser melhor a cada dia, no meu trabalho, com a minha família, entre os meus amigos... Tenho fraquezas e falhas como todo mundo, faço bobagens, mas estou todos os dias empenhando esforços em ser melhor.


NaTelinha – Já conseguiu tudo o que você sonha?

Jéssica Senra –
Não, menino, eu só tenho 30 anos de idade! (risos) Eu sonho com tantas coisas, coisas tão grandes..! Sonhos que talvez eu nem possa ver realizados nessa vida, como viver em uma sociedade mais justa, com menos sofrimento, com menos desigualdade. A gente já vê como algo comum, mas é triste demais ver criança na rua, gente morando em condições desumanas, tanta violência dentro e fora de casa... Eu sei que é uma realidade que você vê desde sempre aqui, e a gente já trata como uma coisa normal, mas isso não devia ser normal, não está certo, sabe? Eu gostaria de viver em uma sociedade em que as pessoas fossem mais respeitadas.

Essa questão do racismo, que virou notícia recentemente, por causa da atitude de Daniel Alves: temos tantos outros preconceitos que machucam os outros, preconceito com homossexuais, preconceito por causa de sua religião, preconceito com as pessoas por causa de sua forma física, porque é mais gordinho, é mais branquinho, porque é careca, porque é barbudo, ou seja, tudo as pessoas encontram maneiras de diminuir o outro, em função de características físicas ou comportamentos. Temos que aprender a respeitar e a valorizar o outro. O mundo anda muito carente! Já viu quanta necessidade de ter suas fotos e comentários “curtidos” nas redes sociais? (risos) Precisamos dar mais amor! Então, são esses sonhos que acho que são difíceis de realizar.

Mas tenho outros desejos menos nobres, digamos assim, pessoais e profissionais, e estou trabalhando para realizá-los. Acho que quando a gente se dedica e põe amor no que faz, tudo é possível.

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