"O Tempo Não Para" sofre com a síndrome de "Deus Salve o Rei"
Com o perdão do trocadilho, a novela parou
Publicado em 28/10/2018 às 08:30
O mote de "O Tempo Não Para", onde 13 pessoas são descongeladas após 132 anos, teve um delicioso ineditismo em seu primeiro mês. Porém, se aproximando do capítulo 80 e diante tudo que foi exibido até aqui, a trama de Mário Teixeira acabou se transformando num folhetim simplório, que não consegue desenvolver seus núcleos de forma criativa e amarrada em já destoados clichês.
Para ser um produto de sucesso da TV aberta, telenovela precisa ser composta por clichês, mas os roteiristas de "O Tempo Não Para" pecam pelo uso excessivo deste recurso, utilizando sempre com pouca argúcia e subestimando o público na faixa das 19h. Tornou-se uma trama água com açúcar bem aguada.
Sem querer fazer um péssimo trocadilho, o tempo parou. A novela não caminha, não se desenvolve e sofre com uma síndrome cada vez mais habitual nas novelas atuais da Globo: o esgotamento rápido da proposta principal do folhetim nos primeiros meses de exibição. "O Tempo Não Para", assim como sua antecessora, "Deus Salve o Rei", vive girando em círculos.
No melhor estilo das cucarachas vespertinas do SBT, toda costura da história se resume na vilania de uma rica noiva trocada, Betina (Cleo), por uma ingênua jovem, a ex-congelada Marocas (Juliana Paiva). Inconformada, a antagonista não mede esforços para trazer de volta seu antigo amor, Samuca (Nicolas Prattes).
Faltando em torno de três meses para seu final, em busca de fôlego, "O Tempo Não Para" esquece o frescor do mote de congelamento e passa a aposta em tramas que lembram as antigas fotonovelas das revistas "Sétimo Ceu" e "Capricho", sucessos editoriais da década de 70.
Num dos próximos capítulos, em mais uma tentativa de reverter essa situação de ter se separado de Samuca, Betina armará um plano maquiavélico para matar sua rival através de uma picada de cobra.
Mas o plano não tem um desenlace como esperado, a cobra acaba envenenando Emílio (João Baldasserini), outro vilão da trama, que utilizando de chantagem, se tornou noivo de Marocas. Ele morre e surge um irmão gêmeo durante o velório, Lúcio.
A novela tem aspectos positivos, como trazer a discussão, às vezes até implícita, das conquistas do negro e da mulher em nossa sociedade atual, pelo ponto de vista dos ex-congelados do século passado.
Com média de 25 pontos, "O Tempo Não Para" cumpre seu papel de manter uma boa audiência, mas está longe ser uma produção da Globo marcante para a faixa. Daqui a 132 anos, nem será mais lembrada, por deveras.