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"Passione" chega ao fim em alta para uma dramaturgia em crise


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Divulgação/Globo
Por Redação NT

Publicado em 16/01/2011 às 16:04,
atualizado em 29/05/2023 às 10:41

O desfecho de "Passione", que foi ao ar na noite da última sexta-feira (14), mostrou que ainda é possível fazer uma boa dramaturgia, com uma trama dinâmica e que prende o telespectador, porém ao mesmo tempo ratificou que o segmento vive em uma crise de criatividade e de responsabilidade dos autores.

Ao longo de seus aproximadamente oito meses de exibição, a novela das nove foi defendida por um bom elenco - embora nem todos tenham correspondido a altura. A direção foi de Denise Saraceni, que teve neste um de seus melhores trabalhos. Apesar de altos e baixos, a trama de Sílvio de Abreu terminou com um saldo positivo.

Em seu início, "Passione" aparentava que não iria resistir a sina que persegue os autores de folhetins das 21h da Globo. Há anos, salvo raras exceções, após a exibição da primeira semana a imprensa anuncia: "novela das nove tem a pior semana da década". Com "Passione" realmente não foi diferente. O conjunto de belas cenas na Itália e de outras bem dirigidas em São Paulo não foi suficiente para cativar sequer o mesmo grupo de telespectadores que acompanhava a tão criticada "Viver a Vida".

Apesar da crise das primeiras semanas, era nítido que os ingredientes de um folhetim de sucesso estavam todos inseridos, embora de forma um pouco distinta do habitual. Um protagonista, dois vilões, um núcleo de humor, tramas paralelas bem sustentadas e promessa de suspense faziam "Passione" um iminente sucesso - diferente da trama de Manoel Carlos.

No decorrer de "Passione", Mariana Ximenes cresceu na pele da vilã Clara e teve o maior papel de toda sua carreira. Entretanto, quando citamos o elenco é que os primeiros pontos negativos começam a aparecer. O primeiro exemplo é o de Tony Ramos. A construção do personagem foi excelente e realmente é inimaginável ver outro ator interpretando o Totó. Entretanto, essa novela não acrescentou muito à carreira do ator. Diante de tantos personagens similares e seguidos, a sua participação vem se tornando corriqueira e sua imagem desgastada.

Por outro lado, Gabriela Duarte, após treze anos, finalmente conseguiu enterrar a imagem da "chata" Maria Eduarda de "Por Amor", reprisada no Viva. "Chiquinha Gonzaga" ou "Sete Pecados" não chegaram aos pés de apagar ou atenuar a rejeição que o público tinha a ela pelo fato de seu personagem em 1997. Por fim, a segunda baixa foi a de Carolina Dieckmann, intérprete da Diana. Essa nem de longe foi a melhor personagem da vida da atriz - assim como não foi a pior se comparado com o papel que teve em "Três Irmãs". A culpa do fracasso da Diana foi assumida pelo próprio Silvio de Abreu, que reconheceu que quando a jornalista havia escolhido casar com Gerson o papel havia se perdido.

Diante de uma trilha sonora impecável, produção muito bem acabada e descontando os altos e baixos do elenco, o que tornou o final de "Passione" um tanto amargo foi a falta de criatividade de Silvio de Abreu. 

Em uma das cenas do último capítulo, vemos Clara fugindo e uma cena de acidente de carro no qual todos acreditaram que ela havia morrido - quando na verdade havia sido outra personagem. A cena foi quase um remake da morte de Bia Falcão, há cinco anos. Bia não havia morrido e sim uma outra mulher. A versão de 2011 foi piorada, afinal de uma mega produção na Rodovia dos Imigrantes a de agora foi reduzida a alguma tomada feita nas imediações do Projac. Aproveito também para questionar que no ano em que estamos não houvesse nenhum médico legista para verificar se o braço carbonizado era realmente o de Clara. Confesso ser leigo no assunto, mas será que nenhuma impressão digital realmente poderia ter sido encontrada? E esse erro se repete em outra cena, a qual vou falar mais abaixo.

Outro clichê foi a autoria do assassinato de Saulo, vivido por Werner Schunemann.  A responsável pela sua morte havia sido a grande vilã da história quando na verdade o autor poderia ter buscado alternativas para inovar e surpreender o público. Apesar disso, a justificativa dada convenceu. O que não convenceu foi o fato de Clara não ter sido culpada pelo crime. No capítulo em que Saulo foi assassinado, inúmeros policiais interditaram o quarto e outras áreas do motel. Será que nenhum investigador encontrou fios de cabelo ou digitais que pudessem levar a Clara? Sei que se a novela fosse explicada nos mínimos detalhes não teria graça, porém no ano em que estamos, na sociedade em que vivemos onde crimes dos mais misteriosos como o da morte da menina Isabela são totalmente desvendados com a ajuda da tecnologia, os autores de novelas precisam se atualizar e elevar o grau de inteligência em suas tramas.

E voltando a falar de Clara, na última cena da novela ela aparece em um agradável resort a beira mar como cuidadora de idosos. Um desfecho muito parecido com o de Bia Falcão, que reapareceu em Paris longe de qualquer possibilidade de ser presa.

Diante de todos esses fatos e levando em conta o que a própria Globo exibe ou o que as concorrentes levam ao ar, "Passione" terminou em alta. Foi melhor que "Viver a Vida" e a vejo como superior a "Caminho das Índias". A trama é equiparada a "A Favorita", de João Emanuel Carneiro. As duas, se unidas, formariam a melhor novela já exibida. O eixo principal do folhetim de Carneiro era mais forte que o de "Passione". Porém, ao mesmo tempo, as tramas paralelas traçadas por Silvio de Abreu batem, de longe, as criadas pelo seu antigo supervisionado.

Por André Luiz Batista
diretodatelinha@natelinha.com.br

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