Coisa Mais Linda continua boa, mas erra ao repetir primeira temporada
Série não parece ter evoluído de um ano para o outro
Publicado em 21/06/2020 às 13:39
A Netflix liberou a segunda temporada da série brasileira Coisa Mais Linda na última sexta-feira (18) e os seis episódios da nova leva mostram que a produção continua boa, bem apurada e com nível acima de outras produções nacionais da plataforma. Ainda assim, não há como ignorar um erro importante na construção narrativa da nova história: repetir a primeira temporada.
Séries possuem uma estrutura própria e bastante diferente de novelas. Ainda que Coisa Mais Linda beba da água do folhetim e do melodrama na busca por alcançar o telespectador das novelas, existem regras que não podem ser ignoradas ao se levar ao ar. Quando uma produção encerra a primeira temporada e retorna para a segunda leva de episódios, espera-se evolução na linha narrativa e outro momento ou enfoque para o que se está vendo.
Na série nacional a sensação que se tem é de que não passa de uma espécie de parte dois da primeira temporada. As personagens parecem que não saíram do lugar e continuam com os mesmos objetivos. Aliás, o primeiro episódio deste novo ano coloca as protagonistas exatamente no mesmo lugar. O exemplo maior é Malu (Maria Casadevall), que volta para onde estava no início da série: casada e entedeada com o marido.
Ao assistir o segundo ano de Coisa Mais Linda, a sensação que se tem é de que a equipe de roteiro não soube conduzir a história para algum lugar além do primeiro ano e passou a andar em círculos. É bem verdade que há novas situações, não se trata de aliteração comum em telenovelas ou mesmo as famosas barrigas, não é isso. As cenas são outras, mas os dramas são os mesmos. As personagens defendem ideais e igualdade e mostram os homens como vilões, mas isso todo mundo já sabia na primeira temporada.
Há também erros técnicos na produção. Em um momento em que as mocinhas estão melancólicas, a direção mantém a fotografia solar e colorida, deixando um contraste entre o tom da história e o visual. Além disso, a estrutura manteve um equívoco dos mais graves. Se Coisa Mais Linda tenta apresentar mulheres como mocinhas e homens como vilões, ela falha ao recorrer a um recurso que não passa de uma bobagem. A escolha de protagonistas femininas que entregam um resultado muito melhor na interpretação que seus algozes masculinos. As atrizes são melhores que os atores e isso não torna os personagens malvados, deixa apenas as cenas irregulares.
Aqui vai um spoiler importante e se você ainda não viu a segunda temporada, sugiro que pare o texto.
Se Coisa Mais Linda comete um erro, o principal deles foi a condução da história de Lígia (Fernanda Vasconcellos). Se em novela não há o costume de se matar personagens importantes, isso acontece aos montes em séries, por isso não chegou a ser chocante a decisão criativa. O problema se deu pela forma como a produção escolheu para isso.
Para que morreu Lígia exatamente? Apenas para chocar. As mulheres tiveram um breve sofrimento por causa da morte de uma amiga e alguns minutos depois estavam todas com seus próprios problemas e - pior - encontraram uma substituta para cumprir a mesma função dentro do contexto da série. Não houve qualquer evolução na linha narrativa com essa morte, apenas uma personagem muito boa que foi deixada de lado. Uma pena.
Ainda assim, mesmo problemática, Coisa Mais Linda continua muito acima de boa parte das produções nacionais e atualmente é, ao lado de Sintonia, a melhor série nacional da Netflix. Vale a pena assistir a segunda temporada, desde que o telespectador diminua consideravelmente seu senso crítico.