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Rede Manchete completaria 30 anos nesta quarta; relembre sua história
Por Redação NT
Publicado em 05/06/2013 às 14:12
A Rede Manchete, canal de propriedade do empresário Adolpho Bloch, estaria completando hoje 30 anos de atividade caso ainda estivesse no ar.
A emissora, que estreou no dia 5 de junho de 1983, foi encerrada em 10 de maio de 1999 após uma sucessão de erros de planejamento, os quais acarretaram em milionárias e impagáveis dívidas. Salários atrasados, investimentos mal sucedidos, aliados à queda drástica de audiência e a fuga de profissionais renomados para canais com maior estabilidade, como a Globo, Record e SBT, culminaram no encerramento de suas atividades menos de 20 anos após sua inauguração.
História:
A Rede Manchete entrou na casa dos brasileiros em um domingo. Neste dia, foi ao ar uma contagem regressiva e na sequência um discurso de Adolpho Bloch. Com um pacote gráfico futurístico e inovador, a Manchete prometia revolucionar a televisão brasileira.
O imponente prédio da Manchete no Rio de Janeiro; o edifício foi totalmente
reformado e agora é ocupado por empresa de investimentos
Divulgação
O primeiro programa veiculado foi o "Mundo Mágico", show com participação de diversos conjuntos musicais. Ainda na noite de estreia, foi exibido o filme "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", de Steven Spielberg, que impôs a primeira grande e amarga derrota à Globo no Rio por um placar de 27 a 12 pontos.
Dramaturgia:
A Rede Manchete apostou em uma dramaturgia inovadora e diferente da que a Globo levava ao ar. A emissora investiu na contratação de nomes em ascensão no canal carioca, como a autora Glória Perez, o diretor Jayme Monjardim, os atores Lucélia Santos e Maytê Proença, e outros de grande prestígio, como os roteiristas Benedito Ruy Barbosa e Manoel Carlos.
Manoel Carlos: autor e outros colegas de dramaturgia como os autores Benedito Ruy Barbosa
e Glória Perez deixaram a Globo e ingressaram na Manchete
Divulgação/Globo
A Manchete emplacou novelas de bons resultados, como "Dona Beija", "Corpo Santo", "Carmem", "Kananga do Japão", "A História de Ana Raio e Zé Trovão", "Mandacaru" e "Xica da Silva", porém seu grande sucesso foi "Pantanal", de Benedito Ruy Barbosa e de direção de Jayme Monjardim.
"Pantanal" chegou a ser apresentada à Globo anos antes de Benedito assinar com a Manchete, mas acabou preterida pela direção da emissora. Entre as supostas alegações estavam o alto custo que seria deslocar uma equipe de gravação para um local tão distante e desprovido de estrutura, como o pantanal mato-grossense.
Benedito Ruy Barbosa: autor volta à Globo após fenômeno de "Pantanal" em
grande estilo e é chamado pela imprensa de "O Mago das Novelas"
Divulgação
O sucesso da novela foi tamanho que Benedito Ruy Barbosa, então autor de novelas das 18h da Globo, como "Paraíso" e "Meu Pedacinho de Chão", voltou à emissora em alta e emplacou "Renascer" no horário das 21h. O diretor Jayme Monjardim também fez o mesmo caminho de volta.
Já a Manchete tentou repetir o sucesso com "Amazônia". Duas cidades cenográficas chegaram a ser erguidas e, embora não contasse mais com o texto de um autor como Benedito e da segura direção de Monjardim, houve compensações por meio de um alto orçamento e um time de atores em ascensão, como Marcos Palmeira, Cristiana Oliveira e Julia Lemmertz, alternados com outros de maior bagagem, como José de Abreu, José Dumont, Leonardo Villar, Antonio Petrim, Antonio Abujamra e Jussara Freire. A aposta não deu certo e, ainda que com várias mudanças em seu texto, nem de longe o Ibope alcançado se parecia com o de "Pantanal".
A Manchete sofreu uma série de baixas ao longo dos anos 90. O sucesso de "Pantanal", aliado ao bom desempenho de atores e diretores, chamou a atenção da Globo, que trouxe de volta vários nomes e contratou outros da concorrente. Além da dupla Benedito e Jayme Monjardim, também voltaram à Globo Glória Perez, José Wilker, Luiz Fernando de Carvalho, Maytê Proença, entre outros.
Taís Araújo em "Xica da Silva": Manchete volta a ter bons momentos na dramaturgia
com obra de Adamo Angel, pseudônimo de Walcyr Carrasco
Divulgação
As apostas então passaram a ser em nomes menos consagrados tanto atrás das câmeras como na frente. "Xica da Silva", um dos últimos sucessos da rede, teve a autoria de Walcyr Carrasco, cuja carreira como autor de novelas estava começando. Walcyr assinou a novela como Adamo Angel.
Taís Araújo, Victor Wagner e Drica Moraes, todos com poucas ou pequenas participações na dramaturgia, ocuparam os papéis principais. De alto escalão, havia sobrado apenas o diretor Walter Avancini, um dos maiores defensores da existência de um núcleo de dramaturgia alternativo ao da Globo.
Artístico:
A Manchete apostou bastante em sua linha de shows e em programas do departamento artístico. Raul Gil, por exemplo, tinha um programa de auditório nos moldes do que apresentou posteriormente na Record, Band e hoje em dia no SBT.
Angélica, que comandava o "Angélica Milk Shake", foi um dos nomes projetados pela Manchete
e que hoje é uma das principais apresentadoras da Globo após passagem pelo SBT
Divulgação
Foi na emissora carioca que Angélica começou sua carreira e se consagrou. Entretanto, como a maioria dos nomes em ascensão, acabou sendo seduzida por canais com maior visibilidade, e assinou com o SBT e depois migrou para a Globo, onde está até hoje. A menina Debby Lagranha foi outra que começou no canal e depois se transferiu para a concorrente.
A programação infantil nunca foi deixada de lado e a rede foi uma das poucas a investir em animes japoneses e em séries como "Cavaleiros do Zodíaco", "Jaspion", Sailor Moon", entre outros.
Jornalismo:
Com grande foco na política, economia e diferenciando-se por não ceder à apelação policial, a Manchete teve um jornalismo de bastante prestígio.
Claudia Barthel no comando do "Jornal da Manchete"
Créditos: Diego Montano/Portal Rede Manchete
O departamento projetou nomes que até hoje estão no ar, como Mylena Ciribelli, Claudia Barthel, Alexandre Garcia e Carlos Chagas. O "Jornal da Manchete", em determinadas épocas, chegou a ficar no ar por cerca de três horas e, em outras, chegou a ter uma edição vespertina.
Coberturas, como a do Carnaval do Rio de Janeiro, que hoje são de alto valor comercial, devem parte de sua valorização à Manchete, que sempre apostou pesado nos desfiles. Outros eventos esportivos, como a Copa do Mundo, também tiveram atenção especial por parte do núcleo de jornalismo.
Decadência:
Os primeiros sinais de decadência da Manchete foram perceptíveis em 1998. "Mandacaru", na época em cartaz, apesar de bons números, exigia altos investimentos e não tinha um bom retorno comercial. Os noticiários e a linha de shows também já não vinham com o mesmo apelo de antigamente.
Pôster de "Brida", novela protagonizada por Carolina Kasting: alto investimento e direção
de Walter Avancini não são suficientes para agradar telespectador; folhetim é encerrado com
pouco mais de 50 capítulos após greve - Créditos: Diego Montano/Portal Rede Manchete
Na dramaturgia, foi dada a última cartada com "Brida", romance inspirado no original de Paulo Coelho. Não foram poupados investimentos, afinal acreditava-se que a produção seria responsável por reerguer a dramaturgia e consequentemente o canal.
A aposta foi em vão. "Brida" tinha patrocinadores garantidos caso alcançasse ao menos 5 pontos de Ibope - embora as expectativas fossem muito maiores. Com os números abaixo do prometido, o mercado publicitário abandonou a trama, que passou por uma série de alterações. Cenas eróticas foram inseridas mas não houve reação.
Nem mesmo a direção de Walter Avancini, um dos mais renomados diretores do Brasil, foi suficiente para tornar a trama um sucesso. A exibição, que deveria ultrapassar a casa dos 150 capítulos, foi abreviada para 54 e o desfecho dos atores foi ao ar em narração em decorrência das greves que impossibilitavam a continuação das gravações.
A maior parte das afiliadas migrou para a Band, Record e SBT e a gestão dos herdeiros de Adolpho Bloch, falecido no fim de 1995, após um certo êxito no começo, começou a desandar. Até mesmo uma parceria com uma igreja evangélica chegou a vigorar mas foi desfeita meses mais tarde.
RedeTV!:
A Manchete foi adquirida pelo empresário Amílcare Dallevo. Ele, na época, explorava os serviços de 0900, utilizados para a concessão ou sorteio de prêmios ou televendas. Assim, surgiu a RedeTV!.
RedeTV! e sua primeira sede, na cidade de Barueri
Divulgação
Apesar do encerramento oficial da Manchete, reflexos da emissora se estendem até os dias de hoje. Dívidas trabalhistas não reconhecidas pela RedeTV! e outras ações na Justiça vieram se desenrolando durante os anos 2000 e muitos trabalhadores seguem sem receber, ainda que Dallevo tivesse prometido honrar as dívidas com os funcionários da Manchete atendendo a uma exigência do Ministério das Comunicações.
A RedeTV! chegou a manter alguns nomes da Manchete, como Claudia Barthel e Denise Campos de Toledo. Entretanto, em nenhum momento dos seus mais de 13 anos de história, o canal chegou a ter estrutura similar à da antecessora. Até hoje, a RedeTV! jamais veio a produzir uma novela sequer e seu núcleo artístico, de jornalismo e de esportes é bem mais enxuto se comparado ao da empresa da família Bloch.
Atualmente o nome "Manchete" pertence à TV Pampa, afiliada da RedeTV! no Rio Grande do Sul. Desde o fim da Manchete, rumores surgem com frequência sugerindo uma retomada da emissora ou o reaproveitamento do nome de alguma forma, o que nunca aconteceu.
As únicas lembranças da Manchete junto aos telespectadores e antigos colaboradores pode ser percebida ao longo destes últimos anos, com a aquisição de parte de seu acervo de dramaturgia pelas suas antigas concorrentes.
O SBT reprisou "Xica da Silva", "Pantanal", "Dona Beija" e "Ana Raio e Zé Trovão". Já a Band transmitiu - e com êxito - "Mandacaru". "Pantanal" chegou a bater a inédita "Chamas da Vida" da Record, enquanto as outras tiveram índices menores, mas ainda assim satisfatórios levando em conta o baixíssimo investimento feito e o retorno conquistado.
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