Publicado em 05/10/2020 às 10:51:39
Imagine só a seguinte situação: você faz um trabalho e essa produção simplesmente fecha a empresa onde você trabalha. 22 anos depois, você ainda luta para receber o que lhe é de direito e nada mais que isso. É esse o drama do elenco da novela Brida, produzida em 1998 pela extinta Rede Manchete e que foi a pá de cal para a emissora carioca sair do ar. Com diversos processos, a protagonista Carolina Kasting e outros atores da produção sequer conseguiram receber os valores. A mais próxima disso é Carolina, que decidiu processar a RedeTV!, sucessora da Manchete na TV, e que conseguiu ganho de causa.
O NaTelinha monitorou esses processos durante os últimos meses. O principal deles é o da protagonista, que entrou na 22ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro para conseguir receber seus salários pela novela dirigida por Walter Avancini, em 30 de outubro de 1998 - uma semana depois do fim abrupto de Brida, que teve gravações paralisadas e um final narrado no improviso. Em 1999, Carolina Kasting mudou esse processo individual, que passou a ser direcionado para Amilcare Dallevo Jr, dono da RedeTV!. A movimentação processual segue até hoje entre embargos pedidos pela RedeTV! e notificações entre as partes.
Em todas as instâncias, a atriz teve ganho de causa mesmo que a emissora de Osasco não tenha sido considerada sucessora da Manchete pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). A alegação da defesa de Carolina é que a RedeTV! chegou a comandar, por curto período, a Manchete - depois mudando seu nome para TV! em período de transição. A RedeTV! presta a mesma alegação: o STJ, o principal órgão da Justiça brasileira, já disse que não são a mesma empresa e que não há sucessão.
Em agosto de 2019, a Justiça intimou a RedeTV! com uma "carta precatória executória para penhora e avaliação em face dos bens da ré", segundo documento obtido pela reportagem. Ou seja, a Justiça mandou avaliar e penhorar bens da emissora de Osasco para abater a dívida de Carolina Kasting com a Bloch Som & Imagem, empresa do Grupo Bloch que produziu Brida para a Manchete, até a execução do valor, que foi mantido em segredo.
A última movimentação processual ocorreu em julho deste ano. Mais uma vez, a RedeTV! pediu esclarcimentos sobre o processo e a condenação por abatimento da dívida com Carolina Kasting, e a Justiça negou. A última intimação para Amilcare Dallevo para o cumprimento da sentença foi feita no mesmo mês, mas ainda não há informação se o valor e a penhora já foi executivada na RedeTV! ou não. Além disso, o NaTelinha também soube que, por causa da situação e da disputa judicial, entrevistas e pautas envolvendo a atriz, hoje em Salve-Se Quem Puder, na Globo, estão vetadas.
Até os dias de hoje, Carolina Kasting falou pouco sobre sua participação em Brida, da Manchete. De 1998 para cá, a única fala pública dela sobre o assunto foi um elogio ao diretor Walter Avancini, em entrevista ao jornal Extra, em 2013. Nessa conversa, Kasting também disse que não ficou frustrada com o fato de sua primeira protagonista na TV ter sido numa produção tão problemática. "Não [fiquei frustrada]. Tive o privilégio de trabalhar com um dos maiores diretores da TV brasileira, Walter Avancini", afirmou a atriz.
Desde a última quarta-feira (30), o NaTelinha tenta contato com a assessoria de Carolina Kasting para falar sobre o assunto, mas não obteve retorno. Caso haja resposta, a reportagem será atualizada. A reportagem também procurou a RedeTV! e aguarda uma posição.
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Além do processo individual de Carolina Kasting, uma ação coletiva de atores que fizeram parte da produção também corre na Justiça contra a Bloch Som & Imagem. Entre os participantes, estão o ator Leonardo Vieira, a atriz Guilhermina Guinle e a autora Manuela Dias, que fez parte do elenco da novela como atriz e hoje escreve Amor de Mãe na Globo. O espólio do ator Rubens de Falco, que faleceu em 2008, também está como parte interessada.
Esse processo está parado desde 2017, sem novidades, porque as penhoras da Massa Falida da Manchete não conseguiram levantar fundos para pagar os valores determinados pela Justiça. O caso mais grave nesse caso é o da atriz Bete Mendes. Como parte do elenco de Brida, Bete chegou a ser intimada para receber pelo trabalho, mas por duas vezes, não houve crédito para o pagamento. Muita gente desistiu dessa ação coletiva, também entrada na Justiça em outubro de 1998, por causa da demora.
Se a insistência é uma qualidade, quem conseguiu vencer a batalha foi o ator Jayme Periard. Contratado pela emissora entre 1996 e 1998, atuando em Xica da Silva e Mandacaru, Periard conseguiu receber neste ano os valores devidos pela Manchete por direitos trabalhistas, além de valores conexos por vendas das novelas ao exterior. O processo corria desde fevereiro de 1999 - ou seja, mais de 21 anos após o seu início, o que mostra a lentidão da Justiça trabalhista no Brasil.
Brida foi baseada no best-seller de Paulo Coelho, e um de seus livros mais vendidos. O consagrado autor liberou os direitos da trama por conta da amizade que tinha com Walter Avancini, diretor de dramaturgia da Manchete na época. Mesmo em dificuldades financeiras, a Manchete foi faraônica com Brida, tamanha a aposta em seu sucesso. Bancou uma viagem para Irlanda, com 18 pessoas na equipe entre atores e produção, para gravações do passado da personagem-título. Essas gravações foram exibidas apenas por 12 minutos no primeiro capítulo, o que gerou críticas na ocasião.
O contrato com os patrocinadores era de risco. Se não desse pelo menos 5 pontos, os comerciais não seriam compensados financeiramente para a Manchete. Ou seja, eles seriam veiculados de graça nos intervalos de Brida. Em época de crise, como aquela, contratos de risco eram normais na TV, mas foi um suicídio para a emissora. Brida estreou no dia 11 de agosto de 1998. O Ibope? 5 pontos de média na Grande São Paulo. Mas daí foi ladeira abaixo.
Sem passar da casa dos 3 pontos, e em muitos dias dando apenas 1, Walter Avancini tentou salvar a produção. Já no capítulo 14, ele mudou o roteiro. Saiu Jayme Camargo e entrou Sônia Mota e Angélica Lopes. A justificativa era transformar a trama em algo mais próximo do universo feminino.
Além disso, entre 17 de agosto e 11 de setembro, Brida era exibida em dois horários, às 19h e às 22h. Em nenhum dos dois, deu audiência. Mas além de não dar Ibope, Brida não dava retorno financeiro. E sem dinheiro para tocar o barco, a Manchete não tinha nem mesmo como pagar os atores. No dia 15 de outubro, os estúdios onde as gravações ocorriam foram desativados. No dia 20, aconteceu o processo coletivo de 30 atores e diretores. Três dias depois, o último capítulo da novela, narrado às pressas pelo locutor Eloy de Castro, foi exibido - o elenco se recusou a gravar um final corrido por ter notado que sequer receberam por qualquer mês de trabalho desde que a novela estreou.
No lugar de Brida, entrou a reprise de "Pantanal", o maior sucesso da Manchete, produzida em 90. Em maio de 1999, o canal fechou. Mesmo um fracasso, hoje Brida é lembrada nas redes sociais por causa do final inusitado. Para quem fez parte de sua produção, virou uma grande dor de cabeça - e quase eterna - para lutar pelo que merecem receber.
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