Publicado em 26/01/2022 às 04:19:00,
atualizado em 26/01/2022 às 09:24:22
O documentário sobre o Caso Celso Daniel nem estreou ainda e já está causando confusão nos bastidores da Globo. A produção, que entra no catálogo do Globoplay a partir da próxima quinta-feira (27), contará em oito episódios detalhes sobre o assassinato do petista, que era prefeito de Santo André (SP). Mas jornalistas e artistas da emissora, ligados ao campo progressismo, têm reclamado da decisão da plataforma de lançar uma produção desse porte em pleno ano eleitoral.
Sob a produção de Joana Henning, O Caso Celso Daniel irá recontar, em forma de documentário toda a investigação do crime que chocou o Brasil em 2002: a morte do prefeito de Santo André, um dos que estavam em ascensão no PT. “Quem sequestrou Celso Daniel? Por que ele foi morto?”, questiona ela durante lançamento da série, que terá oito episódios. “Traremos luz aos fatos de um crime que sobrevive 20 anos na história política do país”. Este é um dos muitos documentários que o serviço de streaming vem investindo.
Henning garante que colocará informações acima de opinião, mesmo assim a decisão artística do Globoplay de colocar uma série desse patamar no ar em pleno ano de eleições tem causado incômodo. Por um lado, jornalistas e artistas ligados ao campo progressistas têm feito críticas nos bastidores. O NaTelinha conversou com pelo menos dois jornalistas diferentes que, sob a condição de anonimato, falaram do assunto.
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A opinião é sempre a mesma. O caso já foi esclarecido pelo poder judiciário, que não considerou o crime como político, mas um assassinato fora de briga ideológica. Os três profissionais do jornalismo da Globo ouvidos pela reportagem garantiram que não é possível ressuscitar o tema sob o ponto de vista do interesse jornalístico. Para eles, a série irá apenas resgatar teorias conspiratórias, ainda que o tema dela não seja esse.
Um deles lembrou, inclusive, que pouco importa o conteúdo, já que muita gente não vai nem assistir, mas o fato de se criar uma série assim em pleno ano eleitoral dá munição para uma onda de fake news descontrolada sobre o assunto. Para ele, a sensação é que a emissora quer encontrar um jeito de barrar o candidato do PT nas eleições, Lula.
Vários artistas ouvidos pelo NaTelinha concordam. Embora eles entendam a importância de série documental, muitos questionam as razões para a produção ser lançada em 2022, num momento delicado da política brasileira. Uma atriz que está atualmente no ar conversou com a reportagem e disse que se sentiu apreensiva porque entendeu que a Globo parece apostar numa polarização desnecessária.
Outro ator, que se prepara para gravar uma novela nos próximos meses, concorda que o momento para lançar a série foi inoportuno. Ele lembrou ainda que a direção da Globo sempre impediu até que a dramaturgia - novelas e séries - que tivessem pano de fundo como política fossem ao ar em ano eleitoral para evitar paralelos.
Nos bastidores, a reportagem apurou que o documentário encontra resistência até de nomes grandes para ajudar na divulgação. Enquanto a cúpula do streaming dá de ombros para a crítica, parcela importante de jornalistas avisaram que o nome da emissora certamente será usado para a propagação de fake news por conta disso.
Procurada, a Globo não se posicionou.
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