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"Liberdade, Liberdade" e a mania do brasileiro de transferir responsabilidade

Antenado


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Divulgação/TV Globo
Cenas de sexo sempre geram curiosidade em novelas desde sempre. "Verdades Secretas", exibida no ano passado, é um exemplo muito claro de que isso atiça a audiência. 
 
Mas nunca tinha se visto como seria o tratamento em uma cena de sexo entre dois homens, exibida em TV aberta, na maior emissora do Brasil e na segunda maior do mundo. Foi o que aconteceu na noite desta terça-feira (12), em "Liberdade, Liberdade", da Globo.
 
Havia um receio enorme em relação às críticas, porque foi o que ocorreu em "Babilônia". E nas últimas semanas, conservadores já vinham fazendo uma cruzada contra a sequência, dizendo que "era um absurdo" ou que "era apologia ao demônio". 
 
A cena desta terça começou a ir ao ar por volta de 23h11. Ricardo Pereira e Caio Blat apareceram sensíveis, com olhares assustados. A "liberdade" não era algo em voga no século 19, muito menos atração entre dois homens. A música de fundo foi coesa, sensível, combinava com o momento de descoberta, de susto dos dois, confusos pelo que sentiam um pelo outro. 
 
Um beijo foi dado, e o que se viu depois foi uma cena de amor delicada, com um texto e direção dos mais corretos que já vi. Mário Teixeira e equipe, juntamente com o diretor Vinícius Coimbra merecem todos os aplausos do mundo. E a Globo também, por não dar pra trás. 
 
 
A emissora está madura e quer, sim, tratar LGBT com o máximo de naturalidade possível, o que já deveria acontecer em pleno 2016. 
 
A audiência não foi baixa. Segundo dados prévios, no momento de exibição, "Liberdade, Liberdade" estava acima dos 20 pontos no Ibope da Grande São Paulo. Mas lógico, choveram comentários negativos e preconceituosos. 
 
Era "tem criança vendo" pra lá, "eu não sou homofóbico, mas a Globo quer colocar a causa gay goela abaixo" pra cá... Bom, não tem jeito, vou ter que sair do campo de TV um tantinho. 
 
Se seu filho viu a cena, não é culpa da Globo. Primeiro que 23h11 não é hora de criança estar acordada, mas tudo bem, hoje tinha o filme de "Carrossel" no SBT. Porém, a classificação da novela é de 16 anos. Se você deixou seu filho assistir, a culpa é sua, como pai e mãe que deixa seu filho menor ver cena de sexo na TV - o que seria erradíssimo com cena hétero também. 
 
 
Caro, a Globo não quer colocar a causa gay goela abaixo, quer tratar igual ao que faz com os casais héteros, porque é isso que esta causa quer apenas: igualdade de direitos, o que não se tem. Não se mata gente por ser hétero neste país, só por ser gay. 
 
Este final de semana mesmo, por exemplo, minha amiga Heloísa Gomes, do site Aratu Online, relatou que "Leonardo Moura, de 29 anos, morreu na manhã da segunda-feira (11), no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, depois de ficar internado desde o sábado (9), quando sofreu agressões após sair de uma boate gay no bairro do Rio Vermelho. A suspeita da família e da Polícia é que rapaz tenha sido vítima de um caso de homofobia".
 
O relato acima diz tudo. A cena entra para a história porque é um caminho para se pôr hetéros e homossexuais em pé de igualdade na televisão brasileira. E quem ganha com isso é a sociedade como um todo, que fica mais tolerante e mais amorosa, aceitando que não é quem você leva pra cama que lhe define, e sim o seu caráter. 
 
"Liberdade, Liberdade" ficará para a história pela cena, que merece todos os nossos aplausos. E de pé. 


Gabriel Vaquer escreve sobre mídia e televisão há vários anos. No NaTelinha, é responsável por reportagens variadas e especiais. Na coluna "Antenado", fala sobre TV aberta quando a necessidade pedir. Já no "Eu Paguei Pra Ver", às segundas, conta histórias curiosas sobre a TV por assinatura no Brasil. Converse com ele. E-mail: gabriel@natelinha.com.br / Twitter: @bielvaquer
 
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