Marcos Uchôa associa demissões em massa na Globo a Bolsonaro: "Ele foi em cima"
Fora da TV, jornalista afirma que pediu demissão em novembro após mudanças na emissora
"A Globo está sofrendo, como muitos meios de comunicação, com a saída do dinheiro das mídias tradicionais e a entrada do dinheiro na internet", diz Marcos Uchôa - Foto: Reprodução/YouTube
Publicado em 24/05/2022 às 17:35:00, atualizado em 24/05/2022 às 17:35:37
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Marcos Uchôa atribuiu as demissões em massa na Globo ao presidente Jair Bolsonaro, em entrevista concedida na segunda-feira (23). A associação foi feita pelo jornalista após a deixar a emissora, em que esteve por 34 anos, em novembro do ano passado. Ele afirmou que o chefe do Executivo impôs um sistema de contratação prejudicial ao canal, o que culminou no corte dos grandes salários nos últimos anos.
“Eu não tinha mais contrato. Foi uma das coisas que o Bolsonaro fez… Antes, pessoas que tinham um salário melhor na Globo ganhavam como pessoa jurídica. No primeiro ano de governo, ele já foi em cima em termos trabalhistas, dizendo que isso não podia ser assim, e todo mundo passou a voltar a ser funcionário. Até o Galvão, até o Faustão”, afirmou Marcos Uchôa ao podcast Inteligência Ltda.
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“Eu era uma pessoa contratada como outra qualquer. Não tinha um período para vencer o contrato. Pedi demissão normalmente. Expliquei que queria sair. Não tenho nenhuma mágoa da Globo. É claro que houve momentos em que quis fazer coisas que não pude fazer, porque eles não deixaram, mas é a regra do jogo.”
Ainda no podcast, Uchôa afirmou que a emissora passa também por uma crise financeira. “A Globo está sofrendo, como muitos meios de comunicação, com a saída do dinheiro das mídias tradicionais e a entrada do dinheiro na internet. Por exemplo, o teu programa é um adversário, um concorrente que anos atrás não existia.”
Contratado por 34 anos, Marcos Uchôa diz que Globo erra ao demitir medalhões: “Identidade abalada”
A diminuição do dinheiro também acarreta em prejuízos e necessidade de eles adequarem seus gastos, segundo o jornalista. “Nesse aspecto, [saem] as pessoas mais velhas, que estavam há mais tempo lá, com salários melhores também por causa desses anos todos. Cortando, não renovando contrato e demitindo essas pessoas, é uma economia mais rápida de ser feita.”
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O veterano criticou a política adotada pelo canal. “Eu não faria assim, acho um erro. A identidade de um meio de comunicação é muito os profissionais que você está acostumado a ver. Você cria uma identidade que é abalada quando essas pessoas saem, e precisa ser reconstruída”, opinou. A estratégia foi adotada também no setor do entretenimento, que também perdeu boa parte do casting.
“Por ter menos dinheiro, a Globo hoje viaja menos. As [coberturas de] guerras que eu fiz, um repórter novo não vai fazer. O jornalismo da Globo encolheu em relação às suas ambições.”
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Uchôa disse ainda ter optado por sair por não concordar com a forma de jornalismo que vinha sendo feita na emissora. “Gosto de ir aos lugares, fazer as reportagens in loco”, frisou. Ele lamentou não ter podido cobrir, recentemente, os conflitos em Hong Kong e a crise na Grécia. “Foi difícil largar o salário que eu tinha. Era um salário muito bom, confortável”, admitiu. Assista a esse trecho da entrevista:
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