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Prisão de terroristas interrompe programas e destaca Cecília Malan

Território da TV


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Fotos: Reprodução

Se Christiane Pelajo foi o grande destaque da cobertura do massacre na redação do jornal Charlie Hebdo, Cecília Malan foi o foco preferencial do público na prisão dos terroristas suspeitos de terem planejado o atentado terrorista em Paris.

Nesta sexta-feira (09), os irmãos Kouachi estavam cercados desde pouco antes das 7 da manhã no horário de Brasília, o equivalente a em torno de 10h em Dammartin-en-Goële, região onde se entrincheiraram nos arredores da capital francesa.

A Globo News acompanhou essa perseguição direto e praticamente interrompeu a cobertura da caçada e sua repercussão somente no final da tarde. Enquanto os terroristas se escondiam em uma fábrica na região rural próxima ao aeroporto Charles de Gaulle, os canais abertos também começaram a exibir flashes em seus telejornais.

Na Globo, a ainda coadjuvante Cecília Malan entrou por diversas vezes ao longo do "Bom Dia Brasil". "Café com Jornal", "Notícias da Manhã" e "Fala Brasil" também se revezaram entre o seguimento das pautas programadas e imagens diretas do cerco.

A Band exibiu mais plantões ao longo da manhã com Luiz Megale, enquanto a Record fez um no intervalo da última (e gravada) edição do "Hoje em Dia" com Celso Zucatelli, Chris Flores e Edu Guedes como apresentadores. O trio não se despediu no encerramento, ainda prometendo que "segunda-feira tem mais". O comando do boletim, que durou cerca de 6 minutos, foi de Reinaldo Gottino.

Já na Globo, a dança das cadeiras foi somente temporária. Com o fim do "Bom Dia Brasil", o "Jornal Hoje" assumiu a responsabilidade e fez entradas durante os demais programas da grade matinal. Na edição em si do "JH", Cecília Malan era exibida ao lado de um supermercado em Paris onde um terrorista também mantinha reféns e prometia os matar em caso de invasão do local onde os atiradores do Charlie se refugiavam.

Ela já demonstrava absoluta tensão na posição, olhando para trás a todo o tempo e atordoada com os constantes barulhos de sirenes na área.

Mas a edição foi concluída por volta das 14h com todos os casos ainda indefinidos e cedeu espaço ao "Vídeo Show". 20 minutos depois, para a rede nacional, entrava no ar um boletim no intervalo do "VS" ainda sob o comando de Evaristo Costa. Para os estados que não seguem o horário de verão, começava a exibição gravada do "JH".

Poucos minutos após o desenrolar desse boletim, a agência France-Presse bancou a informação de morte dos dois terroristas. Assim sendo, para quem não o acompanhava até ali, foi imediatamente aberto um Plantão, aí sim com a característica vinheta de notícia urgente.

Ele interrompeu o "Encontro" no Acre, os telejornais locais do 12h no Amazonas e em Rondônia e o próprio "Jornal Hoje" em todo o Nordeste e parte do Norte. Desta forma, quatro programações distintas se uniram para a cobertura ao vivo especial.

Não houve nenhum tipo de recepção aos telespectadores que pegaram o boletim no meio, sendo eles obrigados a aguardarem alguns instantes para compreenderem o corte feito.

O público dessas regiões perdeu o relato inicial de Cecília Malan sobre o momento em que foi retirada pelos policiais do local em que ela e boa parte da imprensa mundial faziam os seus links.

"Quando ouvimos quatro explosões, seguidas por muitos tiros, os policiais começaram a gritar com a gente e mandaram a gente sair correndo, abandonar todo o equipamento, não pegar o carro e sair a pé", ela disse. As imagens dessa correria foram registradas e exibidas.

O problema relatado por Cecília é que ela não conhece a área e não sabia para onde ir, já que assim como boa parte dos profissionais presentes, era uma enviada especial e não correspondente fixa em Paris.

Com essas peculiaridades, o termo "Cecília Malan" chegou a ficar entre os tópicos mais comentados do planeta no auge do momento em que TVs de todo o mundo acompanhavam o desfecho fatal dos terroristas.

A maioria dos internautas compreendeu o momento e destacou a postura mais humana da jornalista, a enviando mensagens de solidariedade.

A partir daí, seguiram-se quase 30 minutos de cobertura sobre a confirmação do desfecho de todos os cárceres, da morte dos suspeitos e a repercussão imediata que elas acarretaram.

E onde as gafes também foram cometidas por Evaristo, que citou reféns no "leste da cidade da França" e depois citou declarações do "prefeito" do país.

A duração do boletim acabou por cancelar o "Vídeo Show", que assim foi para o break e não retornou, situação semelhante a vivida pela novela "O Profeta" em 20 de junho de 2013, quando também cedeu espaço a um teoricamente rápido flash sobre as manifestações de rua, mas que acabou ganhando profundidade e ocupando um longo período na grade.

Assim, a Globo teve que dividir novamente a rede. Para o Sul, Sudeste e maior parte do Centro-Oeste, entrou a "Sessão da Tarde", que contou com boletins já do "Jornal Nacional" ancorados por Renata Vasconcellos em seus intervalos.

Já para quem tinha tido o "JH" cortado ao meio, se seguiu uma edição nova e ao vivo, que voltou a atualizar os detalhes do fim da caçada que mobilizou um efetivo de 80 mil homens por três dias e também exibiu outras matérias do dia.

Os ajustes da grade seguiram com breaks mais longos, reprise de muitas cenas do capítulo do dia anterior em "Cobras & Lagartos" e também a concessão de uma duração mais longa para a segunda edição do "Praça TV".

A Record também exibiu todos os principais detalhes do fim da agonia que paralisou os franceses por cerca de sete horas, novamente com Reinaldo Gottino no comando. Mas diferentemente da Globo, ela e a Band não interromperam a grade nas emissoras que exibiam programação regional no momento, transmitindo nelas eventualmente com atraso.

Já a Record News, que durante a manhã se dividiu entre imagens ao vivo do caso e reprises de conteúdo da Record, também teve de interromper sua grade, já que tinha parado a cobertura para exibir a "Escola do Amor".

Nas redes abertas, os telejornais noturnos foram espaço para o aprofundamento das informações, já se baseando em detalhes mais precisos sobre a origem dos autores do ataque, que teriam sido treinados pela base da Al Qaeda no Iêmen, como dissertou William Waack em mais uma boa explicação geopolítica no "Jornal da Globo", onde ele se mostra mais livre como comentarista do que como âncora. Mais cedo, no "Jornal Nacional", foi revelada ainda a primeira capa da Charlie Hebdo após os ataques. Numa exposição para diversos profissionais, o enviado global André Luiz Azevedo foi quem a segurou.

Ele dividiu o link com uma já mais calma Cecília Malan, numa rara dobradinha fora de repórteres, talvez feita anteriormente somente quando José Roberto Burnier e Monalisa Perrone entraram no "JH" após ela ser empurrada ao vivo por um grupo de vândalos.

Em seu VT sobre o sequestro no supermercado parisiense, Cecília rapidamente citou o "pavor" que sentiu a poucos metros do local.

No Twitter, ela publicou uma mensagem em que agradece "de coração por todos os abraços virtuais. Vocês nem imaginam o bem que me fizeram".

Na repercussão internacional de toda a situação, Giuliana Morrone, que interrompeu suas férias para suprir a ausência de Roberto Kovalick no escritório em Londres, entrou para conceder mais informações sobre como os europeus receberam as notícias do dia.

Com toda essa correria, a Globo já acumula sua terceira grande cobertura ao vivo no ano. No "Show da Virada", a duração habitual da tradicional queima de fogos já havia sido quase dobrada em relação aos anos anteriores por causa de um incêndio em uma balsa em Copacabana, que deixou uma imagem forte no ar, mas não feriu ninguém.

No mesmo dia, a posse presidencial tomou espaço na grade de todos os canais. Agora, nesta sexta-feira, a surpresa com o final da caçada que sucedeu o chocante ataque justamente contra profissionais da imprensa, deixa cada vez mais claro que "o imprevisível transforma pautas em passe de mágica" já nos primeiros 9 dias do ano.


No NaTelinha, o colunista Lucas Félix irá mostrar um panorama desse surpreendente território que é a TV brasileira.

Ele também edita o https://territoriodeideias.blogspot.com.br e está no Twitter (@lucasfelix)

 

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