Publicado em 16/11/2020 às 05:00:01
Rodolfo Carlos, ídolo da TV nos anos 90, quer voltar à TV por necessidade. Ex-repórter de Ratinho e Gugu Liberato, ele passou a pandemia de coronavírus isolado no campo, em Juiz de Fora (MG). Recentemente, transferiu-se para a Grande São Paulo para ficar mais perto do trabalho que lhe deu fama e reconhecimento. Ao lado de ET (Cláudio Chirinian), formou uma das duplas mais bem-sucedidas da televisão.
Afastado da mídia, Rodolfo decidiu reaparecer em entrevista exclusiva ao NaTelinha e contou bastidores de suas passagens pela Record e SBT. Ele começou em um jornal de Osasco (SP), escreveu para o jornal sensacionalista Notícias Populares e trabalhou com Nelson Rubens na rádio Record antes de integrar a equipe do Aqui Agora. No jornalístico do SBT, conheceu Celso Russomanno e, na sequência, trabalhou com Ratinho e Gugu, por quem confessa ainda chorar em função de sua morte trágica, há um ano.
Rodolfo relembra como participou da criação de alguns dos quadros e personagens mais conhecidos da TV, como o teste de DNA, Xaropinho e ET no Ratinho Livre, e Vídeos Legais no Domingo Legal. Ele ainda revela que Edir Macedo tentou impedir a estreia de ET e que Silvio Santos o ajudou no quadro em que fingia acordá-lo.
Com 50 anos recém-completados e mesmo fora dos holofotes, Rodolfo ainda se sente capaz de produzir conteúdo de qualidade na televisão. Leia a entrevista abaixo:
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"Eu era produtor do Gil Gomes, e quando gravava no interior de São Paulo eu segurava microfone como se fosse ele e depois inseria o Gil como se ele tivesse ido para lá. No Aqui Agora, conheci o Celso Russomanno e participei da criação do quadro de defesa do consumidor.
Saí do programa para trabalhar na campanha de Russomanno para deputado federal, em 1994, e foi o mais votado. Ele se elegeu, fui secretário parlamentar em Brasília e comecei a produzir o Brasil Já, na CNT, porque o Russomanno era amigo dos donos da emissora.
A CNT me pedia para ir a Curitiba uma vez por semana para as reuniões de pauta. O Ratinho me encontrou e pediu para eu apresentá-lo ao Russomanno. Depois, larguei tudo que eu tinha em Brasília para produzir o 190 Urgente, telejornal dele, em São Paulo".
"Falei para o Ratinho: 'Seu programa é uma cópia malfeita do Aqui Agora. Não podemos mais mostrar corpos porque a Justiça de São Paulo bloqueou. Sangue também foi proibido. Vamos fazer briga de marido e mulher, de vizinho? Vamos contar histórias de fantasmas?'. Ele agarrou no meu pescoço: 'Quero!'. Fui até Minas Gerais para procurar histórias de fantasmas. Dávamos traço de audiência, no dia seguinte subimos para 4 pontos. Depois, chegamos a 14.
Quando chegamos à Record, nem tínhamos telefone. O primeiro estúdio era muito pequeno, ia até minha família. O Eduardo Mascarenhas aparecia na recepção com alguns bonecos e eu o deixava entrar. O Ratinho me mandou não deixar o rapaz entrar porque o programa era 'sério' (risos). Falei para ele: 'Desculpe, mas o Ratinho não quer mais. Pode vir, mas sem bonecos'. Ele ficou triste, olhei para ele e pedi um rato com bigode, cassetete na mão e gravata. No dia seguinte, corri para a plateia, peguei o boneco e botei na cara do Ratinho: 'Ele fez você!'. O Ratinho se apaixonou e já abriu o programa mostrando o boneco.
O Mascarenhas diz que ele criou o boneco, mas foi pedido meu e quem confeccionou foi a sua tia. Ele é um Pinóquio manipulando um rato.
No Ratinho Livre, criei o quadro do teste de DNA. Um dia, contei a história de um presidiário que teve um filho mas não acreditava que era dele e matou a criança quando saiu da cadeia. Liguei para os maiores laboratórios de teste de DNA, que na época custavam R$ 70 mil, e falei: 'Fui produtor do Gil Gomes, vi muito crime na minha vida', desabafei. E me deram um teste. Depois, ganhamos patrocínios.
Quando saí do programa, o Ratinho ameaçou mandar toda a minha equipe embora e disse que tiraria tudo que era meu: DNA, Xaropinho, Caroço e Azeitona, Sombra. Eu já tinha dado um ultimato, mas ele achou que eu jamais o deixaria, tanto que ele chorou para mim no telefone quando assinei com o SBT. Falou que eu era como um irmão para ele e pediu para eu voltar para a Record. No dia seguinte, o diretor artístico, Eduardo Lafon, pediu para eu continuar. Concordei, desde que não fosse com Ratinho. Comecei como amigo dele, quando larguei o Russomanno para fazer produção em São Paulo. Ele não estava cumprindo com algumas coisas. Era grana mesmo".
"Encontrei o Cláudio durante uma reportagem. Uma mulher com ciúme enfiou uma chave de fenda de 20 centímetros na garganta dele enquanto dormia. Fiz o convite para ele fazer o programa de televisão. Levei na Record. No primeiro dia, o irmão dele nos ameaçou de processo pensando que o trataríamos como uma aberração. No outro dia, o bispo Edir Macedo questionou: 'Que história é essa de ET na minha televisão?'. Expliquei: 'Senhor Edir, esse rapaz é armênio, estudado, de classe média, mora em Osasco e é muito querido por todos. Vamos fazer uma brincadeira e tirá-lo de uma caixa como se eu fosse um cientista'.
Depois, foi o Ratinho que não queria por causa do caso do Latininho, do Faustão [o Domingão ridicularizou um rapaz com deficiência física e mental]. Falei: 'Já coloquei no seu programa homem grávido, hermafrodita. Sabemos como fazer, não exploramos'. No outro dia, foram os advogados da empresa da qual peguei a caixa para esconder o ET tentaram impedir. Tampei a marca.
Criei o ET como se fosse o garçom chileno do Jô Soares. O terninho era a única fantasia disponível na Record. Ele seria mandado embora um mês depois, porque não teria mais função".
"Dei muita audiência no Gugu não só com o ET, mas com os quadros que criei. "Acorda Silvio Santos" foi o primeiro. 'Por que a gente não acorda o Silvio Santos?'. O diretor, Magrão, disse que o Silvio nunca dá entrevistas. Insisti: 'Vamos fingir? Alugue uma mansão com peruca e dentadura lá dentro e a gente tenta invadir, mas sempre dá errado'.
Silvio Santos dava ideias para o quadro. Ele adorava, porque a gente o chamava de banguela, careca, de tudo quanto é nome. Eu sugeri que tivesse alguém do SBT na cama dele, como o Liminha, o Celso Portiolli.
Fui o primeiro a colocar vídeos da internet na TV. Não queria videocassetadas, queria material inédito, coisas engraçadas sem pessoas caindo. Na época, as pessoas enviavam por e-mail. Fui acusado por um jornal de exibir vídeos sem direitos e senti medo de ser processado pela primeira vez na vida. Pensei que iria perder o emprego.
Fiquei dez anos sem o ET. Em 2001, houve uma demissão de cerca de 400 profissionais, e todos que recebiam mais de R$ 20 mil seriam mandados embora. Ele ganhava o dobro de mim porque era contratado como artista e eu, como jornalista.
Na Record, fiquei três meses com o Gugu. Falaram que não deu a mesma audiência, mas é mentira. Saí porque depois de três meses não me registraram. Eu tinha um processo trabalhista em andamento e não podia trabalhar sem registro".
"Na época do Aqui Agora, cheguei a ser chamado para trabalhar como pauteiro do SPTV, mas não foi contratado. Quando levaram Serginho Groisman e Ana Maria Braga, meu empresário estava negociando, mas não fui. Na terceira vez, o diretor Roberto Talma (1949-2015) marcou um jantar comigo para negociar um programa aos domingos, antes do Faustão e sem o ET. Gugu triplicou meu salário para ficar no SBT. Recusei a proposta e ouvi: 'Você está dizendo não para a Globo?'. Eu me arrependi. A Globo gosta de criar. Só estão no ar coisas antigas porque ninguém cria mais. Sou de Osasco como o Boni. Brinco que o Boni incorpora em mim mesmo em vida. A TV precisa de atrações novas. Os diretores criam para eles e se esquecem do público".
"Já recebi dois convites para voltar à televisão. Estou quieto na minha casa. Não estava pensando em voltar para a TV. Meu amigo, meu vizinho [Gugu] faz muita falta para mim. Muita mesmo. Passei a quarentena em Minas Gerais, em fevereiro. Sinto muita falta do meu vizinho, por isso fiquei sem ver televisão até semana passada.
Ainda tenho como colaborar com a televisão. Não senti falta porque a morte do Gugu me abalou muito. Fiquei com raiva quando ele morreu. Tive que me tratar, tomei remédios. Fui diagnosticado com fobia. Quando começou a pandemia, não me preocupei muito porque já estava confinado havia muito tempo. Ainda tento assimilar algumas coisas".
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