Publicado em 22/10/2021 às 07:26:00
A Globo criou seu “padrão de qualidade” e muitas regras precisavam ser seguidas pelos funcionários, não sendo permitido erros. Uma das vítimas mais emblemáticas do rigor do canal foi Fernando Vannucci, que entrou no ar ao vivo comendo uma bolacha e irritou a direção da emissora. Ele foi demitido e nunca escondeu sua chateação com o episódio.
Mas se a saída do jornalista foi tratada como injusta, o mesmo não se pode dizer de William Waack. Ele era o único âncora do Jornal da Globo e acabou fazendo um comentário racista nos bastidores. O vídeo viralizou nas redes sociais e o apresentador deixou o canal.
O padrão Globo de qualidade passou por modificações ao longo do tempo, mas erros e gafes fizeram vítimas. O canal virou referência na TV pelas regras rígidas e alguns profissionais sentiram isso na própria pele. Porém, houve momentos que a "dureza" da empresa impediu que comentários preconceituosos saíssem impunes.
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Confira:
William Waack foi demitido da Globo em 2017 após um vídeo dele nos bastidores do JG vazar nas redes sociais. Na ocasião, ele aparece falando uma frase racista. Em comunicado para a imprensa, emissora destacou que "o melhor caminho a seguir é o encerramento consensual do contrato de prestação de serviços que mantinham".
William Waack ficou suspenso de suas funções durante semanas após o vazamento. No vídeo, ele aparece em frente à Casa Branca, em Washington, Estados Unidos, onde fazia uma edição especial do JG sobre as eleições presidenciais americanas no ano passado, quando um carro começou a buzinar na rua, irritando o apresentador.
"Tá buzinando por que, seu merda do cacete? Não vou nem falar, porque eu sei quem é", disparou ele, para depois cochichar ao comentarista que estava do seu lado: "É preto. É coisa de preto!". A gravação foi parar na internet um ano depois, colocada por ex-funcionários da Globo, que depois confessaram o ato.
No ano seguinte, o jornalista se justificou: “Se os rapazes que roubaram a imagem da Globo e a vazaram na internet tivessem me abordado, naquela noite de 8 de novembro de 2016, eu teria dito a eles a mesma coisa que direi agora: ;Aquilo foi uma piada ; idiota, como disse meu amigo Gil Moura ;, sem a menor intenção racista, dita em tom de brincadeira, num momento particular. Desculpem-me pela ofensa; não era minha intenção ofender qualquer pessoa, e aqui estendo sinceramente minha mão”.
A gafe ocorrida no capítulo 105 de A Dona do Pedaço, em torno de uma ação de merchandising de um aplicativo de delivery protagonizada pela descolada Kim (Monica Iozzi), incomodou o patrocinador da novela e gerou demissão no setor responsável pelo marketing da Globo.
A sequência polêmica foi exibida no dia 18 de setembro de 2019. A propaganda iniciou quando Rock (Caio Castro) conversava com Zé Hélio (Bruno Bevan) em uma pizzaria, buscando uma forma de fazer o negócio de bolos de Maria da Paz (Juliana Paes) decolar nas plataformas digitais. Ao fundo da cena, o logo do iFood aparecia estampada no uniforme e nas mochilas dos entregadores.
Porém, logo após, a personagem Kim, que tem como profissão assessorar pessoas a se tornarem influenciadoras digitais, conversa com Márcio (Anderson Di Rizzi) por telefone. Na cena, Kim é avisada pelo namorado que ficará mais tempo no trabalho, e por isso, não poderá jantar com ela num restaurante. Em seguida, o gerente da fábrica de bolos sugere que a amada peça uma pizza. Ela segue o conselho, mas faz usando o telefone.
Na época, o NaTelinha apurou que o patrocinador teria reclamado aos responsáveis pela área comercial da Globo sobre a gafe exibida em A Dona do Pedaço. De acordo com fontes ouvidas, o iFood estaria canalizando boa parte dos seus investimentos em publicidade no produto de maior audiência da televisão, com o intuito de popularizar sua plataforma e quebrar um hábito de consumo: a solicitação do serviço de delivery via telefone.
Com a cena exibida de Kim, a Globo reforçou um hábito que contraria os interesses do seu patrocinador. No início de outubro, alguns funcionários do setor responsável pelo merchan na dramaturgia foram demitidos.
No ano passado, o jornalista Douglas Berlan, ex-apresentador do Bom Dia Mato Grosso, da TV Centro América, afiliada da Globo, foi demitido. Ele comandada o telejornal, quando um telespectador enviou a foto de um pênis para o WhatsApp do telejornal, usado para receber reclamações e sugestões de pauta do público. Como a tela do aplicativo é exibida ao vivo, a imagem vazou e deixou o apresentador desconcertado.
O caso repercutiu nas redes sociais, mas a equipe tratou o assunto com bom humor. A demissão surpreendeu os profissionais da afiliada da Globo. Douglas Berlan apresentou normalmente o Bom Dia MT depois do susto. Só que, pouco tempo depois, a emissora resolveu tirá-lo do quadro de funcionários.
“Agradeço pelas mensagens de carinho e apoio de colegas de profissão, telespectadores e de todos. Enquanto assimilo esse momento difícil, tenho lido as manifestações. Grato”, escreveu em sua conta do Instagram na época.
Na década de 1970, se transferiu para a Globo, em Minas Gerais e logo conquistou seu espaço na emissora, sendo levado para o Rio de Janeiro. Durante três décadas, passou pelo Globo Esporte, RJTV, Esporte Espetacular e Gols do Fantástico.
Em 1998, a Globo tinha regras para manter o seu padrão de qualidade e Fernando Vanucci desobedeceu uma delas e entrou no ar comendo uma bolacha. Na ocasião, foi punido pela emissora. “Foram meses de punição. Quando me chamaram para fazer o Carnaval, achei que já estava tudo bem. Um dia após a transmissão recebi uma notificação de que deveria pagar uma multa contratual por conta da infração. Não aguentei e saí da Globo”, disse em entrevista para a Folha de São Paulo.
Com a postura adotada pela Globo, Vanucci resolveu acionar a emissora carioca na justiça e venceu o processo em 2010. “Fiquei chateado e movi um processo trabalhista pedindo vínculo empregatício, pois estava lá como pessoa jurídica, e danos morais. Demorou, mas venci”, declarou o apresentador na ocasião.
Em 1999, a Globo fez um plantão extraordinário para anunciar a morte de João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, que estava internado em São Paulo com hepatite C, broncopneumonia e cirrose. Porém, minutos depois, a emissora se desculpou no Jornal Hoje e afirmou que o ex-atleta ainda estava vivo.
Poucos dias depois, Ernesto Rodrigues, que ocupava interinamente o cargo de diretor de jornalismo em São Paulo, foi demitido por Evandro Carlos de Andrade. Na época, o erro foi considerado imperdoável. Na década de 1990, o padrão Globo de qualidade não perdoava nenhum tipo de gafe.
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