Publicado em 27/02/2023 às 16:41:00,
atualizado em 27/02/2023 às 16:41:22
Vinícius Coimbra, diretor demitido da Globo em março do ano passado após ser acusado de ter cometido racismo nos bastidores da novela Nos Tempos do Imperador (2021), quebrou o silêncio e deu sua versão sobre as denúncias feitas pelas atrizes Roberta Rodrigues, Cinnara Leal e Daniel Ornelas. O veterano disse que houve um pedido de finanças por parte dos denunciantes, mas o valor estava além de suas possibilidades e ele não conseguiu um acordo.
"A ordem dos fatos foi a seguinte: após o ocorrido, fazendo uma aproximação com os advogados das atrizes buscando um espaço de escuta recíproca, para que pudesse depurar a parcela de responsabilidade que me era atribuída, separada daquilo que era endereçado a outros departamentos da empresa. Sempre fui a favor do diálogo para que pudéssemos nos entender, pois sempre prezei pelo bom relacionamento que tinha com as atrizes", contorno, à coluna de Cristina Padiglione no F5.
Ainda sobre a financeira, ele contínuo: "Entretanto, durante essa conversa, houve um pedido de declaração financeira, partindo deles, que estava além das minhas possibilidades. Dias depois, devolvemos uma contraproposta que julgamos proporcional à minha parcela de responsabilidade e condizente com a prática judicial brasileira no tema de dano moral. Tudo para tentar compor esse dano de relação, reconhecido por mim como existente e por eles como não intencional. Nossa contraproposta não foi aceita e há oito meses não temos mais contato".
O diretor, que passou 23 anos na Globo , disse que teve o apoio de técnicos e artistas, negros e brancos, que testemunharam a seu favor. Mas, por motivos, foi desligado por algo que o Compliance da emissora caracterizou como assédio moral. Vinícius Coimbra afirma que eles foram explícitos em dizer que não detectaram nenhuma prática racista da parte dele. "Tentei dialogar e conciliar, antes, durante e depois do desligamento. Sigo aberto ao diálogo, com quem quer que seja, em qualquer ambiente", pontuou.
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Perguntado sobre o motivo que o levou a concordar em ressarcir as atrizes mesmo sabendo que foi demitido por assédio moral, ele diz que agiu assim porque sabe que cometeu erros. "Errei ao ter tido uma conversa somente com artistas negros e, na sequência, ao criar um grupo de mensagens com eles e Rosane Borges. Meu propósito era debater e dar atenção ao grupo que considerei mais impactado pela crise, mas entendo e respeito que tenho se sentido mal com a situação, num momento sensível da novela", destacou.
"Não quero fugir da responsabilidade da minha função, mas apenas no limite do que for proporcional e justo. Nesta conversa, por exemplo, nas duas horas de relatos, não havia nenhuma queixa direcionada a mim. Sobre a empresa, posso supor mas não posso afirmar quais fatores levaram ao meu desligamento, por conta da política de confidencialidade", completou ele.
O grupo ao qual ele se referiu foi criado quando a novela foi considerada racista após veicular uma cena de racismo reverso. "Na ocasião, entendia que eles estavam no olho do furacão por integrarem o elenco de uma novela que estava sendo considerada racista. Abri a conversa dizendo, entre outras coisas, que queria ouvi-los e servir de ponte entre eles e a empresa, para que tivessem suporte em meio àquela tormenta. Para debater, por exemplo, como poderíamos nos posicionar publicamente. Soube que a conversa foi gravada, portanto tudo que digo pode ser comprovado", apontou.
"O grupo colocou, com razão, o incômodo daquela conversa ser somente com artistas negros. Expliquei que tinha me parecido o melhor formato para garantir tempo e privacidade a todos, mas entendi o incômodo e me comprometi a fazer uma reunião com todo o elenco. O que fiz alguns dias depois. De todo modo, nesta conversa com os artistas negros, ouvi por mais de duas horas relatos importantes sobre disparidades salariais, tratamento diferenciado nos bastidores, nos camarins, falta de apoio psicológico, queixas sobre o texto da novela, seus personagens etc. Foram falas sinceras e comovidas", lembrou ele.
Vinícius Coimbra se disse consciente dos privilégios que tem por ser uma pessoa branca e ressaltou que existem vários graus de racismo e que algumas revisões precisam ser feitas, de atitudes conscientes e inconscientes. A investigação do caso está em andamento no Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ), onde se apura a suposta prática de racismo contra as atrizes. Porém, o diretor afirma que não foi chamado a depor nem está sendo processado por qualquer ação jurídica até o momento.
O assunto veio à tona em 2022, quando ele foi acusado de usar palavras agressivas por diversas vezes nas tomadas de Nos Tempos do Imperador, além de endossar discursos racistas. Em uma cidade cenográfica nos Estúdios Globo, Coimbra teria ordenado: " Elenco pra esse lado, negros pro outro lado ". Uma das atrizes questionou, na ocasião: "E eu que sou do elenco e sou negra, de que lado fico?", mas foi ignorada pelo diretor da novela.
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