De volta às novelas da Globo, Maria Flor defende a legalização da maconha: "País hipócrita"
Aos 40 anos e prestes a retornar à televisão, a atriz fala sobre sua experiência com a cannabis
Publicado em 29/08/2024 às 21:05
Aos 40 anos, Maria Flor se prepara para voltar às novelas em Garota do Momento, próxima trama das seis da Globo. Em uma longa entrevista à revista Breeze, a atriz falou sobre a sua relação com a maconha e defendeu a legalização da erva no Brasil.
"Quando eu comecei a beber, eu parei de fumar [maconha]. E eu acho a bebida uma droga muito perigosa. Muito. É muito rápido o quanto você vira dependente daquela quantidade de álcool. E o quanto você rapidamente duplica, triplica e vai indo, infinitamente, numa compulsão mesmo pro álcool. Porque o álcool, ele também te dá uma anestesiada, mas ele faz muito mal pro organismo. Você pode pegar um carro e matar alguém, você fica agressivo com o álcool, que é uma coisa que não acontece com a maconha, realmente. A maconha não é uma droga da violência. A maconha é da calma, de pensar na sua vida, nas suas coisas, de sensibilizar os seus ouvidos, o seu olfato, o seu olhar. A maconha é uma substância muito poderosa e muito bonita", disse Maria Flor.
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"E hoje em dia, eu faço um consumo muito pontual. Mas sempre numa intenção de relaxamento e de baixa de ansiedade. Eu percebo que o álcool, por exemplo, quando eu consumo, no dia seguinte, eu fico muito ansiosa. O álcool me traz muita ansiedade. Tenho familiares com problemas com álcool e tenho muitos amigos com problemas com álcool. O álcool deveria ser uma droga muito mais controlada do que ela é", opinou.
"No Brasil somos muito viciados em álcool. Muitos acidentes acontecem por conta de álcool. Os homens bebem muito mais, e acho que no Brasil isso também gera uma série de outros problemas, como o feminicídio, como a violência doméstica. Acho que o álcool é muito gatilho pra isso, coisa que a maconha não é, de jeito nenhum. Você não vai ouvir: 'Ele fumou um baseado e bateu na mulher'. Isso não vai acontecer. 'Ele fumou um baseado e ele bateu de carro e matou uma pessoa', eu nunca vi no jornal isso", completou.
"Eu acho que a gente está tão ansioso, assim, por conta das redes sociais e dessa pressão, essa aceleração do mundo. Você ter que dar conta de tanta coisa e de repente você só precisa de algo que te faça parar. Peraí, deixa eu olhar pras coisas de um outro jeito, e eu acho que a cannabis proporciona isso, você olha as coisas de outro jeito", comentou a atriz.
"Eu penso coisas com a cannabis e eu acho que ela tem essa dimensão de abertura da cabeça, do pensamento, que me ajudam na minha vida cotidiana, no meu entendimento da existência mesmo. E é uma coisa que também não tenho com o álcool. O álcool pra mim é uma coisa que eu tento cada vez mais beber menos. Mas é difícil. O álcool é muito difícil porque é uma droga muito social, tá em todo lado. Você é convidada, vamos tomar um chope, vamos tomar um vinho, vamos tomar sei lá o que, e quando você vê, você passou o fim de semana todo bebendo", refletiu Maria Flor.
A artista também abordou o uso da cannabis no pós-parto. "Eu não incluí a cannabis na minha rotina pós-parto porque ali no pós-parto me falaram que não era legal fumar durante a amamentação, foi bem dito pra mim isso, que não era recomendado mesmo nem fumar, nem beber porque tudo vai pro leite. Na adolescência fui super maconheira. Na adolescência mesmo, na escola. Quando eu tinha um namoradinho, aquela coisa, né? A gente ficava na praia tocando violão, uma coisa bem hippie. E depois eu fui aproveitando outras formas da cannabis. O THC, o óleo, o CBD", contou.
"Então eu acho que todas essas novas formas de consumir a cannabis, que é uma erva muito poderosa, muito ligada ao relaxamento, a calma. Eu descobri muito os óleos por conta do meu cachorro que foi diagnosticado com câncer. Porque ele entrou num momento paliativo. A gente tinha que só esperar e cuidar dele pra ele ter uma passagem mais tranquila, uma morte com menos dor. E foi aí que eu fui descobrindo os óleos, mas eu sou um pouco ignorante ainda, na verdade, em relação a isso. Mas foi aí que eu fui entendendo e entendendo como ele melhorava. E eu acho tão legal isso", admitiu.
Maria Flor defende a legalização da maconha no Brasil
Maria Flor aproveitou para criticar a não legalização da maconha no Brasil. "E eu acho muito triste que o Brasil seja ainda esse país hipócrita que não legaliza a maconha. É muito reacionário mesmo por parte dos nossos governantes, e uma falta de entendimento do bem que isso poderia fazer para a política, para a sociedade, como isso diminuiria a violência, como isso diminuiria o tráfico de drogas. E tantas outras drogas são liberadas. Isso é uma coisa que também. Tanta gente viciada em ansiolíticos, que poderiam estar usando uma planta que talvez funcionasse muito melhor pra elas. Essas pessoas fossem ser muito mais saudáveis do ponto de vista psíquico, mesmo. E físico. Porque gera muito menos dependência", falou.
"Ela não é uma droga. A maconha é uma planta, e ela está ligada ao prazer, por exemplo, da alimentação. Pessoas que têm câncer e que consomem a cannabis, se alimentam por conta disso. E têm vontade de comer por conta disso. Várias vezes eu recebo abaixo-assinados ou sei de instituições fazendo experimentos de liberação do óleo pra crianças que sofrem vários tipos de doença. Agora a gente liberou o porte. Quem sabe as pessoas não vão mais ser presas injustamente nem serão assassinadas por conta de gramas de maconha", disparou.
Sobre os psicodélicos, Flor afirmou que não acha legal. "Tenho um medo terrível, acho que eu jamais terei coragem. Tenho um medo terrível. A cannabis te dá uma alteração, mas é uma alteração muito controlada, né? O máximo que pode acontecer com você é você dormir (risos). Esse negócio de passar mal, de ver cor, não quero ver coisa, não. Não quero ver coisa. De repente você ter uns insights com pessoas que morreram, também não quero. Não quero nada disso", destacou.
"Eu comi uma vez [cogumelo alucinógenos] e eu acho que eu fiquei tão preocupada com o que eu ia sentir que eu comecei a ficar muito ansiosa e me deu muito bad vibe. Fiquei pensando: 'Ah, eu vou ter alucinação. Ah, eu vou ter coisas'. Uma vez eu tomei uma gota de LSD, foi uma experiência muito dura, mas fantástica, de um entendimento da minha insignificância diante do universo e ao mesmo tempo da beleza de estar aqui junto com esse universo existindo", concluiu Maria.
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