Ana Maria Braga é remanescente de uma Globo (e TV) que não existe mais
Apresentadora celebra 25 anos de emissora nesta sexta (18)
Publicado em 18/10/2024 às 05:27,
atualizado em 18/10/2024 às 10:08
Ana Maria Braga completa 25 anos no comando do Mais Você nesta sexta-feira (18). A apresentadora que foi contratada pela Globo a peso de ouro junto à Record em 1999 e que veio em um "pacote" de renovação com Luciano Huck, Serginho Groisman e Jô Soares (1938-2022), hoje se consolidou como uma das "últimas moicanas" e remanescentes da líder de audiência do "velho testamento".
Quem vê Ana Maria Braga no ar hoje, não imagina ou até esquece que ela enfrentou crises e mudanças de horário na Globo. Apanhou no Ibope para os enlatados do SBT como o Chaves e chegou até a fazer um desabafo no ar um mês depois da estreia. "Se eu não me sentir mais eu, não serei mais você", disse ela após tirar o ponto eletrônico em resposta à pressão pela queda de audiência.
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A apresentadora entrou numa época vibrante da Globo. A então Vênus Platinada queria dar um novo frescor à grade, tirou profissionais em ascensão - ou consagrados - de outras emissoras e estrategicamente, formou uma nova para ela. A Globo que via o talento como primeiro plano não existe mais.
Em festa pelo um quarto de século no canal carioca, Ana Maria Braga virou um símbolo de resistência e cobiça. Ela resiste em meio aos novos tempos sem perder a essência e talvez seja a única a ter programa na casa que conseguiu fazer isso. A cobiça é porque tomar um café da manhã ao seu lado é um troféu, algo parecido como sentar no sofá de Hebe Camargo (1929-2012).
Na TV, Ana Maria Braga alcançou um patamar que dificilmente alguém consegue nos tempos atuais. Uma figura genuína da TV que faz TV para quem gosta de TV.
Ana Maria Braga vira remanescente de uma Globo que se perdeu
Nos últimos 25 anos, as novelas perderam impacto. A capacidade de lançar um produto arrebatador que ditava tendência e até comportamento, foi engolido pelos diferentes adventos midiáticos. Mas não só isso. A própria Globo colaborou entrando em um declínio criativo e acabando com o mito da "toda poderosa".
Ana Maria Braga é um elo do passado glorioso da Globo. A própria emissora reconhece isso ao dar para ela, pela primeira vez, um formato importado para ser exibido no horário nobre de 2025. Aqui, duas coisas ficam evidenciadas: a importância da loira e a falta de novos talentos capazes de suportar um programa desse tamanho na linha de shows.
Nos últimos tempos, não faltaram algumas "forçações" da Globo goela abaixo do público na tentativa de emplacar. Vem sendo costume certas overdoses que não fazem o menor sentido.
Enaltecer Ana Maria Braga é enaltecer também a televisão. Trata-se da maior comunicadora viva em atividade. Longe de ser nostálgico, mas em um mundo e em uma Globo que mudaram tanto, tê-la inabalável diariamente é confortante e a prova viva de que autenticidade e carisma resistem ao tempo.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br