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Olhar TV: Inversão de valores em "Amor à Vida" salva a novela


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Divulgação/TV Globo

"Amor à Vida" está em sua última semana e, apesar da novela de Walcyr Carrasco não ter sido umas das mais populares para o horário, manteve bons índices de audiência. Boa parte graças a Félix (Mateus Solano), o grande nome do folhetim.

Aliás, a inversão de valores nessa trama foi o estopim para o seu sucesso. O administrador do hospital San Magno começa a história como o grande vilão, o cara que consegue dormir mesmo após jogar um bebê dentro de uma caçamba de lixo.

Entretanto, este mesmo cara implora pelo carinho do pai desde criança, mas em troca recebe apenas o seu desprezo, já que César (Antônio Fagundes) não aceita a homossexualidade do filho.

Quando desmascarado por seus crimes, Félix é punido por sua mãe. E foi a decepção que provocou em Pilar (Susana Vieira), a pessoa que ele amou incondicionalmente, que o fez mudar.

Além disso, Márcia (Elizabeth Savalla), que foi sua babá quando ele ainda era um bebê, lhe estendeu a mão, dando-lhe casa, comida e um trabalho. Assim, o anti-herói foi lapidado e teve sua humanidade despertada.      


Por outro lado, César se comportou desde o início da história como um homem egoísta, prepotente, egocêntrico e preconceituoso. E mesmo agora, quando se viu cego e traído por Aline (Vanessa Giácomo), é orgulhoso demais para aceitar a ajuda do filho.

É aí que Walcyr Carrasco pode ter dado a maior cartada da sua vida, até agora. O autor conseguiu transformar o bandido dessa história terrível em mocinho. Fazer de alguém odiado, amado. De vilão, herói.

Ninguém parou para pensar na dor da Paloma (Paolla Oliveira), que teve a filha arrancada dos seus braços e longe da sua vida por anos. Ou na menina, que foi privada do convívio com a mãe biológica.

A trama principal virou secundária e o telespectador se rendeu a esse “monstro” da dramaturgia chamado Mateus Solano, capaz de roubar a atenção e atrair todos os flashes e aplausos quando entrava em cena, que mais parecia monólogo.

A sequência na qual ele revela seus crimes e, consequentemente, a inveja que sentia pela irmã – para ele, ela roubou-lhe o amor do pai – garantiu um dos maiores índices no Ibope desde a estreia de "Amor à Vida".

E ao invés de vibrarmos com a surra que o Félix levou da Paloma, quantos de nós não desejaram pegar-lhe no colo, já que ali estava uma criança presa no corpo de um homem, vítima do preconceito da sociedade e da soberba do pai?      

Eu não sou a favor do que ele fez, mas concordo que existem crimes justificáveis, o que não tira o peso sobre eles. Além da temática de que um criminoso pode alcançar a redenção. E pelo visto, a maioria dos telespectadores também.

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